Somos verdadeiramente fascinados pela cultura automotiva japonesa — foram dezenas de vezes que dissemos isso aqui no FlatOut. Na verdade, nem precisariamos falar: os caminhões decorados dekotora; as Dajibans, vans da Dodge com motores V8 preparados para competição, os mafiosos que andam pela noite com seus Lamborghini e Ferrari cheios de luzes de LED e envelopamentos vibrantes; os Porsche 911 anabolizados de Akira Nakai; os ilegais Kanjo Racers… poderíamos gastar mais uns dois ou três parágrafos só com esta lista.
E a gente nunca se cansa de ver mais a respeito — talvez por tudo estar tão longe, gostamos de ver fotos e vídeos, e de ler relatos de quem já viu aquilo de perto. Por isso gostamos tanto de pilotar esportivos japoneses virtuais nos games de corrida, sejam simuladores ou arcades. E é por isso que, mais uma vez, trazemos aqui a cobertura de um evento japonês.
Trata-se do Fresh Tokyo Meet, batizado no clássico “ingrês” falado no Japão: “Fresh Tokyo Meet” pode ser traduzido como “Encontro dos Descolados de Tóquio”, mas não há nada que indique se tratar de um encontro de carros entre estas três palavras. Mas a gente curte estas excentricidades dos japoneses…
Até porque o que importa, de verdade, é o evento. A premissa não podia ser mais simples: você tem um carro modificado bacana e está perto de onde o encontro será realizado? Pode colar, pois você será bem-vindo. Se você tem uma preparadora e quer mostrar seu trabalho, igualmente — mas estes são mais raros de aparecer.
Isto não é problema: como dissemos ali no título, trata-se de um encontro underground, feito em pareceria com clubes de entusiastas da cena tuning japonesa. E o mais bacana é que o evento acontece duas vezes por ano, normalmente em janeiro e julho, sempre em Odaiba, na capital do Japão.
Aliás, Odaiba merece um comentário à parte. Trata-se de um dos bairros mais interessantes da ilha, pois fica em uma ilha artificial construída, acredite, em meados do século 19. Na verdade a ilha foi formada por vários fortes construídos para proteger Tóquio de ataques de inimigos pelo mar.
Hoje, no entanto, este passado ficou mesmo na história: Odaiba é uma parte moderníssima da capital japonesa, conhecida por seus edifícios futuristas, atrações inspiradas pela cultura de entretenimento local (animes, mangás e games, principalmente) e por diversas opções de lazer tecnológico.
Claro, um Gundam gigante no meio dos prédios é bacana em muitos níveis, mas o nosso negócio são os carros. E já vamos avisando: se você curte apenas esportivos originais (que são incríveis, claro), talvez o Fresh Tokyo Meet não seja seu negócio. Mas é difícil achar alguém que curta carros japoneses e não aceite modificações para torná-los ainda mais velozes — e, às vezes, mais bonitos. A gente, pelo menos, não conhece muita gente assim.
Agora, se você admira a diversidade da cultura dos tuners japoneses, cada edição é um paraíso. De réplicas dos carros de Velozes e Furiosos (como o Toyota Supra laranja aí em cima, cuja inspiração você conhece muito bem) a muscle cars que atravessaram oceanos para viver na Terra do Sol Nascente, dá para ver de tudo — tudo mesmo. Dá só uma olhada no vídeo abaixo: drifters, VIPs e pilotos de rua confessos dividem algumas centenas de metros quadrados de um estacionamento das docas. Ah, e o vídeo foi feito por brasileiros no Japão, ou seja, tem legendas em português!
O encontro foi promovido pela revista americana Super Street, cuja equipe faz questão de viajar da Califórnia até Tóquio a cada nova edição. A primeira aconteceu em janeiro de 2015, a segunda, em julho do mesmo ano. A teceira rolou no meio do mês passado, e os caras da SS fizeram questão de cobrir tudo com capricho.
É curioso ver carros que só ganharam jogos de rodas e molas mais firmes (honestamente, um Nissan GT-R R32 não precisa de muito mais que isso para ficar bacana) ao lado de verdadeiros monstros com para-lamas alargados, motores preparados até a tampa e apresentação impecável, daquelas que te fazem se perguntar “isto roda mesmo”? Um bom exemplo? O Lexus IS350 widebody que a Lexon Racing levou. Olha só esta cambagem!
É claro que há uma certa tendência natural para que carros que seguem a mesma escola se juntem no mesmo local. Esportivos preparados para a pista ficam todos lado a lado, bem como os clássicos dos anos 60 e 70, kei cars, “quase originais” e até entusiastas que permanecem fiéis à estética exagerada que fez muito sucesso há dez ou quinze anos.
No mais, é o tipo de coisa que curtimos ver: há uma harmonia entre os diferentes estilos e tribos que não se vê em outro país. Você imagina um encontro entre ratos de pista e fãs do stance, por exemplo, realizado aqui no Brasil e completamente livre de rixas infantis e discussões do tipo “meu carro é melhor que o seu porque sim?” Achamos difícil, e até já falamos a respeito. A gente ainda tem muito o que aprender com o Japão.