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Os chineses não gostam do cheiro de carro novo – e a Ford quer acabar com ele “cozinhando” os carros

Qual é a melhor parte de comprar um carro novo? Há quem diga que é simplesmente o fato de ser o primeiro dono daquele automóvel, fazendo parte de sua história desde o início. Em muitos casos, comprar um carro novo significa adquirir a última palavra em tecnologia automotiva – algo que vem se tornando mais frequente no Brasil, à medida que os projetos antigos estão sendo eliminados dos showrooms em favor de modelos mais alinhados com o que se oferece nas lojas de mercados como os EUA, a Europa e o Japão.

Contudo, para dar uma resposta mais prática, humana e simples: a melhor parte de comprar um carro novo é o tal “cheiro de carro novo” – aquele odor característico e inconfundível que vai se dissipando com o tempo. Existem até aromatizadores automotivos (os famosos “cheirinhos”) que simulam o aroma de carro novo, que para a maioria dos entusiastas é um dos mais agradáveis que existem.

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Então, foi com estranheza que encaramos a notícia de que, na China, o cheiro de carro novo é odiado por boa parte dos consumidores. Dá para acreditar?

Pois é verdade. E mais: de acordo com a divisão chinesa da Ford, o cheiro de carro novo é um dos maiores problemas da do mercado automotivo naquele país. Segundo um estudo realizado pela agência de pesquisas de mercado J.D. Power, especializada no segmento automotivo, a insatisfação com o odor é a principal razão para que o consumidor chinês desista de comprar um carro novo – seguida de ruído excessivo dos pneus, perda de potência com o ar-condicionado ligado, ruído excessivo por conta do vento e consumo excessivo de combustível. Sim, os chineses acham o cheiro do interior do carro (ou a falta dele) bem mais importante que a qualidade de construção ou o consumo de combustível de um carro. Segundo a J.D. Power, mais de 10% dos chineses reportaram o problema durante a pesquisa.

Parece pouco, mas é preciso lembrar que a China é o país mais populoso do mundo, atualmente com 1,4 bilhões de habitantes – cerca de 18% da população mundial. Sendo assim, é natural que as fabricantes de automóveis dêem ouvidos ao que diz o público chinês.

 

“Narizes de ouro”

Na verdade, o problema é antigo: segundo a J.D. Power, que realiza a pesquisa com o mercado chinês desde 1999, o índice de reclamações dos chineses por conta do cheiro dos carros novos já foi ainda mais alto em relatórios anteriores.

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Não por acaso a Ford estabeleceu um laboratório de aromas em Nanjing, na China, em 2008. Lá, dezoito profissionais rigorosamente selecionados, conhecidos como “narizes de ouro”, são encarregados de examinar cuidadosamente todos os componentes do interior de um automóvel e identificar odores que possam, potencialmente, incomodar os consumidores.

Para serem aptos ao cargo, os cheiradores profissionais precisam atender a uma série de critérios: não podem fumar; não podem usar perfumes, shampoo com cheiro, cremes corporais ou esmaltes; não podem usar jaquetas de couro e não podem ter problemas com rinite, sinusite ou alergias. E devem passar por uma avaliação anual para garantir que estão sempre no topo de sua capacidade olfativa.

 

Mas, afinal, o que é o cheiro de carro novo?

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Você pode já ter visto esta explicação antes, mas não custa relembrar: o cheiro de carro novo é resultado de um processo chamado pela indústria de “desgaseificação”. Em um carro novo, os vários componentes utilizados em seu interior – plásticos, borrachas, couro natural ou sintético, madeira, e até mesmo a cola utilizada para fixar o acabamento – liberam gases, os chamados Compostos Orgânicos Voláteis (Volatile Organic Compounds, ou VOCs). A liberação destes gases ocorre naturalmente por algumas semanas ou meses, especialmente em temperaturas elevadas.

 

E por que os chineses não gostam?

Aparentemente tem a ver com a cultura do país. Estudos sobre os VOCs indicam que a exposição a tais substâncias pode resultar em uma série de problemas de saúde, de irritação na pele e nos olhos a problemas de respiração e até mesmo câncer. Na China, um país abarrotado de gente e com ar bastante poluído, a preocupação com a saúde pode conter a resposta a esta pergunta.

Segundo a J.D. Power, a apreensão sobre o efeito da poluição do ar e dos VOCs sobre a saúde dos indivíduos faz com que o cheiro de carro novo seja visto com ressalvas por parte da população, que associa o odor à intoxicação por produtos químicos.

Por isso, o trabalho dos “narizes de ouro” chineses inclui testar o cheiro de cada um dos componentes do interior dos carros de forma isolada, em potes de vidro esterilizados, em três temperaturas diferentes: 23°C, a temperatura ambiente média; 40°C, emulando um dia de bastante calor; e 65°C, para simular o interior de um carro estacionado sob o sol. Conforme um destes profissionais, Mike Feng, contou ao Forbes India, a ideia é colocar-se no lugar do comprador de um carro novo e encarar o cheiro dentro do pote como o cheiro de dentro do carro ao abrir a porta. Se o odor for incômodo, o material é descartado e substituído.

Aparentemente, porém, todo o cuidado extra que vem sendo tomado para controlar o cheiro de carro novo não é suficiente para a Ford na China. E foi por isto que, recentemente, a fabricante deu início à abertura de uma patente para um sistema para carros autônomos e semi-autônomos – outra grande tendência da indústria – para eliminar mais rápido o odor. Como?

Pela descrição da patente, o carro se dirigiria sozinho a um local ensolarado e deixaria os vidros entre-abertos – opcionalmente, ligando o motor e o sistema de ventilação. Assim, o carro ficaria “assando” sob o sol por algumas horas, os gases voláteis seriam liberados e sairiam pelas aberturas dos vidros.

A Ford não quis comentar mais detalhes a respeito do sistema ou minúcias sobre sua aplicação, e disse que, embora o sistema seja resultado de anos de pesquisa, trata-se apenas de uma solução experimental com chances de uso futuro – sem planos ou prazos.