Foto: Daniel Vaughn
Há alguns dias, conversando com um leitor sobre as diferenças entre a versão americana e a versão italiana da Ferrari F40, notei que havia poucas fontes confiáveis sobre as especificações de fábrica de cada modelo. As informações eram todas baseadas em “especialistas na marca”, em sites de fichas técnicas e reproduções de tópicos de fóruns de internet. Ma che cazzo! Onde vou encontrar os dados confiáveis e precisos sobre os modelos diferentes da F40?
Simples. No melhor lugar para se encontrar informações sobre um carro: o manual do proprietário da Ferrari F40. Com o manual em mãos (na verdade, em tela, porque é um scan do livreto) pude comparar as principais diferenças entre os dois modelos e até derrubando alguns mitos.
Os manuais são estes dois amarelinhos. A foto é meramente ilustrativa. Infelizmente.
Começando pelo lado de fora, temos as diferenças mais evidentes entre os dois modelos. Graças à legislação americana, a F40 vendida na América do Norte tem protetores de borracha no para-choques para resistir a impactos de até 5 mph (8 km/h), uma exigência da época que deixou todos os carros “US-spec” queixudos (como explicamos neste post).
Fotos: Tom Hardley
Por conta dos para-choques diferentes, a posição de encaixe do gancho de reboque também é diferente. Na europeia ele fica exposto, um ponto preto no para-choque dianteiro, enquanto a americana esconde o orifício na grade dianteira:
Além dos para-choques diferentes, a F40 americana também tem luzes de posição integradas no filete do para-choques dianteiro e na lateral traseira…
… e não tem as luzes traseiras de neblina como a versão europeia, e tem uma discreta terceira luz de freio abaixo da asa traseira.
Para ser homologada nos EUA, a F40 recebeu os para-choques feiosos e uma série de reforços estruturais que a deixaram mais pesada. Quanto? Há quem diga que ela pesa 1.350 kg “seca” (ou seja, sem fluidos), mas o manual confirma que este é o peso em ordem de marcha (com todos os fluidos e 50% do tanque de combustível. Este, aliás, era menor na versão americana: 100 litros vs. 120 litros da versão europeia.
Os reforços estruturais podem ser vistos parcialmente nesta imagem abaixo:
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Tratam-se dos suportes do para-choques traseiro, que é integrado ao subchassi na versão americana (para suportar impactos de até 5 mph) e amarrado por tubos de alumínio na versão europeia:
Acima a europeia, embaixo a americana
Entrando no carro as diferenças começam pelos bancos: nos dois modelos eles são esportivos, envolventes, feitos de kevlar e revestidos de nomex. Nas duas versões eles eram oferecidos em dois tamanhos diferentes, mas na versão americana o encosto é mais estreito, sem os apoios superiores para os ombros:
Bancos europeus em cima, americanos embaixo
O motivo era o sistema de cinto automático, que corria pelo arco do teto, muito comum nos modelos americanos dos anos 1990:
O painel da versão americana também era ligeiramente diferente. Ele tinha um acabamento revestido na parte inferior, que envolvia as saídas de ar condicionado e ajudava a esconder parte da coluna de direção e dos chicotes que normalmente ficam expostos sob o painel:
Agora o ponto mais polêmico: o conjunto mecânico e o desempenho. Suspensão, direção, freios e embreagem são idênticos nos dois carros. As coisas começam a mudar no sistema de alimentação. Além dos tanques de combustível com volumes diferentes (100 litros na F40 americana e 120 litros na F40 europeia), no modelo europeu as bombas de combustível são externas, posicionadas na parte central do carro, enquanto o americano usa bombas submersas no tanque:
Depois há diferenças no tempo de abertura das válvulas — o que significa que os comandos são diferentes. No modelo americano as válvulas de admissão são abertas 12 graus antes do ponto morto superior, e fecham-se 52 graus depois do ponto morto inferior. Na europeia tudo acontece quatro graus mais cedo: abrem a 16 graus do ponto morto superior e fecham 48 graus depois do ponto morto inferior. As válvulas de escape têm a mesma sincronização: abrem 54 graus antes do ponto morto inferior e fecham 10 graus depois do ponto morto superior.
O motivo é a presença do catalisador no escape da versão americana. A mudança do enquadramento visa compensar a pressão de retorno causada pelo catalisador. Curiosamente, a potência é realmente mais elevada no modelo americano com catalisador, mas não chega aos 500 cv estimados por aí. A conta é bem mais conservadora: são 478 cv na versão europeia e 484 cv na versão americana. O torque máximo é menor e aparece em rotações mais altas: são 58,8 mkgf a 4.000 rpm na europeia vs. 58,6 mkgf a 4.500 na americana.
Por essas diferenças o motor do modelo americano é batizado como F120D, enquanto a variação europeia chama-se F120A.
O modelo americano ainda ganhou marchas mais curtas para manter o desempenho próximo de sua irmã europeia sem catalisador, mas com o torque máximo em rotações mais elevadas e os 115 kg a mais, a aceleração de zero a 100 km/h é feita em 4,8 segundos, de acordo com o manual, enquanto a europeia faz o mesmo em 4,1 segundos.
Acima a europeia, abaixo a americana
A velocidade máxima também é diferente: mesmo com a potência mais alta, o modelo americano é limitado pelo câmbio mais curto, e fica nos 313 km/h enquanto a europeia vai aos 324 km/h.
O catalisador também afeta o consumo de combustível: a F40 americana é mais econômica, segundo a Ferrari. Ela roda 5,6 km/l na cidade e 9,5 km/l na estrada, enquanto o modelo europeu roda 5,4 km/l em ciclo urbano e 9,7 km/l na estrada.
Com esse tira-teima trazido diretamente dos manuais de Maranello, encerramos nossa série de especiais sobre a Ferrari F40 e seus 30 anos de estrada. Mais adiante conheceremos os detalhes das outras Ferrari especiais: a 288 GTO, a F50, a Enzo e a 599 GTO com detalhes de seus manuais. Fique ligado!