Na condição de coração do carro, é compreensível que o motor fique escondido no cofre, protegido de impactos e da sujeira. De vez em quando, porém, as fabricantes gostam de nos provocar e deixar um pouco (ou muito) do motor para fora.
Perguntamos a vocês quais eram os melhores exemplos de carros de rua com motor exposto, e agora temos a primeira parte da lista com as respostas!
Bugatti EB110
Sugerido por: Willian Kasuo Kido Carrasco
É fácil lembrar do Bugatti Veyron e da parte de cima do motor W16 exposta por uma abertura na tampa do cofre. De fato, sendo o Veyron um superesportivo de extremo luxo feito para ser uma coleção de superlativos sobre rodas, a gente não esperava que ele tivesse uma atitude tão hot rod.
Temos certeza de que o motor é muito bem selado e que não entra uma gota de umidade por ali, mas é impressionante do mesmo jeito
Acontece que seu antecessor, o Bugatti EB110, consegue ser ainda mais badass: o motor é completamente visível quando se olha pelo vigia traseiro. E sem capas plásticas! Você vê a tampa de válvulas, as flautas do sistema de injeção, dutos, fios, cabos e coletores através do vidro como se fossem joias em uma vitrine. Coisa fina.
E, de fato, o EB110 tem um belíssimo motor: trata-se de um V12 de 3,5 litros e 60 válvulas com quatro turbos que na primeira versão do supercarro, o EB110 GT, entregava 560 cv a 8.000 rpm. Era o suficiente para chegar aos 100 km/h em 4,2 segundos com máxima de 336 km/h, o que fez dele o carro mais rápido do mundo em 1991. Foram fabricadas por volta de 95 unidades do EB110 GT.
No EB110 SS, o mais raro, o motor entregava 612 cv a 8.250 rpm, sendo capaz de levar o esportivo aos 100 km/h em 3,2 segundos com máxima de 348 km/h — 1 km/h a menos que o Jaguar XJ220, que tirou o recorde do Bugatti EB110 GT pouco antes do lançamento do SS.
Ferrari F50
Sugerido por: praticamente todo mundo
A Ferrari F50 sempre viveu à sombra de sua antecessora, a F40. E isso é injusto. É claro que fica difícil competir com o visual deliciosamente funcional da deusa italiana, e com seu V8 biturbo de 2,9 litros e 478 cv muito sonoro para um sobrealimentado.
POPS ANS BANGS, YEAH!
Ok, o foco é a Ferrari F50. Há quem diga que ela é feia (discordamos) e que ela não tem o mesmo carisma que a F40 (também discordamos), mas ela tem uma coisa que a F40 não tem: um V12 aspirado de 4,7 litros que pode ser visto de duas formas: pela cobertura de acrílico ventilada que fica no deque traseiro…
… e pela tela preta da traseira. É p o r n o g r á f i c o:
Trata-se do primeiro V12 empregado em uma Ferrari de motor central-traseiro. Ele tinha 60 válvulas, bloco de Fórmula 1 e entregava 520 cv a 8.000 rpm (com corte de giro a 9.500 rpm) e 47,9 mkgf de torque, sendo capaz de levar a F50 até os 100 km/h em 3,7s. E seu ronco também é algo delicioso de se ouvir.
E daí que a F40 passa dos 320 km/h, enquanto a F50 vai “só” até os 312 km/h?
Morgan 3-Wheeler
Sugerido por: Sir_V8_Head
Agora, em uma abordagem completamente diferente, como não adorar o motor V2 pendurado no nariz do Morgan 3-Wheeler? Ele é a cereja do bolo no visual do carro, que lembra uma mistura de sidecar independente com calhambeque de três rodas e pesa apenas 525 kg.
É preciso lembrar que o 3-Wheeler atual é apenas a interpretação mais recente de uma receita bem antiga. A Morgan produziu carros de três rodas com motor de moto entre 1911 e 1939 (e outros modelos de três rodas até 1952), e eles já eram bem parecidos com o Morgan atual. A legislação de trânsito britânica na época os colocava na categoria dos ciclocarros – automóveis de dois ou quatro lugares com motor de motocicleta e peso de até 350 kg, que pagavam menos impostos.
