Ele poderia ser aquele seu tio gente boa o que te dava cerveja escondido do seu pai nas festas de família. Ou então o amigo gente boa do seu tio. O boné poderia ser muito bem de algum posto de gasolina ou loja de ferramentas. Camisa listrada, jeans surrados, cabelo cuidadosamente mal cortado e, claro, um belo bigode.
Seu nome é Marcos Eduardo Chavez Santini e, em 18 de março de 2013, ele se tornou uma lenda. Naquele dia, o vídeo de uma arrancada que Chavez disputou contra um Porsche 911 Turbo 996 de 500 cv foi publicado. E o mundo conheceu um herói.
Um herói que dirige um Nissan Maxima SE 2002 azul com interior de couro cinza que, por fora, quase não levanta suspeitas de sua personalidade selvagem – ele tem alguns grafismos nas laterais, sob as janelas; lanternas do tipo Altezza (quem lembra?) e, na beira da pista, calça pneus dianteiros mais borrachudos ou slicks de arrancada.
Quando o vídeo foi publicado, porém, tudo o que se tinha era a visão do interior do carro, com imagens feitas pelo carona. Dava para ver que, na central multimídia, está rolando o clipe de “Somebody That I Used to Know”, do compositor belga Gotye, que estava em nº 1 nas paradas de quase todos os países (não no Brasil, diga-se) e falava sobre um cara que era tratado como um estranho por sua ex.
O clipe continua rolando durante a arrancada, e isto só pode significar que o Maxima não teve o interior depenado e nem nada disto. Provavelmente tem couro natural nos bancos, ar-condicionado, cruise control e um sistema de som decente.
Vê-se um homem sereno e sério, ciente de que vai chutar o traseiro de um Porsche 911 Turbo dali a alguns instantes, porém um tanto indiferente, se preparando para a puxada. No bolso, uma caneta. Nos pulso esquerdo, um relógio dourado e no direito, uma pulseira da mesma cor. Ele se posiciona sem pressa na marcação, espera pelo piloto do Porsche enquanto faz o mesmo, acena para um fiscal dizendo que está tudo certo. Pouco antes da marca de 1:00, vê-se Chavez esboçando o sinal da cruz. Por mais que demonstre confiança no seu carro, ele não dispensa a proteção divina.
Aos 1:25 é dada a largada, e o que se vê é uma disputa acirradíssima. Chavez troca as marchas com decisão, encolhe-se sobre o banco como que para ajudar na aerodinâmica do carro e em nenhum momento fica atrás do superesportivo alemão.
Ao vencer, ele não comemora demais, sequer sorri. É só mais um dia, aparentemente.
Não há registro do tempo, mas tudo indica que o quarto-de-milha foi cumprido na casa dos 11 segundos. Para se ter uma ideia, o tempo do Pagani Huayra, do McLaren 570S e do Corvette Z06 no quarto-de-milha é de 10,9 segundos.
Respetan el tío!
Nada mal para um sedã que vem recheado de fábrica e pesa cerca de 1.500 kg. Claro: o motor V6 de 3,5 litros que originalmente entrega 258 cv recebeu um turbocompressor Precision 6262, mostradores digitais AEM na coluna do motorista, sistema de som e “muchisimos extras más”, segundo o anúncio que o próprio Chavez postou em um grupo de classificados de sua cidade, o Solo Autos Chihuahua.
Claro, estamos falando de um motor japonês cheio de potencial: 0 V6 VQ35 da Nissan é o antecessor do motor VR, família do qual faz parte o motor do Nissan GT-R. E o próprio VQ35, em uma versão com injeção direta de combustível e 300 cv, foi usado no cupê esportivo 350Z até 2006.
De qualquer forma, Marcos Eduardo Chavez Santini deve estar planejando algo muito mais incrível que seu já matador Nissan Maxima, e temos certeza de que ele deve ter um motivo muito bom para passar seu carro adiante. Será que alguém vai ter coragem de se julgar à altura do ícone?