Vamos repetir: pode comemorar! Depois de quase uma década, a TVR finalmente voltará a fabricar automóveis. Sim, sabemos que nos últimos anos a lendária fabricante de esportivos britânica oscilou entre a falência e a ressurreição, mas tudo indica que desta vez o papo é mais do que sério. Para começar, o atual dono da TVR, Les Edgar, já firmou parcerias com a Cosworth e com Gordon Murray, um dos pais do McLaren F1.
Não faz tanto tempo que a pequena companhia do Reino Unido era um refúgio para os entusiastas dos esportivos à moda antiga: leves, potentes e desprovidos de qualquer ajuda eletrônica a quem estiver ao volante.
Fotos: Alexandre Besançon
Em meio a câmbios de dupla embreagem e motores turbinados, a TVR foi fiel à tradição até 2006, quando o último modelo saiu de linha: o insano Sagaris, um monstro com um seis-em-linha de quatro litros e 380 cv acoplado a um câmbio manual e que parecia capaz de te matar a qualquer momento.
Jeremy Clarkson que o diga
Acontece que a TVR sempre foi uma fabricante independente e, como tal, sua estabilidade financeira nunca foi das melhores. Desde seus primeiros anos a TVR foi conhecida por valorizar, acima de tudo, o prazer ao volante, mesmo que isto significasse investir mais do que ganhava e ocasionasse eventuais problemas de confiabilidade e construção em seus modelos.
A época de ouro da TVR foram os anos 90, quando o dono era Peter Wheeler. Ex-engenheiro químico e entusiasta da marca, Wheeler esteve à frente da TVR por 23 anos, entre 1981 e 2004, e foi durante a chamada “era Wheeler” que a fabricante deu ao mundo alguns de seus automóveis mais famosos, como o Griffith, o Chimaera e o insano Cerbera Speed 12 com seu V12 de 7,7 litros e pelo menos 800 cv (o número real jamais foi divulgado, mas há quem fale em quase 1.000 cv).
Em 2004, Peter Wheeler cedeu a cadeira da TVR para o jovem empresário russo Nikolay Smolensky, e deixou para o novo dono a responsabilidade de produzir o Sagaris, último projeto desenvolvido pela marca na era Wheeler. Apesar de ser um superesportivo purista e empolgante, o Sagaris sofreu com vendas baixas: à época, surgiram boatos de que o ritmo de produção da planta em Blackpool havia diminuído de 12 carros por semana a cerca de três ou quatro. A partir daí, a situação financeira da TVR só se complicou, ocasionando a demissão de 300 funcionários em abril de 2006.
Entre 2006 e 2013 a TVR passou por uma época tortuosa. A marca trocava de mãos entre seus acionistas repetidamente, até que em 2013 foi anunciado que Smolensky havia vendido toda a companhia, incluindo ferramental e direitos sobre nomes e modelos, para o britânico Les Edgar, milionário dono de uma companhia de efeitos especiais e tecnologia da computação.
Desde então, Edgar tem sido econômico nos detalhes, liberando informações a conta-gotas, como nesta breve entrevista para a Autocar em 2013: os novos TVR continuariam sendo “supercarros para o homem comum”, cujo maior rival seria “um Aston Martin usado: rápido, bonito, com motor dianteiro e britânico”.
Quer dizer: até agora. Exatamente hoje, dia 3 de junho de 2015, Edgar anunciou orgulhosamente que a TVR está a todo vapor, e que seus esportivos serão melhores do que nunca. Para isto, ele vai contar com a ajuda de dois parceiros estelares: Gordon Murray ex-projetista da Fórmula 1 e pai do McLaren F1, e da Cosworth, que já fabricou alguns dos melhores motores do mundo para carros de corrida e de rua.
Les Edgar e Gordon Murray
Na verdade a TVR diz que o desenvolvimento do carro já está bem avançado, que contou com a ajuda de Murray e da Cossie, e que continua sendo um tradicional esportivo britânico: dois lugares com motor dianteiro, carroceria de compósito e aerodinâmica trabalhada em favor do desempenho, incluindo até mesmo efeito solo.
Foto: Autocar
Depois de se estabelecer como designer na Fórmula 1 com a Brabham e a McLaren, em 1991 Gordon Murray tornou-se o chefe da McLaren Cars, companhia que em 1992 apresentou o McLaren F1 e, em 2003, juntou-se à Mercedes-Benz para dar vida ao SLR McLaren. Murray deixou a McLaren Cars em 2004 para fundar a Gordon Murray Designs e concentrar-se em novos projetos, como o city car T25 e o método de produção em série iStream.
E é justamente o iStream uma das grandes contribuições de Murray para a TVR: os novos veículos usaram o método de produção, que consiste basicamente em empregar materiais leves e técnicas de construção que priorizam economia de materiais e energia, além de conter custos e acelerar o processo de fabricação. Outros benefícios incluem alta rigidez estrutural e proteção aos ocupantes em caso de impacto. Em uma entrevista exclusiva para o Autocar, Edgar e Murray revelaram que dois modelos estão previstos para 2017.
Foto: Autocar
Ambos serão totalmente inéditos e compartilharão diversos componentes estruturais, e os dois terão versões cupê e conversível. A TVR pretende fabricar algo entre 1.000 e 1.500 unidades por ano.
E onde a Cosworth entra em tudo isto? Com os motores, claro! Quando a volta da TVR foi revelada por Les Edgar, ainda não havia certeza sobre a origem dos motores – se seriam desenvolvidos in house ou se a marca aproveitaria projetos de outras fabricantes (falava-se até em um V8 BMW). Agora as coisas ficam mais claras: o motor será inédito, um V8 aspirado projetado pela lendária companhia britânica, que levará sua força para as rodas traseiras.
O envolvimento de Gordon Murray e da Cosworth dá às notícias sobre a volta da TVR uma credibilidade sem precedentes, e nos deixa empolgados com a volta da marca como há tempos não ficamos. Por enquanto o mais próximo que temos do visual dos novos TVR são as duas projeções feitas pelo Autocar com base nas entrevistas, mas a marca já se comprometeu a revelar as especificações técnicas e as primeiras imagens ainda em 2015. Estamos contando os minutos!