Acho que essa história, por mais simples que seja, merece seu desfecho. Meu Citroën C4 VTR foi a minha porta de entrada para esse mundo de modificações, preparação, track days e todo o universo automotivo que hoje faz parte da minha rotina. Não vou negar que o projeto me frustrou por vários momentos. Todas as economias foram investidas ali. A falta de experiência, certa inocência e vontade de contrariar as expectativas me fizeram investir num projeto que no fim das contas, não trouxe os ganhos esperados. Talvez hoje tivesse sido tão diferente, mas tudo isso começa a fazer sentido uma hora ou outra.
Bom, lá íamos nós para nosso segundo dia na pista juntos. O carro na mesmíssima configuração da primeira edição, com a única diferença na calibragem que agora era de 38 psi nos quatro pneus frios, diferentemente dos 40 psi que foi a calibragem na primeira experiência. Logo na primeira saída para a pista já baixamos nosso tempo da primeira edição. E assim perdurou durante o dia. A cada saída um golinho a menos até que no fim do dia nossa melhora foi de mais de quatro segundos no tempo de volta.
Poxa, despencamos da casa de 1m29s para 1m25s, mas eu me sentia anestesiado. Aquela sensação que eu tinha nos simuladores (rFactor, iRacing, etc) estava sendo real. Dessa vez a tentativa de melhorar meu tempo não dispunha mais do botão esc. Dessa vez estava realmente acontecendo.
Eu sei que talvez muita gente aqui enxergue track days de um jeito diferente. Eu não consigo. Não sei se isso se deve ao fato de que foi algo que planejei, sonhei e esperei por muito tempo, mas os dias na pista pilotando são diferentes. É uma sensação estranha, momentos de medo mesclados com alegria, mas sempre sob tamanha tensão. A nuca fica dura, é um dia com elevada carga de stress. Quando ele termina, a sensação é que o corpo vai devagarinho se recuperando, se livrando de uma substância tóxica. Nos dias posteriores a vontade já é de vivenciar aquilo de novo. Quando percebe o vício é real e você já não quer mais a mesma dose de antes.
Foram apenas dois tracks com o VTR, ainda tinha muito pra explorar do carro mesmo sem novos upgrades, mas a necessidade de doses maiores me fez não o querer mais. Hoje eu penso se a escolha foi sábia e quer saber? Negativo. Mas anunciei o carro, pouco tempo depois ele foi embora. E sabe aquela história de doses maiores? Comprei uma BMW E36 325i Coupe Manual.
Depois disso montei uma oficina junto com alguns amigos e estou naquela fase de começar a vender as coisas de casa para sustentar o vício. The trouble is real. Brincadeiras a parte, é isso pessoal. Todo esse caminho mudou a minha vida desde então, e posso dizer pra vocês que acho que fui bobo e errei muito no projeto com o VTR, mas o fato de ter executado ele foi ampliando os horizontes e possibilitando tudo que veio em seguida. Hoje eu vivo meus sonhos e isso não tem preço!
Aqui se encerra um Project Car bem fraco no que diz respeito ao carro, mas espero que a trajetória e o rumo que as coisas tomaram tenham sido inspiradoras de alguma forma.
Pra quem ficou curioso sobre a E36, já tem bastante progresso, um track day na bagagem, problemas, várias manutenções, um motor de 328 pra swapar e milhões de histórias pra contar. Quem tiver interessado, é sempre um prazer mostrar tudo isso e mais um pouco lá no Cavallaria Garage no Youtube!
Por Guilherme Cavalli, Project Cars #375