FlatOut!
Image default
Project Cars Project Cars #209

Project Cars #209: a história do Putz!, o carro que nasceu em uma varanda

Fala, Flatouters! Meu nome é Carlos Humberto Casadei, tenho 27 anos, sou formado em engenharia mecânica na PUC-MG e morador de Belo Horizonte. Gosto de carros desde pequeno e tenho um gosto peculiar para carros. Além de peruas e hot hatches, também gosto de Kombis anteriores a 1975 – saia e blusa.  Sou um fã de carteirinha do FlatOut e acompanho a galera desde o início do Jalopnik, por isso é um prazer estar aqui contando sobre este projeto. Mas já falei muito de mim. Vamos falar do dono/idealizador/construtor do projeto, meu pai.

 

O início

O “louco” por trás desse carro se chama Humberto Casadei, também engenheiro mecânico formado na PUC-MG (minha mãe também é engenheira mecânica formada lá. O DNA aqui é sujo de graxa), hoje com 63 anos e apaixonado por carros desde novo. Morador de um acampamento das empreiteiras durante a construção de Brasília – entre 1956 e 1966 meu avô participou da construção da capital federal e junto com minha avó, meu pai morou nos acampamentos das construtoras das principais obras da nova capital – ele queria uma opção econômica e segura para substituir sua bicicleta. Na época as opções eram as Lambretas/Vespas (que não se encaixavam no quesito segurança) ou Fuscas (que não encaixava no seu bolso – ele tinha 15 anos).

Foto Lambreta-Vespa

Legenda: Charme elas têm de sobra. Segurança, nem tanto.

A idéia, então, era revestir um motor econômico com dois bancos e duas pequenas portas.

Benz 1886

Não. Não é isso. Tem que ter portas! 

Porém, com 15 anos, sem dinheiro e pouquíssimo – ou quase nenhum – conhecimento técnico, o projeto teve que ficar pra um futuro. Futuro esse que começou a se tornar realidade no início dos anos 1990, cerca de 20 anos após se formar em engenharia (1971).

Em dezembro de 1990 ele resolveu colocar no papel algumas ideias que surgiram no decorrer de todos esses anos. O desenho básico surgiu em um papel milimetrado seguindo as tendências de design da época, ou seja, linhas retas.

Uma grande fonte de inspiração foi o projeto do brasileiro Ari Antonio da Rocha para o estúdio Carrozzeria Fissore, o Aruanda. Um carro conceito de 1963 com proposta de uso urbano, até três passageiros, baixo peso e baixa emissão de poluentes. (Vale a pesquisa a respeito do projeto).

Aruanda - Ari Rocha

Aruanda de Ari Rocha – 1963 

 

O Projeto

Diferentemente da maioria dos Project Cars e da preferência de grande parte dos leitores do Flatout, este projeto não é um swap, não tem apzão treskilimei, não calça uma BBS, não faz bóbóbó, e nem tem um farol de milha matador como esse. Pelo contrário, a idéia era um carro urbano de dois lugares, leve, econômico e que estacionasse em qualquer vaga, ou seja, que fosse prático para o uso nas grandes cidades. Isso tudo em 1990 (a idéia era de 1967), quando não precisávamos de aplicativos de smartphones para fugir do trânsito ou encontrar vagas.

Colocando tudo no papel ficou assim:

Dimensões 

Aproximadamente 1,90 m de comprimento, 1,40 m de entre-eixos 1,10 m de largura e 1,40 m de altura. O suficiente para dois bancos, quatro rodas, o motor e a bagagem. Bem… uma mochila ou caixa de cerveja no máximo. Tá bom, uma pochete e olhe lá (não me julgue, era algo que se usava na época)!

Motor e câmbio

A idéia inicial seria utilizar a mecânica do Vespacar, um simpático triciclo fabricado pela Panauto, uma licenciada da Piaggio Italiana – mesma fabricante da Vespa. Mas era difícil achar este modelo no Brasil e impossível de fazer importação. Então ele optou pela mecânica da própria Vespa sabendo que seriam necessárias algumas adaptações — que serão descritas em breve — mas isso não inclui preparações como as que o Marcelo fez na Cláudia, o Project Car (ou Vespa…) #83.

