Me chamo Danillo Francisco, tenho 28 anos, sou médico e ex-militar da Força Aérea Brasileira, onde servi como Médico-de-Esquadrão. Moro desde 1992 em Belém/PA, um longínquo território anexo ao Brasil! Neste Project Cars, vou contar a história do meu Toyota Corolla 2000.
O período embrionário do meu envolvimento com carros se deu na adolescência, quando, ainda estudante do Ensino Médio, me fascinei pela física, química e suas aplicações práticas no meio automotivo, em simples questões a serem resolvidas por qualquer candidato de vestibular. Atrito, torque, potência, diversos coeficientes e todas as variáveis que traduziam em cálculos o mundo ao nosso redor simplesmente me fascinaram.
Pátio de aviões históricos da Base Aérea de Belém
Mudança de hábitos
Aos 16 anos de idade, meu hobby era aquarismo e informática (era um lammer nato!), portanto, acho que já deu pra perceber que sou um gearhead com genética nerd, daqueles criados consertando PC da família e jogando Mario Bros. É, foi exatamente assim. Como todo bom “garoto de prédio”, passava a maior parte do tempo estudando e cuidando dos meus aquários, mas algo que vinha da sacada sempre me tirava do foco dos estudos nas madrugadas úmidas amazônicas e me tirava o sono. Morava no 12º andar de um edifício em frente a uma das avenidas mais movimentadas da cidade, palco de competições ilegais entre diversos carros. A partir de então, fervilhava na minha mente um novo fascínio.
E olha que nunca havia compreendido o comportamento do meu pai por gostar tanto dos carros que teve. Ele mesmo já perdeu as contas de quantos Volkswagens da família Gol e Fusca já teve, fora os Chevettes, Fiats 147, etc! Ele sempre teve carros nacionais (hoje tem um Fusca 1968, um Fusca 1995, uma Ford Rural 1975 e um HB20 1.6), mas, depois de muito pesquisar e, querendo oferecer um novo patamar de segurança e conforto para a nossa família, decidiu comprar, em 2000, um Toyota Corolla LE 1995. Um carro com cinco anos de uso que parecia zero!
A mecânica robusta, confiável, a suspensão McPherson independente nos dois eixos, o câmbio manual preciso, o teto-solar, o silêncio, o acabamento interno diferenciado (bancos em veludo vinho) e a economia de combustível em tempos de crise econômica simplesmente nos cativaram. E daí surgiu nossa (e, muito mais pronunciadamente, a minha!) admiração por Toyotas e outros carros japoneses. Aprendi a dirigir em um Fiat Uno de auto-escola sem manopla de câmbio e, quando migrei para este carro, aí sim me senti em um carro de verdade.
Pode parecer ridículo (e é!), mas fiquei realmente impressionado e empolgado quando esse carro apareceu (como figurante!) no filme Velozes e Furiosos 1, por cerca de um ou dois segundos, nesta cena, me fazendo pensar se haveria alguma possibilidade de um Corolla com essa motorização ter algum potencial:
Cena “miada” do filme Velozes e Furiosos 1. Toretto simplesmente me trucidaria por pensar em preparar esse carro!
Construindo um sonho e quebrando paradigmas
Acabei me formando em Medicina e, após seis longos anos de curso andando de transporte coletivo (e olha que não temos metrô em Belém!), fui expurgado para o mercado de trabalho como médico recém-formado. Ainda andava de ônibus nessa época. Trabalhei nos piores hospitais da cidade e estava juntando um dinheiro para enfim comprar meu primeiro carro. Foi aí que meu pai, o Sr. Elpídio, decidiu me supreender e me presentear! Ele fez questão de ir a Campinas-SP e escolher um carro com boa procedência que ele sabia que eu iria gostar: um Toyota Corolla 2000! Agradeci imensamente e com meu suado dinheirinho tratei de comprar rodas WSW W8 17”, pintar o carro com a cor do Corolla 2010 (código 1G3) e encomendar molas Megan Racing americanas 50mm mais curtas.
Andei assim por uns meses e percebi que precisava de rodas mais leves para andar melhor, além de que precisava pensar em uma forma de melhorar o comportamento dinâmico do carro com baixo custo. Foi aí que descobri que o distribuidor era mecânico e tratei de adiantar o ponto de ignição do Corolla. Só isso já fez uma diferença gritante. O giro subia muito mais rápido e a diversão era garantida! Além disso, instalei um short shifter, que acrescentou agilidade nas trocas de marcha. Cada vez mais me impressionava com a resistência desse motor, pois sempre andei na redline, cortando giro mesmo, e nunca tive nenhum problema, com motor original até hoje, com seus 170.000km rodados. Lembremos da taxa de compressão baixa para um aspirado: 9,5:1.
