Há certos carros que ficam tão enraizados no imaginário coletivo, entusiasta ou não, que acabam ganhando apelidos — alguns elogiosos, outros pejorativos e outros, ainda, só para marcar alguma característica específica de determinado modelo. Perguntamos aos leitores quais eram os melhores apelidos de modelos de carros que eles conheciam, e agora temos a lista com as respostas!
“Leite Glória” — Renault Gordini/Dauphine
Fabricado no Brasil pela Willys-Overland entre 1959 e 1968 sob licença da Renault, o Gordini/Dauphine tinha a proposta de ser um carro mais espaçoso, confortável e econômico que o Fusca.
Fez sucesso, sim, mas o motor de econômico motor de 845 cm³ também era fraco, só com 26 cv. Contudo, a fragilidade do sistema de suspensão (que usava esferas de ar comprimido em vez de molas) projetado para as boas estradas europeias, não para as rodovias em más condições do Brasil, acabou por render ao carro o infame apelido de “Leite Glória” — leite em pó cujo slogan, na época, era “desmancha sem bater”. Maldade.
“Sapão” — Golf, Escort, Gol, Palio, Clio e vários outros
Ninguém sabe de onde veio a ideia de designar certa geração de um carro chamando-o de “Sapão”. O primeiro talvez tenha sido a terceira geração do Escort nacional, que também é chamada de Escort Europeu (ainda que todos os Escort vendidos no Brasil sejam europeus), mas também pode ser a segunda geração — depende de com quem você está falando. A falta de imaginação também atribuiu o apelido ao Golf 4 (1999 a 2007) e à primeira geração do Clio nacional (1999-2003). O fato é que nenhum deles realmente parece um sapo do tamanho e isso acaba confundindo ainda mais as coisas.
Por isso é melhor nem mencionar o apelido Tubarão, que é compartilhado pelo Chevette de primeira geração e pelo Monza reestilizado que saiu de linha em 1996, além do Puma GT. Se são tubarões, são de espécies bem diferentes!
Fusca — Volkswagen Type 1/ Volkswagen Sedan
A história do Fusca já foi contada e recontada várias vezes, mas aqui vai um resumo do que interessa agora: originalmente, o carro do povo era chamado de Typ 1 nos bastidores da VW, e foi vendido sem um nome específico. Era apenas “O Volkswagen” (igual sua avó fala). Se a fábrica não deu um nome oficial, o público tratou de dar um jeito nisso ao deparar com a variedade de modelos da marca. O primeiro deles foi “Fusca”, que supostamente seria uma corruptela de Volks — cuja origem já foi até estudada em um artigo pelo historiador Laércio Becker.
Com o tempo, o “Fusca” foi ganhando variações e complementos, como “Fafá”, com suas lanternas “fartas” como o decote da cantora Fafá de Belém, introduzidas em 1979 — mesma época em que ela despontou para o sucesso; o “Bizorrão”, com vocação esportiva, motor maior e acabamento diferenciado, e o “Itamar”, quando foi relançado por sugestão do presidente Itamar Franco em 1993. É de se esperar que o carro mais carismático do mundo tenha vários apelidos, não é? com suas lanternas “fartas” como o decote da cantora Fafá de Belém, que despontou para o sucesso na mesma época que a reestilização do Fusca.
“Cornowagen”, o Fusca com teto solar
E um dos mais injustos desta lista é justamente um apelido do Fusca. Em 1965, a Volkswagen do Brasil decidiu lançar por aqui o Fusca com teto solar de série em uma tentativa de alinhar o carro brasileiro com o modelo alemão. Contudo, a imaginação fértil demais do brasileiro acabou por levar a VW a tirar o carro da linha de produção pouco tempo depois.
Alguns afirmam que a piada foi natural, enquanto outros acreditam que foi plantada por algum concorrente para matar a fama do carro — não importa: o fato é que começaram a dizer que a abertura no teto era ideal para acomodar os chifres de um motorista traído. Nascia ali o Cornowagen — e a fama pegou tanto que demorou mais vinte anos para o teto solar se tornar um item comum no Brasil: só foi acontecer na década de 1980.
Lambo do Rambo — Lamborghini LM002
O LM002 é a versão civil de um utilitário proposto pela Lamborghini para o exército americano em 1977. Pesava três toneladas, tinha pneus run-flat, tração integral com reduzida e duas opções de motor V12 — o motor de 5,2 litros e 375 cv do Countach ou um V12 de uso aeronáutico de 7,2 litros. Era o SUV favorito dos ditadores no Oriente Médio e foi o carro que ajudou a marca a se recuperar financeiramente na década de 1980. Se o Rambo tivesse um Lamborghini, seria este, sem discussão. Leia tudo sobre ele aqui!
Godzilla — Nissan GT-R
Embora seja usado para se referir ao atual Nissan GT-R, o apelido Godzilla foi dado ao Skyline GT-R R32 em 1989, por uma revista australiana chamada Wheels. A explicação era simples: o R32 era um verdadeiro monstro na pista. Tendo vindo do Japão, nada mais justo que escolher o monstro mais famoso entre todos os filmes kaiju (como eles chamam os filmes de monstros) japoneses: Godzilla.
