Você já deve ter percebido uma tendência nos últimos tempos: muitas fabricantes estão inaugurando programas de restauração in house para seus clássicos. Elas garimpam exemplares com potencial, restauram da forma mais fiel e caprichada posssível, e depois os revendem. A mais recente adição a este grupo é a FCA, que inaugurou na última edição do Retromobile, evento de clássicos em Paris, o programa Reloaded by Creators para modelos da Fiat, Abarth, Alfa Romeo e Lancia.
Este tipo de iniciativa pode até ser uma forma de capitalizar a atual demanda por clássicos, especialmente dos anos 60 e 70, mas tem seu lado bom. Cada fabricante que resolve recomprar seus próprios carros e colocar um time de profissionais altamente capacitados para trazê-los de volta a sua forma original está contribuindo para preservar a história. E não apenas a sua, mas também a história da indústria automobilística mundial como um todo. É claro que eles quase sempre custam os olhos da cara, mas para quem realmente se interessa por um carro assim, isto não passa de um detalhe. Afinal, paga-se mais pela garantia de um serviço feito por quem mais entende daquele modelo em específico.
É como uma forma de voltar no tempo, comprando carros clássicos reconstruídos com técnicas atuais, porém nas especificações originais.
No caso da FCA, o foco são os clássicos do lado italiano da empresa, com toda a passione envolvida. Alguns dos carros são escolhidos a dedo, comprados de volta depois de décadas. Outros são carros do acervo da própria FCA. O que todos tem em comum: eles são recuperados por um time de pesquisadores, historiadores, artesãos e mecânicos.
Até agora há cinco carros à venda: um Alfa Romeo Spider 1991, um Fiat 124 Pininfarina Spidereuropa, um Alfa Romeo SZ, um Lancia Appia Coupe e um Lancia Fulvia Coupé Montecarlo. Está bom para você? Eles foram finalizados para inaugurar o programa Reloaded by Creators (algo com “Recriados pelos Criadores”, em uma tradução livre), e são todos significativos para a história do lado italiano da FCA.
O Alfa Romeo Spider, por exemplo, é um representante da quarta fase do modelo, que foi produzido em uma única geração entre 1966 e 1993 (com alguns exemplares feitos em 1994 para o mercado norte-americano). Seu desenho mistura as linhas clássicas da década de 60 com elementos mais modernos, como para-choques envolventes na cor da carroceria, rodas maiores e lanternas traseiras parecidas com as do Alfa Romeo 164. Lançado em 1990 como modelo 1991, o Alfa Romeo Spider “Type 4” era movido por um motor 2.0 com comando duplo no cabeçote e, pela primeira vez na história do modelo, equipado com ignição e injeção eletrônica, permitindo até mesmo o diagnóstico eletrônico do motor com um leitor OBD.
O carro em questão sempre pertenceu à FCA e, de acordo com a FCA Heritage, sempre foi usado para “testes técnicos” e como cobaia para novas cores. Assim como o outro Alfa Romeo do lote: um exemplar pré-produção do cupê Sprint Zagato, ou apenas SZ.
O esportivo feito com base no Alfa Romeo 75 (que foi o último Alfa com transeixo, é um carro de proporções estranhas, carroceria com gaps monstruosos entre os painéis e visual geral que divide opiniões: pode não ser bonito no sentido tradicional da palavra, mas tem seu charme oitentista que agrada a cada vez mais gente graças à onda retrô que se instalou nos últimos anos.
O carro restaurado e vendido pela FCA foi o último exemplar pré-produção e, segundo a companhia, tem diferenças suficientes em relação ao modelo final (que teve cerca de 1.000 exemplares fabricados) para ser considerado um protótipo. E ele é um carro importante: foi o exemplar Alfa Romeo realizou testes de engenharia, e também nas apresentações à imprensa e fotos de divulgação.
A carroceria de fibra de vidro (que ao menos é livre de ferrugem!) foi desmontada, lixada, recuperada e repintada. O motor V6 de três litros e 207 cv, capaz de levar o carro até os 245 km/h, foi completamente refeito e acertado. O interior foi restaurado com o máximo de atenção à originalidade, e os pneus são novos.
O modelo seguinte é o lendário Lancia Fulvia Coupé, um parente do campeão internacional de rali dos anos 1970.
O Lancia Fulvia Montecarlo traz a raríssima cor azul e um motor V4 de 1,6 litro e 90 cv. A versão Montecarlo foi uma homenagem à vitória do Lancia Fulvia no Rali Montecarlo de 1972, e este exemplar foi entregue à concessionária da marca em Nápoles no dia 19 de abril de 1973.
O Lancia Appia Coupe, por sua vez, foi fabricado em 1959 e também é movido por um motor V4, porém com 1.089 cm³ e 53 cv.
O desenho da carroceria é assinado pelo estúdio Pininfarina, e foram feitos 1.087 exemplares entre 1957 e 1963.
O Fiat 124 Spidereuropa também foi desenhado pela Pininfarina. Como contamos neste post, o roadster baseado no Fiat 124 foi lançado em 1966, e foi muito bem sucedido, sendo vendido na Europa até 1975 e continuando sua carreira nos Estados Unidos até 1985.
Nos anos 80 a versão especial Spidereuropa voltou a ser comercializada no Velho Continente, e este exemplar de 1981 sempre pertenceu à Fiat. Apesar de ter apenas 10.000 km marcados no hodômetro, o carro passou pela mesma restauração meticulosa, incluindo carroceria, interior e o motor 2.0 de 105 cv, capaz de levar o conversível até os 180 km/h.
Os preços não foram revelados, e para comprar qualquer um deles é preciso preencher um formulário no site da FCA Heritage. A companhia diz que os lucros serão revertidos para a própria divisão histórica, financiando a compra e a restauração de mais carros clássicos para o acervo. Qual deles você levaria para casa?