Mas como um project car nunca pode parar tratei de conseguir um corpo de borboleta maior, doado deste Toyota Camry V6 pelo meu mecânico, que me conhece desde adolescente, o Sr. Melo. A peça eu enxergava pegando sol e chuva há anos em uma bancada na oficina de fundo de quintal que costumava levar meu Corolla, mas funcionou perfeitamente. Tratei também de usinar o coletor de admissão original, para um maior diâmetro e fluxo.
Camry V6, motor 3VZ-FE. Doador da “nova” TBI.
TBI de Camry 3.0 adaptada no Corolla 1.8. Coletor de admissão usinado.
As próximas etapas foram adquirir um kit de intake K&N 57i, bicos injetores do motor 7M-GE dos Toyota Supra aspirados de 1986-1992, barra anti-torção de 3 pontos da Ultra Racing e radiador de competição:
Logo logo o coletor de escape, bem como todo o escapamento foi substituído por um dimensionado, em inox, com 2” no final do downpipe, 2,25” no test pipe (cano reto que vai no lugar do catalisador) e o restante com 2,5”. Diâmetro meio grande para um carro 1.8 aspirado , mas não tinha opção melhor no mercado. Estamos falando de um preparação ousada até ‘lá fora’, com peças raras. Era o único anunciado no eBay. O escape aberto dentro da Base Aérea só não era notado quando os motores dos aviões e os rotores dos helicópteros estavam acionados!
Continuando a saga, tratei de comprar rodas Varrstöen V1 provenientes de um Honda Civic VTi adquirido por um amigo do Honda Club – PA Division (que sempre foram parceiros, apesar da rivalidade saudável entre as montadoras), calçadas com pneus Dunlop Direzza 215/45 R16.
Nesse meio tempo, para dar apoio logístico e peças sobressalentes, desmontei uma sucata de Corolla do mesmo modelo, da qual foram removidas diversas peças vitais (motor completo, central de injeção, entre tantas peças que precisei usar e vender), já que estou decidido a ficar com o carro por muito tempo, com a seguinte comemoração em seguida:
Já satisfeito com a performance do carro, porém com curiosidade em ver como se comportaria mais leve, fiz alívio de peso da parte interna. Andei por muito tempo apenas com o banco do motorista, indo, inclusive para o quartel e hospitais trabalhar assim!
Em seguida, fiquei incorformado em utilizar os parâmetros da injeção eletrônica original e adquiri um módulo Apexi SAFC-2 usado, que estava instalado em um Toyota MR-2 no Canadá e, seguindo um diagrama antigo disponível em um fórum inativo, esquecido em um arquivo .pdf, decidi acessar o módulo de injeção (ECU) e fazer a ligação dos fios do módulo Apexi na central original do Corolla e deu certo! A partir daí era só instalar uma sonda lambda wideband da AEM e começar a acertar o carro!
Módulo de injeção APEXi SAFC-2. Simples, mas funcional, controla vazão dos bicos injetores.
Leitor de sonda lambda wideband AEM UEGO para ajudar a regular a mistura ar/combustível
Visitando fóruns gringos antigos sobre Toyotas, descobri uma receita interessante para melhorar a admissão de ar: adaptar corpos de borboleta individuais (individual throttle bodies = ITBs) da moto Honda CBR954RR. Um jovem adolescente americano conseguiu essa façanha e eu estava decidido a repetir o feito. Cortei o coletor de admissão original e uni com as ITBs.
E com a ajuda do amigo Paulo Negrão, mecânico e um brilhante estudante de engenharia elétrica (que está mais para engenheiro mecânico) foi instalada esta admissão, com estes resultados:
Atualmente o carro se encontra em fase de pintura, onde mudará para outra tonalidade de cinza, receberá um scoop funcional no capô doado de um Subaru Impreza para captar ar frio para as ITBs, além de outros upgrades estéticos minimalistas, como detalhes em preto fosco, faróis de milha do Corolla Levin AE111, isolamento acústico do assoalho, paralamas alargados, entre outros que serão revelados nos próximos posts, considerando também as próximas etapas de preparação mecânica, com aumento da taxa de compressão, desenvolvimento de um comando de válvulas mais forte e conversão para rodar com etanol.
Por enquanto é isso, pessoal! Até o próximo post.
Por Danillo Francisco, Project Cars #212