Em 2007, com a volta do GT-R depois de abandonar o nome Skyline e o seis-em-linha RB26DETT em favor de um V6 biturbo de 3,8 litros, a imprensa especializada logo tratou de ressuscitar o apelido — que caiu como uma luva ao carro que redefiniu o padrão de desempenho dos esportivos japoneses. Atualmente com 552 cv, tração integral, câmbio de dupla embreagem e um 0 a 100 km/h em 2,5 segundos, o Godzilla da Nissan nunca esteve mais pronto para destruir tudo e todos em seu caminho, igual ao Godzilla do cinema.
“Yellowbird” — Ruf CTR
A revista Road & Track deu o apelido ao CTR depois de testá-lo em um dia nublado que fez a cor amarela destacar-se ainda mais do panorama. É um nome meio bobo para um carro com essa “intensidade”, digamos: 470 cv e 55,3 kgfm de torque em um carro que pesa 1170 kg e tem tantas modificações que é considerado um carro totalmente diferente daquele que serviu-lhe de base — no caso, o Porsche 911 Carrera 3.2 1987.
Por algum tempo ele foi o carro mais rápido do mundo (340 km/h), derrotando Ferrari F40 e Porsche 959, além de protagonizar um dos vídeos onboard mais lendários do mundo, Faszination. Nós não vamos chamá-lo por seu nome verdadeiro, que é bem sem graça. Você vai?
“Daytona” — Ferrari 365 GTB/4
A 365 tornou-se tão conhecida por seu apelido que quase ninguém lembra que a fábrica nunca a chamou de Daytona. O carro era um cupê fastback com um V12 de 4,4 litros e 356 cv, e seu nome teria sido dado pela imprensa automotiva depois da trinca das Ferraris no pódio das 24 Horas de Daytona de 1967 com a 330 P4. Desde então a bela máquina é conhecida pelo nome desta cidade costeira da Flórida.
Recentemente uma Daytona que ficou parada por 25 anos na garagem do dono foi revelada, e será leiloada em fevereiro do ano que vem. Com apenas 1.406 unidades fabricadas, trata-se de um belíssimo achado.
“Belo Antônio” — Simca Chambord
No filme “Belo Antônio” (Il bell’Antonio, 1960), as mulheres derretem-se por Antônio, imaginando que ele seria um amante perfeito. Quando uma delas conquista o galã e casa-se com ele, acaba descobrindo que apesar de belo, Antônio é impotente. O Simca Chambord, lançado em 1959, era um carro elegante, um tanto caro e tinha um roncador V8 de 2,5 litros sob o capô.
Parecia ideal para os ricaços da época, mas o V8 gerava apenas 84 cv, o torque só aparecia em rotações elevadas e a velocidade máxima não passava dos 130 km/h. Com o sucesso do filme na mesma época do lançamento do carro, a comparação foi inevitável.
“Rabo Quente” — Renault 4CV
O Renault 4CV chegou ao Brasil pouco antes do Fusca, em uma época dominada por carrões americanos com enormes motores de seis e oito cilindros instalados na dianteira. Como seu motor traseiro era novidade e seu nome um tanto técnico e difícil de assimilar (quatre chevaux? quatro cê-vê? 4 cavalos?), o pequeno francês acabou conhecido como “Rabo Quente” — apelido que poderia ter sido de qualquer outro carro de motor traseiro que, porventura, fosse ter sido lançado em seu lugar.
“Turbopanzer” — Porsche 917
Panzer é o diminutivo de Panzerkampfwagen, a palavra alemã usada para designar os blindados usados na Segunda Guerra Mundial. Com um desempenho impressionante que remetia à capacidade de ataque dos tanques nazistas, o Porsche 917 acabou conhecido pelos fãs como Turbopanzer, o apelido mais legal e intimidador já dado a um carro de corridas.
É preciso, contudo, atentar-se a uma coisa: o apelido não se aplica ao Porsche 917 que venceu em Le Mans, e sim aos bólidos sem teto que correram na Can-Am em 1972 e 1973, equipados com motores flat-12 turbinados de mais de 1.100 cv.
“Deixavê” — DKW-Vemag
Até 1964 os modelos DKW-Vemag — conhecidos por seu sonoro três-cilindros de dois tempos, pouco menos de um litro e 50 cv — também tinham portas suicidas, sempre bem sacanas com as mulheres de saia, para a alegria da molecada que estava por perto.
Como o nome do carro é pronunciado “decavê”, algum voyeur bem-humorado deve ter criado o o simpático trocadilho. Só não vá sair com seu “Deixavê” na rua esperando que as mulheres achem graça na piada…
“Viúva Negra” — Yamaha RD350
Uma moto aparentemente normal, mas com um motor dois-tempos de 347 cm³ e 39 cv para embalar apenas 140 kg. Seu torque era mínimo em baixa rotação, mas aparecia explosivamente aos 5000 rpm, confrontando os padrões de segurança de qualquer época.
Perigosa mesmo para os mais hábeis, acabou conhecida com o nome da aranha venenosa que mata o macho após a cópula. Era a rival menor e invocada da Honda CB750 Four, conhecida como Sete Galo, uma vez que 50 era o número do Galo no jogo do bicho — e dotada de um quatro-cilindros que roncava muito bonito ao acelerar.