Depois de quatro meses desde a apresentação do C63 AMG, a Mercedes-Benz finalmente coloca nas ruas o sucessor do modelo AMG mais vendido da história. Ele está de volta com um visual mais conservador, e por enquanto oferecido somente nas versões sedã e perua — o cupê deve voltar em 2016 —, mas diferentemente de seu rival direto, o BMW M3, ele continua com um V8 roncando forte sob o capô e agora auxiliado por dois turbos.
O novo V8 4.0 biturbo substitui o antigo 6.2 aspirado, e traz consigo 18 cv a mais que seu antecessor (ou 53 cv se considerarmos a potência da versão S). Trata-se de uma variação do M178 usado no AMG GT/GT S batizado como M177 (leia tudo sobre esse motor neste post). Essencialmente é o mesmo motor; a diferença na denominação se deve ao sistema de lubrificação — por cárter seco no M178 e cárter úmido no M177. Na versão básica, C63 AMG, o M177 produz 476 cv e 65,6 mkgf (14 cv e 5 mkgf a mais que o AMG GT), enquanto no C63 AMG S a potência sobe para 510 cv e o torque chega a 71,2 mkgg — exatamente os mesmos números do AMG GT S. O zero a 100 km/h agora é feito em 4,2 e 4,1 segundos, respectivamente, e a velocidade máxima é limitada eletronicamente a 290 km/h. Uma evolução e tanto.
Infelizmente, o mesmo não pode ser dito do visual do modelo. Quero dizer… sim, a nova geração do C63 AMG é claramente uma evolução do anterior no quesito visual, mas ele também ficou bem mais conservador, perdendo aquele stance brutal de muscle car moderno dos para-lamas alargados e aquela cara de devorador de rivais. Isso fica ainda mais claro se você compará-lo com o M3, com seus para-lamas traseiros enormes e aquela postura esportiva típica dos M3. Neste aqui somente os para-lamas dianteiros são visivelmente mais largos para acomodar a bitola mais larga; a traseira é praticamente a mesma. Somente as bocas enormes do para-choques dianteiro denuncia o apetite por asfalto do novo C63 AMG.
Mas como anda o novo C63 AMG? Bem, nós ainda não colocamos as mãos no carro — até por que ele ainda não foi lançado no Brasil —, mas a imprensa estrangeira já conheceu a fundo o novo esportivo em sua versão S. Por isso, como já fizemos com LaFerrari, Challenger Hellcat e Ford Mustang, reunimos algumas impressões sobre este novo muscle car alemão.
Assim como seu antecessor, o novo C63 AMG usa um câmbio automático de sete marchas com embreagem úmida em vez de embreagem dupla como seus rivais. Isso não significa, contudo, que as trocas são lentas e matam o desempenho. Segundo Chris Harris em seu mais recente vídeo (abaixo) as trocas “não são tão rápidas quanto o DCT, mas estão quase lá e são muito suaves”.
Harris também aprova a progressividade do câmbio no modo automático em uso urbano — afinal você não vai passar 100% do tempo destruindo pneus, certo? Nessas condições, o pessoal do Motor Authority considerou o C63 AMG S confortável, suave e bem equipado. Os australianos do Drive.com.au concordam, dizendo que a suspensão adaptativa (com três ajustes diferentes) absorve boa parte das imperfeições do asfalto sem transmiti-las à cabine mesmo nos modos Sport/Race. A única queixa foi em relação ao ruído da rolagem dos pneus, mesmo em superfícies suaves.
Como mencionado logo acima, o C63 AMG tem amortecedores com três ajustes diferentes ativados pelos modos de condução pré-selecionados — os tradicionais Comfort, Sport, Sport + e Race que alteram respostas do acelerador, ronco do motor (mais adiante veremos isso), tempo de trocas de marcha, peso da direção e, claro, ajuste da suspensão.
Na foto abaixo você vê também o modo “Individual”, que permite combinar os ajustes dos diferentes modos ao gosto do motorista. É possível, por exemplo, usar o ajuste de amortecedores do modo Comfort, com a direção e escape do modo Race, e acelerador do modo Sport + para rodar pela cidade com conforto sem abrir mão do ronco agressivo e de uma direção precisa.
Isso é bem interessante, por que ao sair da cidade e pegar a estrada, você não precisará se distrair com o joystick do console central para reconfigurar o carro. Basta afundar o acelerador e aproveitar a metamorfose do sedã em um monstro devorador de asfalto e curvas. É o que diz a Motor Authority ao descrever o ímpeto do V8 biturbo: “O motor oferece torque imediato a praticamente qualquer faixa de rotações, e empurra com vigor até a linha vermelha. Combinado com o câmbio automático de sete marchas, o motor traz à vida a plataforma ‘adulterada’ do Classe C, fazendo o carro desejar ansiosamente a próxima curva, a próxima reta, a próxima tangência“.
Note que não mencionamos a mudança do ajuste da suspensão. Como conta Chris Harris em seu vídeo, é possível usar o carro o tempo todo no modo Comfort, e ainda assim ele terá um comportamento excelente em curvas, com um leve sub-esterço, já que o carro foi feito para motoristas comuns.
O talento em contornar curvas, segundo os britânicos da Autocar, se deve à bitola 31 mm mais larga, novo ajuste de suspensão, com um maior ângulo negativo de câmber e barra estabilizadora mais espessa. O mérito também vai para a direção elétrica — com “peso excelente, e respostas imediatas nas guinadas e bastante feedback do eixo dianteiro alargado”, segundo a Motor Authority — e para os pneus Michelin Pilot Super Sport calçados nas rodas de 19 polegadas do C63 S.
A Autocar ainda completa os elogios à atitude radical do C63 S aclamando o ronco do motor como “a melhor parte” do modelo. Ele usa um sistema de válvulas comum em escapes aftermarket e em supercarros para alterar o timbre entoado pelos canos. Dependendo do modo selecionado no ajuste dinâmico, essas válvulas bypass fazem os gases passarem pelos abafadores ou sair diretamente dos silenciadores intermediários, deixando o ronco bem mais agressivo e o fluxo menos restritivo .
Quando comparado ao BMW M3, seu maior rival desde a última geração, nota-se uma conclusão curiosa. Desde os tempos do 190E 2.3-16 e 2.5-16 o M3 era um esportivo superior ao Mercedes — sempre mais leve, mais potente e melhor acertado. Na última geração (E92 e W204) a história começou a virar em favor da Mercedes — o BMW, apesar de menos potente, tinha um V8 girador e câmbio manual de seis marchas, enquanto o C63 AMG era um muscle car visceral (como você vê na avaliação que o FlatOut fez no ano passado). Mas agora “o pêndulo aponta o lado da Mercedes-AMG”. Segundo a Motor Authority, o BMW tinha rodagem superior, direção mais precisa e mais esportividade. Agora, o BMW é como um bisturi a laser de um cirurgião, enquanto o C63 S é um canivete automático de uma gangue de rua em termos de agressividade.