O nome Mine’s com certeza acende uma pequena luz no cérebro dos gamers — na década de 90, alguns de seus carros marcaram presença na série Gran Turismo. Mas o Mine’s R34 é um carro incrível, e você pode ter certeza de que ele não merece a fama só por causa do game: seu desempenho é absurdo de verdade, no mundo real. E, hoje em dia, suas aparições nos games já não são limitadas ao clássico GT2.
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A Mine’s foi fundada em 1985 na cidade de Yokosuka, no Japão, por Michizo Niikura. Niikura, diferentemente de outros preparadores japoneses, não vinha de um background obscuro (como Smokey Nagata com seu passado no Mid Night Club). Não: Niikura era engenheiro, tendo decidido desde cedo que iria aprender a melhorar carros. E sua filosofia era admirável: um bom carro precisa ser bem equilibrado — bom de curva, bom em linha reta, bom na hora de parar e bom na hora de cuidar.
A Mine’s desenvolve componentes mecânicos, eletrônicos e aerodinâmicos, e foi uma das primeiras empresas a vender módulos de controle (ECU) recalibrados. O foco era melhorar o desempenho antes de qualquer coisa. Todas as modificações são funcionais, e as discretas melhorias estéticas, meras consequências. A única concessão são os grafismos com o nome da preparadora nas laterais, que também fazem a linha discreta. All show, no go? Aqui, não. Pelo contrário!
O Mine’s GT-R R34 é, sem dúvida, seu produto mais icônico. O portfólio da empresa é bem grande, oferecendo modificações para diversos modelos da Nissan e alguns de outras marcas, mas o Nissan Skyline GT-R R34 foi quem os colocou no mapa. O demo car foi testado por vários veículos de imprensa em meados da década de 2000 — e todos ficaram impressionados com sua agilidade, sua velocidade e sua dinâmica.
O motor é uma versão do seis-em-linha RB26DETT, de 2,6 litros, equipada com componentes internos mais leves e resistentes — virabrequim, bielas e pistões de alumínio forjado —, dutos polidos e novas válvulas, com comandos um pouco mais agressivos. Os turbocompressores originais também deram lugar a caracóis HKS GT2530, e tudo é controlado pelo módulo VX-ROM desenvolvido pela própria Mine’s, calibrado para que o motor trabalhe o mais perto o possível do limite. O escapamento de titânio com catalisador dá conta de manter o ronco do seis-em-linha suave aos ouvidos, sem deixar de ser ameaçador.
Com a receita ele entrega 600 cv a 7.200 rpm e 64,1 mkgf de torque a 5.400 rpm. Contudo, o limite de giro do motor é superior a 9.000 rpm. O câmbio é um Getrag manual de seis marchas com embreagem de cerâmica, e o diferencial é do tipo LSD, com deslizamento limitado.
Mas o verdadeiro trunfo do Mine’s GT-R R34 era sua dinâmica. O mais bacana é que não se trata de nada revolucionário: molas Eibach mais firmes, amortecedores ajustáveis em três níveis e generosas barras estabilizadoras na dianteira e na traseira. Um pacote simples, mas tão bem acertado que a velha máxima “não precisa de mais nada” é 100% real aqui. Mas certamente os pneus Bridgestone Potenza RE55S SR2 de medidas 265/35 nos quatro cantos eram muito bem vindos, bem como as rodas BBS RE-Mg de 18 polegadas. Forjadas em magnésio, as quatro rodas pesavam 32,8 kg — só 8,2 kg por roda.
O interior, na contramão dos carros preparados, não foi depenado — nenhum acabamento foi removido, e as modificações ficam por conta do volante Sparco de Alcantara, bancos concha Recaro e cintos de competição Takata.
O lado de fora também foi modificado de forma discreta e funcional. O para-choque dianteiro traz um spoiler de fibra de carbono, entradas de ar dedicadas ao arrefecimento dos freios — que são da AP Racing com pinças de seis pistões na frente e quatro pistões atrás — e winglets nas laterais. O capô também é de fibra de carbono, porém trata-se de uma peça do catálogo da Nissan que possui entradas de ar para fluxo otimizado e ainda pesa menos. A traseira tem um aerofólio com desenho semelhante ao original do GT-R, porém também feita de fibra de carbono.
Todo o conjunto pode ser visto funcionando em toda sua glória neste vídeo que mostra o Mine’s R34 sob o comando do mestre Keiichi Tsuchiya, o Drift King. Logo ele, que já dirigiu de tudo e, na época, já era um veterano, ficou impressionado com a velocidade e a precisão do carro. Note como a carroceria quase não rola e como o carro percorre o circuito de Ebisu, no Japão, em apenas 59,733 segundos — com uma tocada limpa, precisa e sem espalhadas desnecessárias. E repare na faixa vermelha do conta-giros, que marca até 10.000 rpm!
Não é por acaso que o demo car ainda está com a Mine’s, que cuida muito bem dele até hoje – tanto que Tsuchiya o pegou emprestado várias outras vezes para outros especiais da Best Motoring, como esta disputa com um Subaru WRX em uma touge…
… ou este pega entre o R34 da Mine’s e três GT-R R35 preparados. Spoiler: o Mine’s não vence, mas também não é o último. Nem o penúltimo.
Também não é por acaso que, hoje em dia, você ainda pode entrar em contato com a Mine’s e encomendar um kit completo com as mesmas specs do demo car.
Mas você não gosta do Skyline? Sem problemas: a Mine’s também colocou as mãos nos Subaru Impreza e Legacy, no Lancer Evolution e para outros modelos da Nissan, incluindo o 370Z e o GT-R atual.
O Lancer Evolution, aliás, foi outro carro que apareceu em GT2 com a mesma pegada do GT-R R34. Ele não fez a mesma fama, mas bem que poderia: baseado na versão RS do Evo V (a versão “certa” para modificações, pois vinha de fábrica com alívio de peso), ele uma nova turbina GT2835 desenvolvida in-house, sistema de combustível mais parrudo e escapamento feito sob medida com coletor de titânio – além, claro, da ECU reprogramada – para chegar aos 400 cv. A geração dessensibilizada de hoje em dia não acha muita coisa dos carros de 400 cv, mas lembre-se que a Mine’s presta atenção em tudo, não só no motor. Além disso, não estamos falando do século 21, mas de 21 anos atrás.
O Evo V também recebeu sua dose de melhorias na suspensão, com barras estabilizadoras de fabricação própria, molas mais firmes e amortecedores ajustáveis. Segundo a Mine’s, o carro virou 1:00,432 em Tsukuba – tempo que hoje já foi superado, mas por carros com o dobro da potência.
De lá para cá, os carros da Mine’s acabaram ganhando popularidade não só por causa de GT2, mas também pelas aparições nos vídeos da Best Motoring e em outros games de corrida. Hoje, os carros da Mine’s estão na franquia Forza Motorsport, nos títulos mais recentes de Gran Turismo e, claro, em uma série de simuladores de corrida para PC graças à cultura dos mods.
Dá até para dizer que foi graças aos games, na verdade, que a Mine’s ficou conhecida no ocidente – se não fosse por Gran Turismo 2 e sua infinidade de versões para o mesmo carro, talvez sequer estivéssemos falando deles aqui hoje. O que chega a ser quase injusto.