1961.3.26-vespacar-vespa-economia-veículo-transporte2

Chassi

Seria feito um “esqueleto” com tubos mecânicos para sustentar bancos, suspensão, motor e a carroceria. Projeto simples, sem a necessidade de grandes reforços, afinal seria um carro pequeno e econômico e não um pequeno e abusado como o Fuscabaru.

Carroceria

Fibra de vidro e alumínio. Fácil de moldar, leve e prática. Por se tratar de linhas retas, dava pra ser feito com tranquilidade em qualquer lugar com o mínimo de espaço… um galpão ou uma sala, talvez uma varanda…

Suspensão e freios

Seriam feitas adaptações utilizando-se uma mistura de peças de carros nacionais e peças disponíveis no mercado, como Chevette, Passat, motos e o que mais pudesse ser aproveitado.

Direção

Seguindo a idéia acima, seria feita uma salada de peças. Porém, por já trabalhar na indústria de autopeças e conhecer de perto vários projetos, a cremalheira de direção do Fiat 147 foi a eleita.

 

O local

Ótimo. Projeto no papel! Agora é só colocar a mão na massa.  A “mão” ele já tinha (a vontade era de sobra). A “massa” era fácil de encontrar (lojas de ferramentas, equipamentos emprestados etc). Mas para juntar mão e massa é preciso ter um lugar apropriado para fazer a bagunça. Mas onde?

Com uma esposa, três filhos (Duas meninas e um menino de 13, 9 e 3 anos respectivamente — este último, eu) e trabalhando de segunda à sexta, seria complicado dedicar as horas de lazer para mexer com o projeto longe dos quatro. Oficinas e galpões para aluguel seriam longe, caros e trabalhosos. Fora de cogitação.

Então por que não fazer na garagem de casa? Ótima idéia! Mas morávamos em um prédio e dá para imaginar que um espaço na garagem era disputadíssimo. Fora de cogitação.

O único espaço disponível para o projeto era a varanda do nosso apartamento! Perfeito! Perto da família, não precisaria sair de casa e vai tocando o projeto no ritmo que conseguisse.

“Ok! Você vai fazer os freios, a suspensão e outros componentes menores na varanda até encontrar um espaço/tempo para construir o carro, né?”

“Não! Vou construir o carro todo lá!”

“Mas você mora no térreo, certo?”

“Não. No 7º andar.”

“Putz! Mas como vai descer?”

“Não me faz pergunta difícil na frente dos outros não, cara! Mas… Tá aí! Gostei! ”

“Da pergunta? Você não tinha pensado nisso?”

“Não! Do nome do carro!”

“Nome? Que nome?”

“Putz!”

Este diálogo em particular foi baseado em 90% das conversas que meu pai teve com as pessoas que ouviam falar da idéia, os outros 10% simplesmente não confiavam que iria pra frente e desacreditaram.

Varandas

Varanda do apartamento em 1991 e hoje (depois de algumas reformas) e o Belo Horizonte ao fundo.  A varanda tem aproximadamente 6,5m X 3,5m.

Estava decidida a última pendência do projeto! Desenho, Ok! Projeto no papel, Ok! Componentes, Ok! Local, Ok! Nome, Ok! Agora sim, mãos à obra! Mas a construção de carroceria, chassi, adaptação do motor, suspensão… vai ficar para a parte 2 do PC #209.

Foto capa.

Espero que vocês estejam gostando da história! Aceito sugestões e melhorias para a continuação da história!

E se perguntarem:

“Putz! Mas como vai descer?”, vou responder:

“Não me faz pergunta difícil na frente dos outros, não, cara!”

Tá bom, eu sei como desceu, mas se eu contar, acaba a graça e vocês não voltam, não é?

Até a próxima!

Por Carlos Casadei, Project Cars #209

0pcdisclaimer2