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História

Grande Prêmio de Mônaco de 1988: quando Senna errou e não se perdoou por isso

Neste domingo acontecerá o Grande Prêmio de Mônaco, uma das corridas mais tradicionais e aguardadas da temporada de Fórmula 1 — e também uma das que colecionam mais histórias. Como a do GP de 1988, quando Senna foi o mais rápido na classificação mas acabou batendo sua McLaren “sozinho” e entregando a corrida para Alain Prost.

Na verdade, o Grande Prêmio de Mônaco tem um significado especial para a Fórmula 1. Além de ser realizada em um circuito de rua dos mais difícieis — estreito, com curvas fechadas e variações de relevo por toda sua extensão, o que levou Nelson Piquet a compará-lo com “andar de bicicleta na sala de casa” —, entre 1984 e 1993, só dois pilotos venceram a corrida: Alain Prost e Ayrton Senna.

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Nesses 10 anos, Prost venceu quatro vezes, e Senna venceu seis — permanecendo até hoje o maior vencedor da história do circuito. Acontece que, se não fosse por um incidente curioso em 1988, Senna poderia muito bem ter vencido sete vezes. Na verdade, a corrida de 1988 já estava praticamente ganha mesmo antes de acontecer.

Em 1987, Ayrton Senna conseguiu sua primeira vitória em Mônaco depois de largar em segundo, atrás de Nigel Mansell. Alain Prost, que havia vencido a corrida nos três anos anteriores, teve problemas no motor e abandonou a corrida faltando duas voltas para o final — ele teria chegado em terceiro. O segundo foi Nelson Piquet.

No ano seguinte, contudo, Senna largou em primeiro — graças a um tempo de 1:23.988 conquistado durante os treinos de classificação. Ele foi o único piloto do dia a virar abaixo de 1:24, com uma impressionante vantagem de 1,4 segundo sobre Prost (1:25.425) e de 2,7 segundos sobre Gerhard Berger (1:26.685), o terceiro no grid para o GP de Mônaco de 1988.

A corrida no dia 15 de maio foi dominada por Senna desde o início. Enquanto alguns pilotos abandonaram a prova logo na primeira curva, a famosa Sainte Dévote, e outros sofreram acidentes ao longo da corrida, Senna só ia abrindo vantagem. Prost errou uma troca de marcha e foi utrapassado por Berger, e os três pilotos mantiveram suas posições durante 54 voltas.

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Foi aí que as coisas começaram a mudar: Prost conseguiu ultrapassar Berger — para alegria da equipe, que vislumbrou a possibilidade de uma dobradinha. Ainda que Senna estivesse cerca de 50 segundos na frente de seu companheiro de equipe, ele e Prost começaram a alternar entre si as voltas mais rápidas dali em diante. Era sucesso quase garantido.

Para fugir do “quase”, porém, a McLaren decidiu dar uma ordem a Senna: era melhor que ele desse uma aliviada, para não dar espaço para Berger recuperar o segundo lugar entre ele e Prost.

O onboard da última volta de Senna no GP de Monaco de 1988

Senna aliviar? Não se sabe se Ayrton não gostou muito de ouvir a ordem lá de cima ou se ele decidiu apertar o ritmo e aumentar ainda mais a diferença para Prost, mas logo em seguida ele perdeu a concentração por alguns instantes e passou reto na Portier, uma curva à direita que antecede a entrada do túnel de Mônaco.

Senna bateu no muro e acabou com a suspensão dianteira esquerda — e também com suas chances de subir no pódio. Era a volta nº 67 — faltavam apenas 11 para o fim da corrida. Prost conseguiu sua quarta vitória em Mônaco em cinco anos (ele venceu todas as que completara até então), com 20 segundos de vantagem sobre Berger. O terceiro colocado foi Michele Alboreto, 41 segundos atrás de Prost.

Apesar do talento diferenciado, Senna ainda era um ser humano. E seres humanos cometem erros, mesmo que jamais se perdoem por isso. Senna saiu do carro e foi direto para a beira da pista, com uma expressão de extrema ira no rosto. Tirou o caparece, as luvas, o macacão, e foi direto para seu apartamento esperar a raiva passar. Dizem que a McLaren só teve notícias dele no dia seguinte.

Em compensação, no fim da temporada, Senna foi o campeão e Prost foi o vice, com 15 das 16 corridas vencidas pela McLaren. Depois disso, entre 1989 e 1993, Mônaco só viu um vencedor: Ayrton Senna.

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