O mundo automotivo era bem diferente em 2011. O carro mais veloz do planeta (certificado pela Guinness World Records) ainda era o Bugatti Veyron Super Sport, que no ano anterior havia marcado 408 km/h. Nós ainda não falávamos em carros híbridos e elétricos dominando o mundo – ainda lamentávamos o fim do câmbio manual e dos motores aspirados. Dá até saudade, não dá?
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E foi em 2011 que a Hennessey Performance Engineering, liderada pelo preparador texano John Hennessey, começou a fabricar seu Venom GT. Um hipercarro que, hoje, podemos chamar até de vintage: feito sobre a plataforma do Lotus Elise/Exige, ele apostava em um V8 biturbo com comando no bloco, ligado a uma caixa manual de seis marchas da Ricardo, que levava a força para as rodas traseiras.
Agora, nove anos depois, o mundo conhece seu sucessor: o Hennessey Venom F5. O conceito já foi revelado no SEMA Show 2017, junto com diversas especificações técnicas, mas hoje (15 de dezembro) a empresa mostra a versão final – o carro que será sua arma na disputa pelo título de carro produzido em série mais veloz do mundo.
O visual do carro, honestamente, não surpreende. A versão final – revelada ao som de “Sweet Emotion”, do Aerosmith – se parece bastante com o conceito no formato da carroceria e no desenho dos faróis e lanternas. E também veste muito bem a cor azul escura escolhida para a estreia.
Em relação ao mockup, mudaram alguns detalhes como o desenho dos para-choques e a disposição das saídas de escape (antes três, agora quatro). Assim, o impacto do design final não é tão grande – fica a sensação de déja vù. Também não ajuda muito o fato de o Venom F5 lembrar um pouco um McLaren de alguns anos atrás – na silhueta, no design limpo da dianteira e nas proporções em geral. Os faróis verticais e as lanternas angulosas injetam um pouco de personalidade no visual geral, claro, mas não fazem milagres.
Por outro lado, o Venom F5 de produção revela, enfim, seu interior. E aqui, a evolução é notável. Se seu antecessor utilizava a arquitetura básica da Lotus, aqui é tudo feito sob medida, do zero, com design próprio bastante criativo e acabamento bem superior. A cabine é dominada por couro e fibra de carbono, com alguns toques de metal escovado. O carro agora tem um painel digital com tela colorida, outra tela para a central multimídia, e um volante multifuncional inspirado pelas pistas.
Atrás do volante, aliás, é que fica a maior concessão do Venom F5: as aletas para troca de marchas. A Hennessey abriu mão da transmissão manual para levar seu novo hipercarro a outro patamar de desempenho – agora, ele usa uma caixa automática de sete marchas desenvolvida pela Cima (a mesma empresa que fornece o câmbio do SSC Tuatara).
O câmbio é ligado a um novo motor V8 biturbo de gloriosos 6,6 litros – sem tecnologia híbrida, veja bem – feito sob medida, de acordo com a Hennessey, “baseado na clássica arquitetura dos V8 americanos”, com comando no bloco e ângulo de 90°. Tudo indica que ele é baseado no V8 LS da General Motors, embora isto ainda não seja confirmado. Pelo visto, ele será o motor mais potente já instalado em um carro produzido em série: os números oficiais são 1.842 cv a 8.000 rpm, mais 164,9 kgfm de torque a 5.500 rpm.
A opção pelo motor de comando único no bloco tem a ver com a experiência da Hennessey neste tipo de configuração, e também pelo centro de gravidade mais baixo. E a empresa deu outros detalhes sobre o V8: ele tem bloco de ferro fundido, cabeçotes de alumínio, válvulas de admissão de titânio e válvulas de escape de Inconel (liga de níquel-cromo). Pistões e bielas são forjados, com comando e virabrequim de aço billet. Os dois turbocompressores de 76 mm têm carcaça de titânio impressa em 3D e operam a até 1,6 bar.
Com este conjunto, o Venom F5 promete ir de zero a 100 km/h em 2,6 segundos, de zero a 200 km/h em 4,7 segundos, de zero a 300 km/h em 8,4 segundos e de zero a 400 km/h em 15,5 segundos. A Hennessey diz que a velocidade máxima pretendida é de “mais de 500 km/h”. Para isto, a sétima marcha recebeu uma relação extremamente longa, a fim de garantir que o limite de giro do motor – que é de 8.200 rpm – só seja atingido aos (teóricos) 540 km/h.
É claro que toda esta potência não valeria de nada sem um pacote sofisticado – leve, bem acertado e com boa aerodinâmica. Para conseguir isto, a Hennessey desenvolveu uma nova estrutura monocoque de fibra de carbono que, pelo que diz, pesa apenas 86 kg. A carroceria toda usa fibra de carbono com exceção do teto, que é de alumínio – mesmo material dos subchassis dianteiro e traseiro. A Hennessey optou por um conjunto de suspensão relativamente simples, com um braço de controle em cada roda, molas helicoidais e amortecedores com reservatório separado para ajustar compressão e retorno.
O sistema de suspensão aliás, terá um papel importante na aerodinâmica do Venom F5. Indo na contramão do segmento, o hipercarro não possui componentes aerodinâmicos ativos. Em vez disso, os níveis de downforce variam de acordo com a altura do carro, alterando o ângulo do fluxo de ar em relação à carroceria. Haverá um pacote opcional com uma asa traseira fixa para gerar mais downforce, mas a Hennessey deixa claro que isto reduz a velocidade máxima do Venom F5.
O peso em ordem de marcha divulgado pela Hennessey é de esbeltos 1.384 kg – o que nos dá uma relação peso/potência de ridículos 0,752 kg/cv.
Certamente o Venom F5 tem credenciais para brigar com os outros competidores pelo título de carro de rua mais veloz do planeta – e a Hennessey garante que sua tentativa de recorde será feita seguindo rigorosamente os procedimentos estabelecidos pela Guinness World Records quando chegar a hora. Afinal, nada seria pior que uma controvérsia à la SSC Tuatara para a reputação da empresa.
Até lá, porém, ainda temos algum tempo para esperar. O teste de velocidade está marcado para o ano que vem na pista de pouso do Centro Espacial Kennedy. Mas, pelo visto, os potenciais compradores do Hennessey Venom F5 não estão muito preocupados com recordes de velocidade: segundo a fabricante, dos 24 carros que serão produzidos, “algo entre 12 e 14” já estão reservados com depósitos feitos – todos eles por clientes americanos. Os demais serão vendidos para o resto do mundo.