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Project Cars Project Cars #337

Project Bikes #337: a Honda CB500 Four Café Racer ficou pronta!

Olá, pessoal da gasolina! Hoje começa a última parte dessa novela que foi fazer uma Cafe Racer (na verdade uma Brat) com uma Honda Cb 500 Four 1974. Pra quem não viu, ou não lembra, as primeiras partes estão aqui: parte 1, parte 2 e parte 3.

Recapitulando. Estava com a moto “pronta”. Bom, pelo menos a minha parte estava. Faltava apenas fazer o banco para poder ir ao evento (para os que não lembram, o evento era o Distinguished Gentleman’s Ride 2015). Dessa forma, o Pedrinho cumpriu o combinado e entregou a moto no prazo acertado. Peguei ela na sexta, e o evento era no domingo. O bom é que ainda teria o sábado para fazer algum ajuste se necessário.

1 - Moto pronta

E afinal, como a moto andava? De forma geral, a moto estava muito boa. Posição confortável, andava bem, freava bem e tudo funcionava. Mas duas coisas me tiravam do sério, a embreagem extremamente dura (não é exagero meu, andar com a moto cansava o braço), e o problema da carburação. Infelizmente eram coisas que só poderia resolver com mais tempo, e em um mecânico especializado, então teria que ir ao evento assim mesmo.

Aproveitei o sábado para dar uma volta com ela e me familiarizar com a moto, já que ainda não tinha andado com ela de verdade. Nesse dia andei bastante com a moto, e percebi que quando ela esquentava bem, coisa de 30min andando, ficava praticamente impossível de se colocar em ponto morto, e cada vez mais difícil de engatar as marchas, mesmo com ela andando. Ou seja, ficou claro que a gambiarra que o antigo dono tinha feito na embreagem não estava dando conta e ela precisaria ser trocada.

2 - role tanque

Enfim, dia seguinte fomos ao evento. E foi um sucesso. A moto fez sucesso, andou bem (apesar de ter que administrar a entrada de gasolina no carburador manualmente) conhecemos muitas pessoas tiramos muitas fotos, foi bem legal.


Na segunda-feira era hora de começar a pensar em como resolver esses problemas da moto.
Mas para minha surpresa, no fim do dia, recebi uma ligação de um amigo que é produtor e estava fazendo um vídeo para o lançamento da coleção de uma marca de roupas. E ele queria alugar a 500 para participar do vídeo.

Adorei a ideia, seria uma ótima forma de expor meu trabalho. Mas para isso tinha que ajeitar a moto, pelo menos a carburação, já que ela seria filmada andando.

Para deixar tudo mais difícil, a gravação seria na sexta pela manhã. Ou seja, teria que arrumar alguém que desmontasse, limpasse, montasse com os kits de reparo novos, e equalizasse os 4 carburadores em três dias. Não é algo impossível, qualquer mecânico com boa vontade faz isso nesse prazo tranquilamente. Mas o problema é esse, boa vontade.

Conversei com os mecânicos que conhecia, nenhum quis aceitar o prazo de pegar a moto na terça pela manhã e entrega-la na quinta à noite. Até que me lembrei de um, com o qual comprei uma peça para a 500 que ficava do outro lado da cidade, e ele topou o serviço. Claro, ele cobrou um valor absurdo pelo trabalho/pressa, mas eu não tinha escolha. Ao menos, me garantiu que pegaria ela na quinta no final da tarde.

Chegou a quinta-feira a tarde e nada. 20h e nada. Fui pra lá ver o que estava acontecendo. E bom, estavam mexendo na moto, ainda. Os carburadores estavam lindos. Limpos, com as peças zincadas e bi-cromatizadas. O motor pintado, tínhamos acertado para ele fazer isso também. Mas não dava equalização.

Fiquei lá esperando até a 1h da manhã resolvendo isso. Mesmo assim, não ficou perfeita, combinamos de levar lá de novo na próxima semana para resolver definitivamente. Mas ao menos, o problema da moto afogar foi resolvido.

Sexta feira as 5h da manhã levei a moto para a estrada dos romeiros onde seria gravada uma parte do vídeo, e no sábado outra parte foi gravada em São Paulo mesmo, no Campo de Marte. A moto estava ok. O modelo que a usou, o Pepe, apenas reclamou da embreagem.
O resultado disso tudo foi esse vídeo:

Depois disso tudo, fiz mais uma troca de óleo e filtro da moto. Para limpar todo óleo velho das galerias, e deixa-la rodando apenas com óleo 100% novo. Para minha surpresa, após isso, ela começou a fumar um pouco. Mas realmente, era pouco. Levei a moto de volta no mesmo mecânico para acertar de vez a carburação conforme combinado. Lá, conversamos sobre a embreagem, e realmente precisaria ser trocada.

