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Mercado e Indústria

Impostos são os principais responsáveis pelos altos preços dos carros brasileiros, segundo debate no Senado

Como você deve saber, o Senado Federal realizou ontem (25) um debate sobre os preços dos carros brasileiros. Na reunião, estiveram presentes representantes da indústria e comércio, além da senadora Ana Amélia (PP-RS), que levantou a questão já há algum tempo no Senado e foi a requerente da audiência, que visava esclarecer ao público os motivos dos altos preços.

Segundo os debatedores, ficou evidente que um dos principais motivos dos altos preços dos carros por aqui é a pesada carga tributária imposta sobre a cadeia de produção e venda, que representam, em média, um terço do preço de um carro no Brasil.

O secretário-geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), João Vicente da Silva Cayres, deu detalhes sobre a composição do custo da produção de automóveis no Brasil: a compra de materiais e componentes é responsável por 50%, a mão de obra representa 8%, energia elétrica e água 0,3%, despesas com vendas 4%, propaganda 3%, fretes 1,6% e compras de peças de reposição para o maquinário/ferramental 12%. Os tributos correspondem a 30% do custo no Brasil, enquanto nos EUA esse valor corresponde a 6%, no Japão 9%, e na Alemanha, França e Reino Unido  a 17%. Segundo ele, o Brasil “cobra muito imposto sobre o consumo e muito pouco sobre a renda”. 

João Vicente usou como exemplo da tributação o Chevrolet Camaro, que é quatro vezes mais caro no Brasil do que nos Estados Unidos. Dos R$ 213.000 cobrados pelo esportivo, R$ 64.000 são impostos. Vale lembrar que o Camaro é um modelo de alto volume de vendas nos EUA (cerca de 60.000 por ano), enquanto no Brasil é um modelo de nicho, com volume de vendas bem menor — foram pouco mais de 4.000 unidades desde 2010.

Quem também criticou os altos impostos foi Flávio Antônio Meneghetti, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Segundo ele de cada R$ 100 do custo da receita líquida do fabricante, a margem bruta média de mercado é R$ 17,71 mais R$ 51 de impostos o que totaliza R$ 168. Isso significa que um carro comprado por hipotéticos R$ 10.000, seria vendido por R$ 16.800, com uma margem de lucro de R$ 1.771 e R$ 5.100 de impostos sobre o comércio. Como exemplo da carga tributária aplicada ao seu setor Meneghetti citou a isenção do IPI para compra de carros novos entre maio de 2012 e dezembro de 2013, o que aumentou as vendas em 1,5 milhão de unidades:

O governo federal deixou de arrecadar R$ 5 bilhões de IPI, mas ganhou R$ 5,6 bilhões em PIS/Cofins, R$ 6 bilhões em ICMS e R$ 1,5 bilhão de IPVA. Saldo líquido: o Brasil arrecadou mais de R$ 8 bilhões nesses 19 meses. 

Por outro lado, outro fator que colabora para o aumento dos preços é o comportamento do consumidor. Esse foi o argumento defendido pela jornalista Ângela Crespo, do site Consumo em Pauta. Segundo ela, a população brasileira precisa ter mais educação para o consumo, e reforçou que o brasileiro paga caro por algo que não tem a qualidade que se espera, e ilustrou sua argumentação nos recalls ocorridos nos últimos sete anos, que envolveram quase sete milhões de veículos — o que representa quase 30% da produção anual de 3,5 milhões de veículos.

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“Margens não são altas”

A opinião divergente veio de Luiz Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Ele afirmou que os carros no Brasil não são caros e negou que as montadoras e fabricantes tenham alta lucratividade no país e ainda afirmou que as fabricantes pagam 54% de impostos e que o lucro médio dessas empresas entre 2003 e 2011 no Brasil foi de 2,9%, enquanto a média mundial foi de 3% nesse mesmo período.

Logicamente, uma audiência pública do Senado não tem poder de criar ou modificar leis e regras para a produção e comércio de veículos no Brasil. O objetivo do debate, segundo a solicitação da senadora Ana Amélia, era esclarecer ao povo os fatores que compõem os preços dos carros e os motivos que levam à prática de preços elevados.  Como vimos, foram os mesmos fatores já conhecidos e amplamente divulgados pela imprensa especializada, embora não tenham sido comentados outros princípios econômicos como a economia de escala em produções de grande volume, nem a possibilidade de margens de lucro reduzidas em mercados com maior volume de vendas — caso dos EUA.

Uma coisa é certa: margens de lucro jamais serão reduzidas enquanto houver demanda disposta a pagar por elas. Seria como devolver o que sobra do seu salário ao chefe em vez de fazer uma poupança no fim do mês. Então parece que a solução passa por um consumidor mais esclarecido, capaz de recusar um produto encarecido por uma margem de lucro elevada, e pela revisão dos impostos para alavancar a produção (e consequentemente o consumo e a arrecadação). Resta saber quando, e como, isso será colocado em prática.

[ Imagens: Senado Federal ]