Atualmente, o carro mais veloz já feito pelo ser humano é o Thrust SSC, um protótipo com motor turbojato que, em 15 de outubro de 1997, chegou a uma velocidade média de 1.227,986 km/h – e ainda não foi superado por nenhum outro carro.
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Se formos considerar o veículo mais rápido já construído pelo homem, sem nos restringirmos a veículos terrestres, os números sobem bastante. A aeronave tripulada mais veloz já feita é o avião hipersônico North American X‑15A‑2, que é movido por motores de foguete e já alcançou os 7.270 km/h.
Entre as aeronaves não-tripuladas, a mais rápida é o drone Hypersonic Technology Vehicle HTV-2, financiado pelo governo dos Estados Unidos que, durante os primeiros testes realizados em 2011, conseguiu passar dos 21.000 km/h. O objetivo é criar uma aeronave capaz de deixar os EUA e bombardear qualquer lugar do planeta em no máximo uma hora.
Mas nenhum destes veículos é o mais rápido já feito pelo homem. Este título, naturalmente, fica com os veículos espaciais, e o aumento da velocidade é exponencial.
Se considerarmos os veículos tripulados, a espaçonave mais rápida de todas foi o módulo de comando e operação (CSM) da missão Apollo 10: depois de oito dias no espaço, os astronautas Thomas Stafford, John Young e Eugene Cernan retornaram à Terra e, no momento em que entraram na atmosfera, estavam a 39.897 km/h – a maior velocidade já atingida por seres humanos em relação ao nosso planeta.
Se considerarmos também veículos não tripulados, a maior velocidade atingida por um veículo lançado pelos seres humanos em direção ao espaço foi de 58.536 km/h – foi esta a velocidade atingida pela sonda New Horizons, lançada ao espaço em 19 janeiro de 2006 com a missão de deixar o sistema solar. Oficialmente, a New Horizons é o objeto mais veloz já lançado pelo homem ao espaço.
Agora, todos estes veículos ficam na poeira se comparados a uma tampa de bueiro que os Estados Unidos lançaram ao espaço usando uma bomba nuclear em 1957.
De acordo com um dos dois cientistas envolvidos no experimento, é bem provável que ela tenha deixado o campo gravitacional do globo terrestre a impressionantes 201.000 km/h – quase cinco vezes a velocidade de escape da Terra, que é de cerca de 40,270 km/h. Mas… como isto aconteceu? Ou melhor: aconteceu mesmo?
Como dissemos, um dos cientistas envolvidos no projeto disse que sim, aconteceu, em uma entrevista ao site americano Tech Insider. É uma boa história.
Antes de qualquer coisa, é preciso falar de testes nucleares. Entre 1945 e 1992 o governo dos Estados Unidos realizou um total de 1.054 testes com bombas nucleares. Até o começo da década de 1950, estes testes eram feitos ao ar livre, produzindo as famosas nuvens de fumaça e poeira em forma de cogumelo que hoje são instantaneamente associadas a explosões nucleares. Entretanto, por preocupação com a radiação que tais explosões poderiam lançar na atmosfera, os pesquisadores começaram a realizar testes subterrâneos.
Robert Brownlee era um destes pesquisadores, e ficou conhecido como “o pai dos testes nucleares subterrâneos”. Ele não teve a ideia de explodir bombas nucleares debaixo da terra, mas foi o encarregado de descobrir como realizá-los de forma a conter a radiação liberada nas explosões. E ele coordenou mais de 300 testes no subsolo do deserto de Mojave, ao noroeste de Las Vegas. O local onde os testes eram feitos ainda é cheio de crateras.
Cada um dos testes realizados recebia um apelido. Os que nos interessam foram os testes Pascal-A e Pascal-B, ambos feitos sob a supervisão de Brownlee e Bill Ogle, que era uma espécie de líder do projeto. O teste Pascal-A foi feito no dia 26 de julho de 1957, enquanto o Pascal-B foi realizado pouco mais de um mês depois, em 27 de agosto.
Ambos os testes aconteceram à noite, com as bombas nucleares debaixo da terra, em poços de 90 cm de diâmetro – não eram exatamente bueiros, para sermos honestos, mas os poços tinham tampas de ferro muito parecidas com as dos bueiros, com 10 cm de espessura e mais ou menos o mesmo peso e resistência. No teste Pascal A, o poço tinha 147 metros de profundidade, e a tampa do “bueiro” foi atirada a uma velocidade absurda – e nunca mais foi vista.
Brownlee ficou curioso para saber qual foi a velocidade atingida pela tampa e, no mês seguinte, tratou de filmar a explosão usando uma câmera capaz de gravar um quadro por milissegundo – ou seja, com taxa de 1.000 FPS. De acordo com os cálculos feitos a partir do vídeo, a onda de choque da explosão levava 31 milissegundos (ou 0,031 segundo) para ir da bomba no fundo do poço até a tampa, com força suficiente para arrancá-a. O poço era mais fundo do que no primeiro teste, com 152 metros. Analisando o restante da filmagem, Brownlee se deu conta de que a tampa só aparecia, parcialmente, em um dos frames. Calculando o tempo entre os frames – que Brownlee já não lembrava mais, de acordo com um artigo publicado por ele e em 2002 – ele chegou à conclusão de que a tampa estava a pelo menos cinco vezes a velocidade de escape do campo gravitacional do planeta Terra, ou seja, por volta de 201.000 km/h.
Aconteceu mesmo – Bill Ogle e Robert Brownlee trataram a história como anedota pelos anos seguintes, mas pelo visto era mesmo tudo verdade. Em um artigo do site Business Insider, Brownlee é citado dizendo “do meu ponto de vista, aconteceu mesmo”. Ele ainda afirmava que, com a velocidade calculada por ele, é extremamente provável que a tampa de bueiro tenha atravessado intacta a atmosfera terrestre, sem pegar fogo ou se desintegrar por conta do atrito.
E mais: para conseguir sair do sistema solar, um objeto lançado da Terra precisa estar a uma velocidade de pelo menos 151.000 km/h. E esta velocidade diminui à medida em que o objeto se afasta. Ou seja, se a tampa de fato saiu da influência gravitacional do nosso planeta a mais de 200.000 km/h, há uma chance de ela ainda estar vagando pelo espaço sideral neste instante. Não é possível confirmar este fato – e também não se pode mais discutir o assunto com Brownlee, que morreu em maio de 2018 aos 94 anos de idade.
Em uma última observação, o ser humano já conseguiu provocar velocidades ainda maiores. O LHD (Large Hadron Collider), maior acelerador de partículas do planeta, localizado na fronteira entre a França e a Suíça, atualmente tem 13 TeV (trilhões de elétron-volts) de potência – ou seja, o equivalente a 1.602 177 33 (49) x 10-19 joules.
Na prática, isto quer dizer que os átomos dentro dele se movem a 1.079.252.838 km/h. Isto é 99,999999% da velocidade da luz. E por ação humana – ainda que, tecnicamente, não sejam objetos feitos pelo homem.