4 - filtro de oleo

Resolvi não fazer isso lá, não estava muito satisfeito com o serviço dele. Apenas peguei a moto com a carburação feita. E saí de lá com uma moto andando bem, mas muito desanimado com os dois orçamentos que recebi. Um para trocar a embreagem, e outro para fazer a parte de cima do motor.

Por indicação do meu pai, resolvi leva-la para esses serviços num mecânico próximo de casa, que por acaso fez a carburação da 500 Four dele 40 anos atrás.

Levei a moto lá, e nessa altura ela estava fumando muito. O que me levou a crer que o antigo dono usou algum aditivo do tipo Prolonga, da Bardhal, que engrossa o óleo. E aí, quando eu troquei o óleo duas vezes, saiu todo o aditivo, o óleo afinou e ela voltou a fumar. Fiquei puto, o antigo dono me enganou, maquiou a moto para vender. Agiu de má fé mesmo. Sairia caro fazer esse motor. Fui feito de trouxa, mas agora não tinha escolha, ia ter que fazer.

Com a moto lá, ele primeiro trocou a embreagem. E realmente, estava com um disco a mais. Mas não era só isso. Ela estava com o cubo e campana muito gastos. Aparentemente o problema tinha sido resolvido.

Notem o desgaste do cubo da embreagem, aonde os discos se apoiam. Agora tudo estava explicado, o antigo dono colocou mais um disco para compensar o desgaste no cubo. Uma solução porca, mas engenhosa.

Agora era hora de abrir o motor. Fiz questão de acompanhar essa parte pessoalmente, sempre quis ver um motor desse aberto. Para minha sorte, o mecânico mexia nela a noite, então eu conseguia ir lá depois do trabalho e acompanhar/fazer perguntas.

Foi aí que as coisas começaram a ficar feias. Cada vez mais via o relaxo e falta de cuidado do antigo dono. O-rings velhos tinham fita veda-rosca (Teflon) para vedar e evitar vazamentos. O cara até fez a junta da tampa de válvulas com um fio elétrico!!

6 - teflon

Depois disso, começando por cima, comando de válvulas ok, sem riscos ou sinal de desgaste e tudo dentro das medidas. Para minha surpresa, a corrente de comando era nova. Mas ao tirar o cabeçote, veio a primeira surpresa.

7 - comandos 2
Em ótimo estado, bem lubrificados e “riscos” superficiais, saíram com um polimento leve.

Extrema carbonização nos pistões e válvulas. E vimos que ela já tinha pistões 0,75mm de sobre-medida. Então esse motor já tinha sido feito mais de uma vez, provavelmente.

Reparem na carbonização excessiva nas válvulas, e óleo nos pistões.

Vamos descendo mais. Paredes dos cilindros e pistões bem riscados. Logo abaixo, a pior surpresa. O ex-dono ao retificar o motor, usou bronzinas de Cb 400. Os mancais da 500 são de um diâmetro menor, assim ele amassou as bronzinas da 400 para servirem. O que acabou as ovalando. Não bastando isso, ele retificou o virabrequim para uma medida menor, para caber nesse mancal ovalado.  Surpreendentemente, mesmo com tudo isso errado, o motor era silencioso. Não batia, não rajava, nem sequer vazava óleo. De fato, ela foi muito bem maquiada para ser vendida. Mas vai saber quanto tempo isso iria durar.

Reparem em como o vira estava riscado.

Ao cotar o preço das bronzinas originais, descobri porque o antigo dono usou as da 400. As 18 bronzinas, 10 de mancal e 8 de biela, saem por R$2.200,00 novas e originais. Ah, e eu iria precisar de um virabrequim também.

Por MUITA sorte, consegui com um conhecido que traz peças dos Eua, um virabrequim original semi-novo com bielas e o kit de bronzinas por 1.800,00. Vieram de uma moto com 5.000 milhas rodadas, estava zerado.

10 - bielas e vira novos10 - bronzinas novas

O que mais precisaria ser comprado/feito?
-Coxim de partida
-Corrente Primária
-Retífica de cilindros
-Retífica de cabeçote
-Kit de juntas
-Kit de retentores
-Banho químico nas peças
-Refazer as roscas espanadas que estavam vedadas com Teflon
-Nova pintura do motor com tinta original Honda

Ao olhar a parte do câmbio, vieram mais surpresas. O antigo dono, ao montar, simplesmente não colocou as arruelas espaçadoras dos eixos de engrenagem. Por isso ficava mais difícil engatar a marcha quando ela esquentava, já que não ficavam no alinhamento correto.

