Quem vai comprar um carro de luxo extremo – digamos, um Rolls-Royce Phantom –, a ficha técnica é quase um detalhe. Antigamente, a Rolls-Royce sequer divulgava a potência de seus motores, limitando-se a dizer que o motor entregava “o suficiente”. Até porque este tipo de coisa costuma interessar mais ao chauffeur do que ao dono do carro, que normalmente fica sentado lá atrás, curtindo o conforto da cabine. E, claro, aos jornalistas automotivos, que sempre sofreram para encontrar as especificações dos Rolls-Royce.
A última geração do Rolls-Royce Phantom, por exemplo, era movido pelo BMW N73, um V12 feito de alumínio e ferro fundido com comando duplo variável nos cabeçotes, quatro válvulas por cilindro, sistema Valvetronic (que alterava o levante das válvulas de admissão) e o primeiro sistema de injeção direta aplicado a um V12 produzido em série. Era um belo motor, que em sua versão de seis litros movia o BMW Série 7 entre 2003 e 2008; enquanto o Rolls-Royce Phantom usou uma versão de 6,75 litros entre 2003 e 2016. Em ambos os casos, a potência era de cerca de 450 cv. De fato, suficiente.
Mas não é um motor perfeito (como nada neste mundo é, na verdade), que também está sujeito a problemas sérios. Foi o que aconteceu com o carro de um entusiasta japonês chamado Abe Neno, que comprou seu Rolls-Royce Phanton zero-quilômetro em 2008 como carro de uso diário. Sem chauffeur.
Abe levava seus amigos para o rolê no banco de trás, ia trabalhar com o carro, fazia viagens com ele e tudo o mais. Só por isto o cara já merece nossa admiração. E foi assim por oito anos – até que, em outubro de 2016, o sistema de arrefecimento do carro perdeu todo o fluido e o motor fundiu. Simples (e desesperador) assim. O hodômetro marcava exatamente 181.987 km.
O que fazer, então? Abe entrou em contato com a Rolls-Royce do Japão, e a empresa disse que ficaria feliz em substituir o motor de seu Phantom… depois de uma fila de espera de dois anos. Pois é, ninguém está livre deste tipo de coisa. Nem o dono de um Roller.
Decidido a não ficar dois anos esperando um motor, Abe tomou uma decisão radical: um engine swap com um Toyota 2JZ dual charged. Sim, o seis-em-linha de três litros do Toyota Supra, montado por uma preparadora japonesa não revelada e sobrealimentado com um turbo e um supercharger. Ao mesmo tempo!
Você provavelmente já sabe que, de fábrica, o motor 2JZ biturbo do Supra entregava algo entre 280 cv e 330 cv, dependendo da versão. Por mais que fosse potência suficiente para garantir desempenho matador ao Supra (os últimos modelos, de 2002, chegavam aos 100 km/h em 4,6 segundos e tinham velocidade máxima limitada eletronicamente em 250 km/h), um cupê relativamente compacto que pesava 1.500 kg, definitivamente não era “o suficiente” a que a Rolls-Royce se referia antigamente. Um Phantom 2008 pesa, original de fábrica, pelo menos 2.500 kg. Uma tonelada inteira a mais!
O motor recebeu um turbocompressor GReddy Trust T78 operando a 1,6 bar, mais um supercharger HKS GT8555. O sistema atua de forma sequencial – primeiro o supercharger, para fornecer torque em baixa, e depois o turbo, para garantir potência em giro mais alto. Tudo é controlado por um módulo HKS F-CON V Pro que, neste exato momento, está sendo reprogramado para aumentar a pressão para 2 bar. Atualmente o carro está com cerca de 600 cv. A nova programação deverá elevar este número para mais de 900 cv.
A força do motor é levada para as rodas traseiras através do câmbio automático de quatro marchas com overdrive de um Toyota Aristo. A alavanca de câmbio do sedã foi transplantada para o console central e destoa bastante do restante do interior, com seu plástico barato rodeado de couro e madeira de lei.
O interior também recebeu mostradores aftermarket digitais que ficam atrás do volante e parecem quase alienígenas em um Rolls-Royce: um medidor de pressão Défi à esquerda e um mini-painel digital multifuncional Advance GD, verdadeiro responsável por mostrar a quantas anda o motor de Supra. Repare que o interior do carro está meio gasto – não há dúvida de que é um daily driver.
O carro trocou o sistema de suspensão a ar com bolsas hidropneumáticas por um jogo de molas e amortecedores ajustáveis Öhlins. A geometria da suspensão foi retrabalhada para o novo padrão de desempenho.
O Rolls-Royce ficou conhecido depois que algumas destas fotos circularam pelo Twitter, e mais detalhes a respeito de sua ficha técnica ainda são escassos. Contudo, o emblema no console central dá a pista: Top Secret. Teria sido este Phantom preparado pela lendária oficina de Smokey Nagata, o ex-piloto de rua que foi banido do Reino Unido por passar dos 300 km/h em vias públicas? Certamente a resposta para esta pergunta não vai demorar para vir à tona.