Vejam só que época incrível para curtir carros: menos de uma semana depois do anúncio da volta do AC Cobra com motor V8 e 550 cv, a Jaguar anunciou que voltará a produzir o XKSS, a versão de rua do lendário D-Type de Le Mans.
O anúncio foi feito nesta semana durante o Salão de Los Angeles, e os carros serão produzidos da mesma forma que os modelos de “continuação” do E-Type. Se você não sabe do que estamos falando, a gente refresca sua memória: no início dos anos 1960 a Jaguar desenvolveu uma versão de baixo peso do E-Type batizada Lightweight Coupe. A principal diferença para os E-Types comuns é que eles usavam motor e carroceria de alumínio. Só que entre 1963 e 1964 foram fabricados somente 12 dos 18 cupês previstos. Por isso 50 anos depois a marca decidiu fazer os três exemplares restantes usando as mesmas técnicas e ferramental da época.
Com o XKSS aconteceu uma história parecida: depois de vencer as 24 Horas de Le Mans três vezes seguidas, a Jaguar encerrou seu programa de competição, e acabou com uma série de carrocerias, motores e chassis do esportivo empilhados na fábrica de Browns Lane. Para não ficar com os carros desmontados jogados em um canto, o próprio Sir William Lyons decidiu convertê-los para uso nas ruas e estradas instalando um para-brisa e uma porta para o passageiro.
Originalmente seriam construídos 25 desses XKSS, porém depois que o 16º foi produzido um incêndio destruiu a fábrica de Browns Lane com os outros nove carros lá dentro. Com os números de série reservados para estes nove carros, a Jaguar decidiu construir novamente estes nove modelos perdidos há exatamente 60 anos. Logicamente eles não serão baratos: cada um custará nada menos de £ 1 milhão — coisa de R$ 4,17 milhões.
O XKSS foi um dos carros mais radicais de sua época. Imagine só: era como se a Porsche pegasse hoje seu 919 Hybrid, instalasse uma suspensão mais elevada, pneus de rua, airbags e o colocasse a venda para quem desejasse usá-los nas ruas e estradas.
Eles tinham carroceria de liga de magnésio, freios a disco nas quatro rodas, e um seis-em-linha de 3,4 litros e comando duplo no cabeçote alimentado por três carburadores Weber DCO3 que ajudavam o motor a produzir 245 cv a 5.750 rpm. Era o tipo de carro que caras como Steve McQueen compravam nos anos 1960.
Como dissemos mais acima, os novos XKSS serão extremamente fiéis aos modelos originais, com carroceria modelada a mão sobre os moldes originais. A liga de magnésio será mantida pois, segundo a Jaguar, a ideia de que o magnésio é extremamente inflamável é equivocada. De acordo com a marca é preciso muito mais que chapas finas de magnésio para que o metal seja perigoso. Até mesmo a técnica de soldagem com bronze será a mesma de 60 anos atrás.
A única modificação em relação ao projeto original será o tanque de combustível, que usará célula de combustível para resistir à mistura de gasolina com álcool usada atualmente e, acima de tudo, por questões de segurança. O motor será exatamente igual, e não será recondicionado: a fundição e usinagem será feita do zero.
O painel usará os mesmos instrumentos Smiths de 1956 e o volante usará o mesmo tipo de madeira da época, assim como o couro do banco terá a mesmíssima textura. A construção de cada exemplar moderno do XKSS levará 10.000 horas-homem para ser concluída, segundo a Jaguar.
E como todo modelo assim especialíssimo, as nove unidades já estão vendidas.