Isso ocasionou também um desgaste nos garfos do trambulador, o que fazia ficar difícil de colocar em ponto morto (somado com a gambiarra da embreagem). Ou seja, precisaria também comprar um conjunto de trambulador e garfos.

Reparem no desgaste extremo ocasionado pelo mal alinhamento das engrenagens. Como não estavam alinhadas, era necessário forçar o pedal do cambio, o que desgastou as pontas dos garfos, reparem a diferença entre as fotos.

Depois de algum tempo, descobri através dos donos de motos antigas que esse mecânico que estava mexendo na minha moto é um dos melhores e mais conhecidos nesse meio. Mas com o tempo, descobri também que era o mais enrolado. Já que estava com a moto parada lá a um bom tempo, coisa de meses. E já que estava montando essa moto pra mim e não para vender, resolvi fazer absolutamente tudo que precisava ser feito. Sem economizar. Assim teria uma moto perfeita e nova por mais 40 anos. E isso inclui:

-Novas pastilhas de freio, com composto mais macio
-Novas lonas de freio traseiro
-Novos rolamentos de roda
-Troca do estator e induzido da parte elétrica
-Retificador moderno
-Modernizada na parte elétrica
-Polir as tampas do motor
-Mesa de platinado nova
-Burrinho de freio moderno
-Coletores dos caburadores novos
-Flanges de escapamento novas
-Nova trava do tanque
-Revisão e limpeza do motor de arranque, com novas escovas

Eram coisas que tinha pensado em ir fazendo com o tempo, mas já que estava com ela parada, resolvi fazer tudo de uma vez.

13 - pistões de freio
Reparem no estado dos pistões velhos.


14 - Valvulas sujas 14 - valvulas limpas
Extrema carbonização nas válvulas. Mas estavam nas medida, Foi necessária apenas uma limpeza e polimento.

15 - peças embalagem original
Algumas peças novas, originais.

 

Montagem

Trava do tanque nova, na embalagem original de época. Motor montado no quadro, já com as tampas polidas. Estator/induzido e chicote originais em péssimo estado.

Depois de muitos meses, muito mesmo, mais do que me sinto confortável em dizer, de muita ansiedade e pressão sobre o mecânico, recebi esse vídeo, ela funcionando pela primeira vez após a montagem do motor.

 

Motor funcionando redondo. Ainda sem um ajuste fino de válvulas e carburação, mas já estava girando e roncando!

Fiquei feliz demais ao ver isso! Hoje em dia uso ela diariamente para ir trabalhar. Rodo mais de 40km por dia, e é uma delícia!

Claro que precisei fazer alguns ajustes depois, essas coisas levam tempo até ficarem perfeitas. Mas agora essa novela chegou ao fim e ela está pronta. No fim das contas, saiu caro demais (muito mais do que eu queria/esperava/podia) mas valeu muito a pena. É o preço que se paga para ter uma clássica de 40 anos como nova. Como montei a moto para mim e não para vender, fiz tudo com calma e com as melhores peças, senão originais, de qualidade superior.

Agora já curti bastante a moto, já rodei mais de 3.000km com o motor novo, que ainda está na garantia. Já está amaciada, andando muito! Muito bem equilibrada, e dimensionada.

O desempenho do motor me surpreendeu muito em relação ao que era, parece outra moto.

Mas como todo bom petrolhead, que nunca está satisfeito, chegou a hora de vendê-la para poder partir para um novo projeto. A ideia era ficar com a 500 e partir para esse novo projeto, mas infelizmente, não tem como ficar com duas motos.  Esse projeto novo também já está pronto na cabeça, só falta começar. Quem sabe não vira um próximo PC aqui no Flatout também?

Então quem tiver interesse, me mande um e-mail ([email protected]). Passo mais detalhes de tudo que foi feito e o que tem na moto.

E assim acaba essa história da 500 Four.

18 - Pronta

Obrigado pessoal!
Abraços e até a próxima!

Por Guilherme Marchetti, Project Cars #337

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Uma mensagem do FlatOut!

Guilherme, que belíssimo projeto sobre duas rodas. Sua moto tem o verdadeiro espírito garagista que imaginávamos quando criamos o Project Cars, além de ser um projeto exatamente como aqueles que vemos babando nos programas de TV. Parabéns pelo bom gosto e pelo cuidado na reconstrução total da moto. Agora desligue seu computador e vá logo curtir a café racer!