Atualmente, o 3-Wheeler é um veículo de nicho, que promete diversão inversamente proporcional a seu tamanho ou peso graças a um motor V2 S&S de dois litros e 82 cv acoplado a uma transmissão Mazda de cinco marchas vinda do Miata. É o bastante para chegar aos 100 km/h em seis segundos e continuar acelerando até os 185 km/h. E também para escorregar a única roda traseira:
Jaguar XJ220
Sugerido por: Michel TS
O design do Jaguar XJ220 é um dos mais marcantes entre os superesportivos da década de 1990: baixo e largo, com formas curvas e uma dianteira limpa que contrasta com a traseira de carro de corrida, com uma grade que oculta parcialmente as lanternas e nos deixa espiar o coletor de escape.
Há duas abordagens possíveis para a visão do motor através do vigia traseiro. Você pode se lamentar porque a Jaguar decidiu, no meio do caminho, abandonar o motor V12 naturalmente aspirado, pesado e beberrão demais, por um V6 biturbo; ou ficar maravilhado com o fato de este V6 biturbo ser derivado de um bólido obscuro do Grupo B de rali, o Metro 6R4.
Preferimos a segunda opção porque, além de ser algo belíssimo de se observar, o V6 merece respeito: completamente overhauled pela Jaguar, o 3.5 sobrealimentado entrega 550 cv a 7.200 rpm e 65,6 mkgf de torque a 4.500 rpm, acoplado a uma caixa manual de cinco marchas. Foi o bastante para que o XJ220 atingisse os 341 km/h e fosse o carro mais veloz do planeta de 1992 a 1993. Além disso, sendo mais curto que o V12, o V6 biturbo permitiu que o entre-eixos do XJ220 fosse encurtado, melhorando sua agilidade na pista.
Toda vez que olhamos para o motor do XJ220, lembramos que o downsizing pode dar certo. E isto é bom.
Alfa Romeo Tipo 33 Stradale
Foto: Petrolicious
Sugerido por: Gabriel Mesquita
Em 2013 chamamos o Alfa Romeo Tipo 33 Stradale de “o supercarro que tinha coração” porque… bem, olha só para ele. O coração pode ser tanto a grade dianteira (o famoso cuore sportivo) quanto o motor V8 de apenas dois litros com curso curto (78 mm x 52,2 mm) e capacidade para girar a 10.000 rpm.
A potência ficava entre 230 cv e 245 cv – os números variavam de acordo com o acerto de cada um. Parece pouco para um supercarro, mas era suficiente para que o 33 fosse capaz de chegar aos 100 km/h na casa dos cinco segundos e seguir até os 260 km/h enquanto inundava suas orelhas com o berro típico de um motor de corrida italiano. A versão de pista do Tipo 33 era um Spyder feito pela Autodelta (a companhia responsável pela divisão de corrida da Alfa na época), que tinha um V8 de três litros e mais de 400 cv.
O motor pode ser visto olhando pelo vidro traseiro, mas talvez o melhor ângulo seja o do retrovisor interno: ajustando-o da forma correta e olhando por ele, você enxerga cada um oito dos corpos de borboleta individuais do motor, eretos como se estivessem prontos para ajudar a produzir uma bela sinfonia a qualquer momento.
Ford RS200
Sugerido por: Renato Abreu
Se o Jaguar XJ220 pegou emprestado o V6 de um protótipo do Grupo B, o RS200 é um legítimo representante da era mais insana do WRC, e um lembrete constante de que motores de quatro cilindros podem ser verdadeiros canhões.
Repare nas entradas de ar para o motor no vigia traseiro, que é de acrílico
É claro que a gente gosta de motores em V, mas não há como não se encantar pelo quatro-cilindros de 1,8 litro com comando duplo no cabeçote e turbo projetado pela Cosworth. Na versão de competição, eram mais de 400 cv, mas mesmo os 250 cv do modelo de homologação impressionam até hoje – especialmente quando a gente lembra que o RS200 é um carro de mais de três décadas.
Isto sem falar na estrutura tubular desenhada pelo projetista Tony Southgate, que trabalhou por mais de duas décadas na Fórmula 1; na suspensão independente por braços triangulares sobrepostos; e na carroceria que não é bonita no sentido tradicional da palavra, mas foi desenvolvida para ser tão leve e aerodinâmica quanto fosse possível. Para isso, foram realizadas dezenas de testes em um túnel de vento e fibra de carbono foi usada na carroceria. O resultado: um carro capaz de chegar aos 100 km/h em um cisco acima dos três segundos.
Dizem até que ele é um carro feio, com seus faróis esbugalhados e sua silhueta de carrinho de brinquedo. Mas se há um carro que pode se orgulhar de seu quatro-cilindros turbo visível mesmo do lado de fora do carro, este carro é o RS200.