No Grande Prêmio de Mônaco de 1974, Niki Lauda quase conquistou uma vitória especialmente doce. Desde 1955 a Scuderia não vencia no principado – a última vez havia sido em 1955, quando o francês Maurice Trintignant foi o primeiro a cruzar a linha de chegada com a Ferrari 625.
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Lauda havia conquistado a pole position virando 1min23s3 com sua Ferrari 312 B3 – 0,3 segundo mais rápido que o colega de equipe, Clay Regazzoni, e 0,5 segundo à frente de Ronnie Peterson, o terceiro colocado, que corria pela Lotus. Mas o piloto austríaco da Ferrari foi um dos vários pilotos que não chegaram ao final da corrida – dos 27 que largaram, apenas nove chegaram ao final. Aquela foi uma corrida marcada por acidentes e problemas mecânicos, e Lauda foi uma das vítimas: um defeito na ignição o tirou da liderança em sua 32ª volta.
Em outubro de 2018, quase 45 anos depois da corrida, a Ferrari 312 B3 de Niki Lauda retornou a Mônaco nas mãos do piloto alemão Marco Werner. A ocasião era especial: o Monaco Historic Grand Prix 2018, 11ª edição da corrida para clássicos da Fórmula 1 que acontece a cada dois anos, e é aberta a monopostos construídos até 1980.
Os carros são divididos em sete categorias, e disputam corridas de dez a 12 voltas, com duração máxima de 35 minutos para os carros mais antigos, e 45 minutos para os mais modernos. É uma bela oportunidade para as gerações mais jovens poderem ver os ícones do passado em ação, conduzidos por pilotos de mão cheia – e o onboard abaixo é um belo argumento.
Você pode ver um apanhado com os melhores momentos da corrida no vídeo abaixo:
Werner já venceu as 24 Horas de Daytona em 1995, com o Porsche 962 Spyder da equipe Kremer. Em 2001, ele foi contratado pela Audi e tornou-se um de seus melhores pilotos, vencendo as 24 Horas de Le Mans com o protótipo R8 em 2005, e com o R10 TDI em 2006 e 2007. Com a Audi, Werner também venceu as 12 Horas de Sebring em 2003, 2005 e 2007.
O carro que ele conduziu no Monaco Historic GP de 2018 foi um passo importante na história da Ferrari. Ele era a quarta evolução da Ferrari 312B, projeto de Mauro Forghieri apresentado em 1970.
A série 312 trouxe um novo motor flat-12 de três litros – que, pela configuração dos cilindros em um ângulo de 180°, ajudava a tornar mais baixo o centro de gravidade do carro e, consequentemente, aumentar sua estabilidade nas curvas.
Entre 1970 e 1974 a Ferrari realizou diversas modificações no projeto, incluindo reformulações completas na aerodinâmica e experiências com diferentes arranjos de suspensão traseira, até chegar à 312 B3 para a temporada de 1974.
Na Ferrari 312 B3 de Niki Lauda, o flat-12 de três litros entregava 490 cv a 12.500 rpm, e a suspensão traseira usava um arranjo com braços triangulares sobrepostos com amortecedores duplos e barra estabilizadora ajustável que você pode ver em ação no vídeo abaixo, que foi gravado nos treinos de classificação para o Monaco Historic GP de 2018. Repare nos furinhos perto das rodas (que aparecem aos 00:25 pela primeira vez): eles servem para fazer o ajuste da barra de acordo com a necessidade de maior ou menor tensão. Também é possível vê-a torcendo nas curvas – aliás, os ângulos da câmera proporcionam uma visão privilegiada, e bastante rara, do conjunto em ação.
Também é possível ver os discos dos freios traseiros inboard, montados junto do diferencial e não nas rodas. Era uma forma de reduzir a massa não-suspensa do carro e também evitar que o sistema suspensão recebesse a carga proveniente da inércia nas frenagens.
Os dois vídeos foram feitos por uma produtora chamada Stereoscreen, que está trabalhando em um documentário chamado The Lauda Legacy – “O Legado de Lauda” em uma tradução livre, que contará a história do lendário piloto austríaco tricampeão de Fórmula 1. As imagens são belíssimas, assim como o áudio – que captura com altíssima qualidade o ronco do flat-12.
A Stereoscreen ainda não deu mais detalhes sobre a produção, mas dá para entender por que o teaser usa o carro de Lauda em 1974. Aquela foi uma temporada importantíssima para o piloto, que foi contratado pela Ferrari naquele ano junto com Clay Regazzoni para substituir Jack Ickx e Mario Andretti.
Ambos já eram colegas de equipe na BRM, e a Scuderia apostou alto dupla – a equipe italiana já não conquistava um título na F1 desde 1964. Lauda havia vencido sua primeira corrida pela Ferrari semanas antes, na Espanha, e sua pole position em Monaco mostrava que sua contratação havia sido uma decisão acertada. Ele certamente teria vencido aquela corrida se não fossem os problemas com o carro.
Como sabemos, Niki Lauda levou para casa seu primeiro título de Fórmula 1 no ano seguinte, 1975, com a nova Ferrari 312T – que, apesar do nome, não tinha um turbocompressor. O “T” era de Transversale, pois a transmissão era montada na transversal, à frente do eixo traseiro, reduzindo o momento de inércia polar e ajudando o carro a mudar de direção mais rápido.
“Rush – No Limite da Emoção” retratou de forma artística a rivalidade de Niki Lauda com James Hunt, seu acidente em Nürburgring no GP da Alemanha de 1976 e sua superação em 1977, quando conquistou o segundo título com a Ferrari. The Lauda Legacy, pelo que podemos perceber, deverá trazer uma abordagem mais documental – e, a julgar pelos teasers, vem coisa boa por aí.