Mesmo que você não curta mangá ou anime, se você gosta de carros são grandes as chances de já ter ao menos ouvido falar de Initial D, a série quadrinhos e animações japonesa que conta a história de Takumi Fujiwara, um jovem gearhead que, de dia, entrega tofu para o restaurante do pai, Bunta Fujiwara. Mas à noite, com as obrigações cumpridas, ele participa de corridas de drift ilegais nas estradas montanhosas do Japão. Para as duas coisas, ele usa um valente Toyota AE86 preto e branco, um verdadeiro ícone entre fãs e não-fãs da saga.
A história de Initial D nasceu em 1995, quando o primeiro volume do mangá foi publicado no Japão pela editora Kodansha. A história foi publicada até 2013 em 48 volumes. Já a série animada veio em 1998, produzida pela Studio Comet, e foi dividida em oito temporadas que, na nomenclatura de Initial D, se chamam stages.
O apelo de Initial D serve para entusiastas de todas as idades, pois além de retratar os problemas que adolescentes como Takumi sempre enfrentam (conflitos com os amigos, crises de identidade, brigas com a namorada), também dá muita atenção à riquíssima cultura automotiva de rua do Japão. Se você ouve alguém falar no AE86 e já quer saber se é um Corolla Levin ou um Sprinter Trueno, se é um hatch ou um liftback; ou é daqueles que sabe que o código completo da plataforma do carro do Brian O’Conner é “GT/GT-F BNR34” e não aprova totalmente que se use abreviações deste tipo de coisa, o anime — e principalmente o mangá — são um prato cheio.
Para completar, as cenas de corrida e drift no anime tiveram a supervisão de ninguém menos que Keiichi Tsuchiya, o “Drift King” – um dos primeiros a utilizar a técnica das derrapagens controladas em corridas de turismo no Japão; e um dos que ajudaram a popularizar a prática com sua série de vídeos Drift Bible, produzida pela revista japonesa Best Motoring.
Ele até faz uma participação especial!
Isto é bacana porque, se Tsuchiya e seu AE86 preparado ajudaram a tirar o drift das pistas e colocá-lo nas ruas (e depois, de volta às pistas com as competições oficiais de dorifuto), Initial D – que foi feito com sua ajuda – fez com que o drift começasse a se tornar um fenômeno mundial, culminando em meados da década de 2000.
Além da série de anime e dos mangás, Initial D também deu origem a uma série de longas-metragens e games para diversas plataformas – arcade, consoles domésticos como o PlayStation (do PS1 ao PS3) e o Sega Saturn, e portáteis como o Nintendo Game Boy e o PSP.
E, claro, há o filme em live action que estamos trazendo hoje, na íntegra, em HD.
Agora, antes de apertar o play ali em cima, é legal saber umas coisinhas antes. Primeiro: Tau Man Ji D o filme é uma produção chinesa, dirigida por Andrew Lau e Alan Mak, e não é exatamente uma superprodução – afinal, não estamos falando de Hollywood — e sim de sua “cópia chinesa”. Contudo, são 110 minutos que valem a pena na frente da tela. O filme segue boa parte da história geral de Initial D, o que é ótimo, mas também modifica alguns detalhes – possivelmente para tornar o enredo mais atraente a uma audiência geral, e não restringir o público a fãs fiéis.
Há alguns detalhes modificados que são pequenos e não fazem muita diferença, mas há outros que não foram perdoados pelos fãs mais hardcore. Por exemplo, se no anime e no mangá Bunta Fujiwara é um pai sábio, que dá ótimos conselhos a Takumi, mas também é bastante firme, e aprecia beber socialmente; no filme Bunta foi retratado como um pai negligente e alcoólatra, que chega a bater em Takumi com um bastão. O Bunta original jamais faria isto.
Outra mudança acontece quando Itsuki Tachibana, o melhor amigo de Takumi, vai comprar um Corolla AE86 para se juntar a Takumi e seu Trueno. Originalmente, Itsuki é enganado e compra um Corolla AE85 – modelo com o visual e boa parte da plataforma do AE86, porém com um motor 1.5 com comando simples e desempenho modesto, voltado à economia – nada próximo ao 1.6 4A-GE, com comando duplo, 130 cv e imenso potencial de preparação. No filme, Itsuki só compra um AE86 quebrado.
Além disso, a qualidade da produção é… não diríamos que é ruim, mas fica claro que o orçamento não era dos maiores. O que não impede a película de trazer bons momentos, com disputas acaloradas entre Takumi e equipes de pilotos de rua rivais – Takeshi Nakazato, líder dos NightKids, que pilota um GT-R R32 (quer dizer, BNR32); Ryosuke Takahashi e seu Mazda RX-7, líder do RedSuns; e um dos membros da maior equipe rival, a Team Emperor, com seu Mitsubishi Lancer Evolution IV. Os efeitos especiais não são de ponta, mas até que são convincentes e dão um ar divertido às cenas, especialmente nos acidentes.
Initial D não é um filme perfeito, mas merece ser assistido pelos fãs só pelo gosto de ver seus personagens favoritos interpretados pelos atores reais, e também (ou até principalmente) para os novatos à saga, que com certeza vão gostar ainda mais dos animes e dos mangás depois de serem apresentados ao filme.
Abaixo, também colocamos a versão dublada em português: