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Car Culture Games

Mergulhe no universo paralelo das máquinas de arcade soviéticas

Nascido em 1991, eu ainda consegui pegar o finalzinho da época quando havia máquinas de arcade em qualquer esquina – mesmo em lanchonetes e botecos. Meu pai não gostava muito de gastar moedas e mais moedas com isto, mas ele entendia. Especialmente porque minha máquina favorita era a que rodava Cruis’n USA, e ele gostava de estimular meu gosto por carros, mesmo que não fosse tão entusiasta assim. Felizmente os arcades estão voltando com tudo – mesmo que seja através daquelas máquinas multijogos que emulam games clássicos. Já é alguma coisa.

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Há bastante tempo, fiz um post aqui no FlatOut sobre a evolução dos games de corrida. A gênese desta história está nos arcades eletromecânicos – que, como o nome diz, usavam elementos mecânicos como elementos do jogo – da virada da década de 1970. Pouco tempo depois, começaram a surgir os primeiros arcades de corrida que eram, de fato, jogos eletrônicos, como o extremamente simples Gran Trak 10, que usava pontinhos brancos em um fundo preto para “simular” um carro em um circuito. Era um jogo extremamente difícil, no qual você usava o volante para fazer curvas – e havia até mesmo um câmbio para trocar marchas. O ronco do motor também era surpreendentemente realista para um jogo tão antigo.

Ao ver Gran Trak 10 e compará-lo com o que temos hoje, é difícil não pensar no quanto os games de corrida evoluíram em quase cinco décadas, mesmo que seja bastante tempo. E isto porque estamos falando de um arcade ocidental, de uma empresa mainstream. Que tal, então, explorar o submundo dos arcades soviéticos? Aí é que a coisa fica doida mesmo.

Não que os arcades sejam completamente diferentes do que se via no ocidente – a questão não é esta. A questão é que eles eram, bem… soviéticos. E tudo o que vem da antiga União Soviética me fascina, por alguma razão – os carros, a arte, as bandas (aliás, quem curte Iron Maiden precisa dar uma conferida no Ария, ou “Aria” no nosso alfabeto, a maior banda de heavy metal da Rússia) e agora, os games. A falta de recursos, bem como a necessidade de oferecer ao público uma alternativa à cultura e à indústria ocidentais, acabavam proporcionando às criações soviéticas um charme muito característico.

Foto: Museu das Máquinas de Arcade Soviéticas

Tanto é que existe um museu inteiramente dedicado aos arcades soviéticos, sabia? É o Музей советских игровых автоматов, ou “Museu das Máquinas de Arcade Soviéticas”, que tem duas filiais na Rússia – uma em Moscou, e a outra em São Petersburgo.

O museu foi fundado em 2007 por Alexander Stakhanov, Alexander Vugman e Maxim Pinigin, todos os três graduandos na Universidade Politécnica de Moscou. O museu ficava, inicialmente, no abrigo anti-bombas no subsolo dos dormitórios da universidade, e contava com 37 máquinas de arcade. As visitações ocorriam às quarta-feiras, sempre mediante agendamento, mas o sucesso do museu fez com que o trio começasse a abrir o museu diariamente. Em 2013 foi aberta uma filial em São Petersburgo, com um acervo de 50 máquinas.

O lugar recebe por volta de 20.000 visitantes por ano e realiza eventos e campeonatos regularmente – e é provavelmente o melhor lugar do planeta para testar algumas das máquinas de arcade soviéticas de antigamente. Ao pagar, a entrada, você ganha 15 fichas – provavelmente bem mais do que você conseguia comprar de uma vez com os trocados que tinha no bolso quando era criança.

Foto: Museu das Máquinas de Arcade Soviéticas

E as máquinas são mesmo interessantíssimas – especialmente aquelas com jogos de corrida, ou com qualquer temática motorizada, que são o nosso foco aqui.

