Em março, Stephan Winkelmann, CEO da Lamborghini, disse que os motores V10 e V12 aspirados da marca ainda têm muito a oferecer e que a Lambo não adotaria indução forçada (turbos e compressores) ou tecnologia híbrida tão cedo. Não duvidamos que ele falasse sério, mas agora, no Salão de Paris, a Lamborghini apresentou o conceito Asterion: um hipercarro híbrido de 910 cv. Mas a gente compreende.
A alma do Asterion é, sem dúvida, seu motor V10 de 5,2 litros, 610 cv a 8.250 rpm e 57,1 mkgf de torque a 6.500 rpm — o mesmo do Huracán, que também cede a transmissão de sete marchas com dupla embreagem. Contudo, ele não é o único motor do conceito, que também tem três motores elétricos que adicionam mais 300 cv à conta — um total de 910 cv, citados em seu nome completo: Lamborghini Asterion LPI 910-4. O “I” é de ibrido, ou híbrido em italiano.
Sim, é uma variação da receita seguida pelos membros da tríade máxima dos hipercarros modernos — LaFerrari (963 cv), McLaren P1 (916 cv) e Porsche 918 Spyder (887 cv). Mas a Lamborghini, sendo a Lamborghini, decidiu-se por uma abordagem diferente em todo o resto.
Em vez de ser um hipercarro em forma de cunha, com uma silhueta extremamente baixa e uma linha contínua do capô à tampa do motor, a Lambo optou por pegar a estrutura monocoque do Aventador e modificá-la com um entre-eixos mais longo, além de dar ao perfil do carro proporções típicas de grand tourer: agora, o capô é mais baixo, o para-brisa, menos inclinado, e o teto mais alto (bem como os bancos).
Em vez de criar um carro de design extremamente aerodinâmico e foco nas pistas, como é o caso dos três já citados, a Lamborghini resolveu dar à sua “demonstração de tecnologia” (assim referiu-se Winkelmann durante a apresentação no Salão de Paris) um apelo maior ao conforto. Isto também se reflete no interior, claramente mais espaçoso que o de qualquer Lamborghini nos últimos dez anos e forrado com couro em dois tons — marrom e creme.
Mas ele não seria o primeiro GT da Lambo, longe disso: na verdade, a companhia começou construindo grand tourers, e o último deles foi o Jalpa, descontinuado em 1988. O que a Lamborghini nunca teve foi um híbrido — e esta sim é a verdadeira revolução.
Como já dissemos, além do V10 aspirado, o Asterion tem três motores elétricos. Um deles é incorporado ao transeixo traseir e atua como motor de partida e tem um gerador incorporado. Os outros dois ficam no eixo dianteiro, um em cada roda — e, por esta razão, o Asterion tem tração integral e mais 300 cv.
A potência combinada de 910 cv dá resultado: a Lamborghini fala em 0-100 km/h em três segundos e velocidade máxima de 320 km/h com todos os motores em ação — e ainda conseguir uma média de 23,8 km/l. Mas também é possível rodar a até 125 km/h só com os motores elétricos — neste caso, a autonomia é de 50 km.
Mas se a Lamborghini havia dito que não se renderia à tecnologia híbrida tão cedo, por que o Asterion existe? Como já dissemos, ele é uma “demonstração de tecnologia” — o que significa que não necessariamente reflete um futuro modelo de produção. Mas, cá para nós, ele parece estar quase pronto para as ruas, não? Não duvidaríamos se ele fosse vendido em 2016 (ou até antes).
Dá para entender a motivação da Lamborghini: as exigências para emissão de poluentes na Europa estão cada vez mais restritas, e a adoção da tecnologia híbrida não precisa ser vista como uma traição de princípios — está mais para uma maneira de cumprir as normas ambientais sem comprometer o desempenho — como o downsizing e seus motores V8 turbinados.
O que você achou do hipercarro híbrido da Lamborghini?