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Este Porsche 911 Turbo 1976 foi o último carro do lendário Steve McQueen

Steve McQueen é uma verdadeira lenda entre entusiastas do mundo todo, e não é para menos: ele não foi apenas o protagonista de filmes cultuados entre os fãs de carros, como “Bullit” (1968) e “As 24 Horas de Le Mans” (1971), como também era um verdadeiro gearhead, que gostava de verdade de carros e corridas. McQueen chegou a competir de verdade, como no Campeonato Britânico de Turismo (o BTCC) em 1961, com um Mini Cooper; e nas 12 Horas de Sebring em 1970, quando venceu na categoria até três litros revezando com Peter Revson ao volante de um Porsche 908 — com a perna esquerda engessada depois de um acidente de moto apenas duas semanas antes!

Ou seja: quando dizem que Steve McQueen costumava, em diversas cenas, dispensar os dublês de piloto e realizar as manobras sozinho, pode ter certeza de que ele sabia o que estava fazendo. E isto significa, obviamente, que fora das telas e das pistas de corrida Steve McQueen também passava bastante tempo ao volante de seus automóveis, para os quais tinha extremo bom gosto: ele teve um Jaguar XKSS (leia mais aqui), um Ford GT40, um Porsche 356 Speedster e até o Porsche 917, o 908 e a Ferrari 512 usados no filme “As 24 Horas de Le Mans”; além de tentar muitas vezes, sempre em vão, adquirir um dos Mustang 1968 usados em “Bullitt”.

Hoje, porém, vamos falar do último carro que Steve McQueen comprou em sua vida: este Porsche 911 Turbo cinza “Slate Grey”, fabricado em 1976.

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Não precisamos dizer que McQueen era fã dos carros da Porsche depois das últimas linhas, e o 911 Turbo era o melhor Porsche que se podia comprar em 1976. Lançado um ano antes como especial de homologação para o Porsche 934, que competiu no circuito europeu de turismo, o 911 Turbo (conhecido também como 930) era dotado de flat-6 de três litros que, com turbocompressor, entregava 264 cv e era capaz de chegar aos 100 km/h em 6,1 segundos, com máxima de 246 km/h — o Porsche de rua mais veloz do mundo na época.

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Em 1978 o Porsche 911 Turbo recebeu uma atualização que incluiu pequenas (pequenas mesmo) alterações estéticas na carroceria e no painel, a adoção de um intercooler e a ampliação no deslocamento do motor de três para 3,3 litros. Com 300 cv o 930 ficou ainda mais veloz, além de receber freios maiores, vindos diretamente do Porsche 917.

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Contudo, os modelos anteriores são considerados pelos aficionados como os mais selvagens — o turbo lag é inevitável — quando a turbina finalmente entra em ação, é de uma vez, como um soco no estômago — e os freios são apenas aceitáveis. Talvez fosse por isso que Steve McQueen gostava tanto do seu, como seu filho, Chad McQueen — que também é ator, produtor de cinema, artista marcial e piloto de corridas — lembra no belo vídeo abaixo.

Chad McQueen conta que o pai gostava de pilotar em vias públicas de forma bem… empolgada, a ponto de realizar uma pequena modificação: o painel era equipado com um botão que desligava todas as luzes na traseira. Desse modo, caso alguém (como a polícia) o seguisse durante um de seus passeios noturnos, ficaria mais difícil que registrassem sua placa. McQueen também instalou rodas Fuchs mais largas — de 7” e 8” para 8” e 9” (frente e traseira, respectivamente).

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Chad McQueen também teve seus momentos “heróicos” ao volante do Porsche: quando ele tinha 15 anos, seu pai saiu em viagem por uma semana. Chad aproveitou para, todos os dias (às vezes até duas vezes por dia), ir sorrateiramente até a garagem, descer o carro de lá silenciosamente e dar seus próprios passeios. A governanta da casa, naturalmente, ligou para Steve e dedurou a travessura do rapaz. No último dia da viagem, McQueen deu um telefonema ao filho dizendo que ficaria fora de casa por mais dois dias. Era mentira — quando Chad decidiu dar mais uma volta, viu um táxi vindo na direção oposta.

Dentro daquele táxi eu vi os maiores olhos azuis do mundo me encarando. Era meu pai, voltando para casa. Eu não sabia se fugia para o México ou sei lá, mas acabei descobrindo o que acontece quando você solta o acelerador em uma curva com um Porsche 911 Turbo; era tipo, ‘P*TA M*RDA!'”

Antes de morrer em 1980, depois de lutar contra um câncer nos pulmões descoberto um ano antes, McQueen ainda curtiu o carro por alguns anos antes de vendê-lo a uma concessionária Porsche da região. Nos anos seguintes o carro passou por um punhado de mãos de produtores e atores de Hollywood, e jamais saiu da região sul da Califórnia.

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Um de seus últimos donos, um homem chamado Bill Susdorf, restaurou o carro totalmente no início dos anos 90 e fez questão de documentar todo o processo e manter anotados todos os serviços feitos. Contudo, nota-se que o carro não é uma garage queen — o motor não está impecavelmente limpo e há algumas marcas do tempo na pintura e no interior.

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Nada disso, porém, impede que as estimativas para o valor de arremate sejam bem altas. E há uma boa razão para isto: em 2011, outro Porsche 911 que pertenceu a Steve McQueen (e também era cinza) foi leiloado e vendido por nada menos que US$ 1,375 milhão — o equivalente a cerca de US$ 1,47 milhão, ou R$ 4,5 milhões sem impostos, em dinheiro de hoje. É preciso levar em consideração, claro, que foi exatamente o mesmo Porsche 911 usado na sequência inicial de “As 24 Horas de Le Mans”…

De qualquer forma, estamos falando do último carro que Steve McQueen adquiriu em vida, e por isso não temos motivos para acreditar que o 911 Turbo será arrematado por muito menos quando for leiloado em Monterey, na Califórnia, em um evento que acontecerá entre os dias 13 e 15 de agosto. Até porque a causa é nobre: parte do dinheiro arrecadado será destinada à organização Boys Republic, uma escola para adolescentes problemáticos fundada na Califórnia em 1907 que foi a casa de Steve McQueen entre 1944 e 1946. McQueen não conheceu o pai, que abandonou sua mãe seis meses depois de conhecê-la, e foi criado pelos avós. Não surpreende que o jovem McQueen tenha se metido em confusão, como roubos e furtos, antes de ser mandado para a Boys Republic.

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Steve McQueen em visita à Boys Republic

Ao longo de sua vida, Steve McQueen sempre fez questão de afirmar que foi a organização que deu um rumo a sua vida e o livrou de causar ainda mais problemas. Tanto é que, depois de ficar famoso, o astro foi presidente honorário da Boys Republic, sempre ajudou a organização com doações em dinheiro e fazia visitas frequentes aos jovens que lá moravam. Sendo assim, nada mais justo que Steve McQueen ajude a instituição mais uma vez, mesmo 35 anos depois de sua morte.

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