Autorally-M é um ótimo exemplo – um game de 1984 com toda a pinta de anos 1970 (afinal, as coisas levavam mais tempo para chegar à URSS), parecidíssimo com Gran Trak 10, com pixels sobre um fundo preto. Mas os pixels eram coloridos, e o carro não corria em um cirucuito, mas sim em uma arena de com obstáculos e checkpoints que vão sendo destacados em ordem aleatória, e você precisa passar por todos eles antes que o tempo acabe. É possível jogar sozinho ou em uma disputa com um amigo – e os dois controlam o carro usando volantes de madeira com raios de metal. Só isto já vale a experiência.

Mas você também pode jogar no computador clicando neste link, disponibilizado pelo Museu das Máquinas de Arcade Soviéticas (é preciso ter o Flash instalado no navegador) – o carro é controlado usando as setas do teclado.

Magistral é um game interessante não apenas pelo nome, mas por lembrar outros jogos de corrida com vista aérea mais modernos, como Road Fighter, da Namco – exceto que com gráficos bem mais rudimentares. E, como bom soviético, o game era ridiculamente difícil.

Mas Magistral, como bom game soviético, era ridiculamente difícil. Em todos os modos, você controlava um carro em uma pista reta e precisava desviar dos outros veículos. Mas cada modo tinha um twist diferente. no modo normal, os carros vinham em sentido contrário, e andavam relativamente devagar, mas a falta de precisão dos controles dava conta de te fazer passar raiva. Os outros modos iam acrescentando desafios: em um deles, os carros andavam na mesma direção que você, e havia alguns apressadinhos que te acertavam na traseira sem aviso prévio.

Em outro, as duas faixas da pista eram completadas em circuitos opostos, e havia alguns carros mais largos que te obrigavam a invadir a faixa contrária. Havia um modo noturno, com a tela toda preta – só dava para ver os outros carros por um breve momento, quando eles entravam no facho dos seus faróis. E, por fim, havia o modo no qual o outros carros ficavam ziguezagueando pela pista. Imagine quantas moedas foram gastas com aquilo!

Quer saber como era? É só clicar aqui e sentir a frustração por si mesmo.

Vale lembrar que estes games eram difíceis por mais de um motivo. Primeiro, tanto o hardware quanto o software daquela época não proporcionavam um controle tão preciso dos elementos do jogo. Segundo, estamos falando de arcades – eles precisavam proporcionar desafio para estimular os jogadores a quebrar os recordes uns dos outros, e também para arrecadar mais moedas.

Morskoi Boi era um simulador “VR” de combate naval. Diferentemente dos outros games, ele era um arcade eletromecânico, no qual você colocava os olhos em uma espécie de periscópio e tinha de acertar os navios que passavam no horizonte usando seu lança-mísseis – na verdade um facho de luz que “acertava” uma miniatura de madeira.

Caso você conseguisse calcular o momento exato e atingisse um barco inimigo, era possível ver uma explosão que deixava o céu todo vermelho. Era a deixa para que a máquina mudasse o sentido do barco para dar a impressão de que era outro navio, de outra cor. E, comparativamente, o jogo era bem mais fácil que os outros já vistos aqui – confira você mesmo.

E estes são apenas os games que se pode jogar vitualmente no site do museu – existiram outros, como Vozdushniy Boi, que era muito semelhante a Morskoi Boi em termos de mecânica, mas trazia combates aéreos em vez de navais.

Todos estes games estão extremamente defasados em relação aos dias de hoje, obviamente, mas eles já não eram modernos quando foram lançados. Ainda assim, é interessantíssimo conhecer este “universo paralelo” – e parece que muito mais gente acha a mesma coisa, visto que as visitas são um sucesso. Tanto é que os organizadores possuem, além das máquinas expostas, outras 2.000 que ainda precisam ser consertadas.

Caso alguém aí esteja pensando em ir a Moscou ou São Petersburgo, talvez seja uma boa ideia incluir o Museu das Máquinas de Arcade Soviéticas no roteiro.