Sem sombra de dúvida, podemos dizer que a Icon 4×4 é uma das companhias mais criativas quando se trata de restomods — aqueles projetos que consistem em pegar um carro antigo e fazer mais do que restaurá-lo: aperfeiçoá-lo, usando mecânica e itens de conforto modernos para tornar a experiência de dirigir um clássico mais prática e acessível a quem não tem experiência (ou paciência).
Foi exatamente o caso desta VW Kombi 1966, que foi modificada pelos especialistas da Icon 4×4. Há um bom tempo falamos sobre o trabalho deles aqui no FlatOut. A companhia fundada pelo americano Jonathan Ward ficou famosa no mundo todo por pegar clássicos do fora-de-estrada americanos — como o Ford Bronco, o Toyota Land Cruiser e as picapes Chevrolet Advance Design — restaurar suas carrocerias, instalar motores modernos (normalmente os V8 Ford Coyote ou Chevrolet LS) e dar a eles recursos como ar-condicionado, faróis de LED e diferenciais autoblocantes.
Este é o foco principal da companhia. No entanto, Jonathan Ward é um cara inquieto, que adora se meter em projetos paralelos. Além de criar uma bike elétrica inspirada nas motos de competição dos anos 20, ele também deu início, há alguns anos, à série Derelicts — “abandonados”, em uma tradução livre.
Trata-se de uma ideia bastante específica: oferecer aos clientes a chance de ter um carro clássico com visual envelhecido, porém mecanicamente impecável e, se desejado, itens de conforto e conveniência atuais. Mais ou menos como um rat rod “gourmet”. Diferentemente dos restomods 4×4 da Icon, os Derelict são totalmente customizáveis de acordo com os desejos do cliente e, assim, cada projeto é único. Dá só uma olhada neste DeSoto 1952 com um V8 Chrysler, interior impecável, chassi todo refeito e até célula de combustível na traseira, que foi um dos primeiros Derelict feitos pela Icon:
O projeto mais recente ainda nem aparece no site da Icon (no qual você realmente deveria dar uma olhada), e sem dúvida é um dos mais criativos. Na verdade, é tão bacana que vai te fazer sair correndo até os sites de classificados para procurar uma Kombi bacana (este escriba fala por experiência própria).
De acordo com Ward, a encomenda foi feita por uma mulher, casada e mãe de três filhos, que queria uma Kombi clássica para acampar com a família. Ela disse adorar o visual e a sensação de dirigir as Kombi antigas, mas não era muito fã do cheiro de combustão do boxer refrigerado a ar (sacrilégio, para alguns), nem da falta de confiabilidade. Ela queria algo silencioso, econômico e mais potente, que fosse capaz de encarar uma longa viagem sem soluços.
Foram necessárias algumas semanas de procura até que o exemplar perfeito para servir como base: uma Kombi 1966 split window que, apesar da pintura gasta e da pátina, não apresentava um ponto de ferrugem sequer.
O primeiro passo foi desmontar a Kombi toda, até sobrar apenas a carroceria. Então, foram instaladas mantas de isolamento acústico, a fim de tornar a cabine mais silenciosa. A troca do motor por um quatro-cilindros de dois litros vindo de um VW Jetta — com comando no cabeçote e oito válvulas, muito parecido com nosso VW AP — também foi essencial. O motor tem injeção eletrônica controlada por um módulo aftermarket e a transmissão veio de uma Vanagon, segunda geração da van que foi vendida nos EUA e na Europa, mas não por aqui.
A Kombi também teve a suspensão toda refeita e recebeu freios a disco Wilwood nas quatro rodas, abrigados por rodas de 15 polegadas com calotas de metal originais. Todas as luzes — faróis, lanternas e setas — usam as carcaças originais, mas as lâmpadas halógenas foram trocadas por LEDs.
Dito isso, a mecânica modernizada é só parte do pacote. O mais bacana mesmo foi a reconfiguração do interior — que, na verdade, foi onde se concentrou a maior parte do trabalho.
Para garantir que a “alma” da Kombi fosse preservada e, ao mesmo tempo, o interior se tornasse um lugar confortável para passar o tempo com a família, os bancos originais foram mantidos — três lugares na dianteira e cinco lugares na traseira. No entanto, os dois bancos traseiros foram reposicionados de modo que um ficasse de frente para o outro. Todos os assentos receberam espuma nova, de alta densidade, e revestimento de couro sintético vinho (para combinar com a carroceria) e tecido xadrez colorido.
Os revestimentos das portas e maçanetas foram refeitos em nogueira, bem como a divisão entre a cabine e o resto do interior. Esta, por sua vez, também recebeu uma pequena estante para guardar pequenos objetos, que tambem serve para esconder um gerador de eletricidade. Por todo o interior foram espalhadas saídas de eletricidade e até algumas portas USB.
Também foi instalado um sistema de ar-condicionado dual zone, com saídas fabricadas em metal na dianteira (seguindo a identidade visual da Volks nos anos 60) e um compressor escondido sob o painel. Atrás, as saídas ficam em um dos bancos, e os controles de temperatura ficam na parede. O sistema de som é da Alpine e conta com sistema bluetooth. Para colocar música, basta ligar um smartphone e conectá-lo — ou seja: nada de cabos. Por outro lado, ninguém fez questão de colocar uma tela multimídia sensível ao toque. Tecnologia, sim, mas a atmosfera geral ainda é old school.
Entre eles, há uma mesa desmontável, que usa dois pés encaixados em buracos no assoalho. Quando não está em uso, a tábua de madeira é colocada no deque sobre o motor, onde fica encaixada firmemente em dois suportes circulares. Abaixo do tampo há uma fileira de LEDs para a iluminação ambiente.
O toque final foi o rack no teto, que leva uma tenda dobrável bastante espaçosa. Quando armada, ela também faz as vezes de toldo e fornece sombra, como uma pequena varanda.
Não estamos falando de um motorhome completo, aqui, mas sem dúvida esta Kombi é um belo veículo para camping. O fato de a pintura estar gasta, somado à mecânica moderna e confiável — Ward diz que já surpreendeu bastante gente ao levá-la até os 120 km/h na estrada —, torna tudo ainda mais interessante. É o tipo de coisa que nos deixa cheios de ideias…