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Project Cars Project Cars #376

Project Cars #376: a despedida de uma Chevrolet Caravan Diplomata 1988

Quando postei a segunda parte do PC #376, sobre o Comodoro que foi vendido num curto espaço de tempo, a caixa de comentários foi recheada com comentários antagônicos. Alguns reconheceram que esse Project Cars seria interessante por trazer mais de um modelo clássico de volta aos padrões originais e depois ser passado adiante, para outros entusiastas. Outros não concordaram com o fato de eu, supostamente, não aproveitar esses automóveis.

O que nos leva à terceira e última parte do PC#376, que conta sobre a aquisição do substituto daquele Opala Comodoro. No mesmo dia que o Comodoro foi vendido, iniciei a busca por outro Opala que precisasse de uma “revitalização”, sem nenhum trabalho muito extenso. Separei anúncios por todo o Rio Grande do Sul, alguns em Santa Catarina e outros em São Paulo, por questões logísticas. Mas o escolhido estava mais próximo do que eu imaginava.

Por uma manobra do destino, meu amigo Miguel, colecionador e proprietário de diversos carros interessantes, decide disponibilizar alguns itens de sua coleção pra venda. E o encarregado disso foi ninguém menos que meu amigo pessoal e colega de trabalho Mário César Buzian, uma verdadeira enciclopédia automotiva. Para refrescar a memória dos leitores, o Mário (também conhecido como “Deus dos carros”) foi o responsável pela venda de muitos automóveis que foram ofertados no “Achados Meio Perdidos” do Flatout.

Foi um intenso dia de trabalho (ou lazer, como podemos chamar) fotografando e trocando ideias na garagem do Miguel, ouvindo os infinitos causos do Marião, relatados com pormenores que nos fazem voltar aos anos 80 e comendo um belo churrasco, ao qual contamos com a companhia do também antigomobilista Daniel Farinha.

Dentre os carros que seriam disponibilizados um me chamou muito a atenção: nos idos de 2009, quando recém habilitado eu guiava um Diplomata 250-S 1988, o Miguel aparece com uma recém adquirida Caravan Diplomata 1988, cinza Nimbus com interior azul Pilot. Me lembro de ter ficado surpreso com a conservação exemplar dela, bem como itens muito interessantes (rádio Albatroz, porta-fitas, manual do proprietário, emblema da concessionária, etc), e ela sempre foi um carro que cobicei.

E ela estava parada havia uns quatro ou cinco anos sob densa camada de poeira, mas com todo seu fulgor, que outrora me encantou, ainda vívido. Imediatamente comuniquei ao Mário sobre meu desejo de tê-la, e assim ele formalizou a proposta de compra no final do churrasco, numa negociação simples, transparente e objetiva- perfeita pra todos nós.

Foto 01- na garagem do Miguel

Na noite seguinte, uma sexta-feira, foi a vez de buscá-la, levando uma bateria 0km. A Caravan estava com meio tanque de gasolina ainda, mas a bomba de combustível parecia não funcionar. Retiramos do local, demos umas batidas e desentupidas, remontamos e o motor pegou imediatamente, sereno e silencioso.

No posto, meu pai (e fiel escudeiro) ajudou a calibrar os pneus enquanto eu registrava o momento. E o sábado foi completamente destinado à limpeza dela. Que carro íntegro! Nem mesmo a regulagem do carburador tinha ressalvas, estava perfeita, mesmo depois de tanto tempo parada.

A lista de serviços dela foi curta: refazer a pintura do teto (ainda original, mas desgastada), uma lavagem de estofado e alguns pouquíssimos itens de acabamento, além da instalação da antena Olimpus (feita pelo Schumacher, já citado anteriormente). Também precisamos fazer uma revisão no ar-condicionado.

Agora sim, ela está pronta e digna de ser apresentada: senhores, eis uma Caravan Diplomata SE 4.1/S 1987/1988, na cor cinza Nimbus e com interior azul Pilot, adquirida com apenas 108 mil km originais!

Foto 04- apresentação Foto 05- apresentação Foto 06- apresentação

No entanto, o mercado das Caravans se mostrou muito mais restrito que o de Opala cupê. E mesmo impecável, ela custou um tempo até encontrar seu comprador ideal. Sorte minha, que pude desfrutar dela por um bom tempo.

No final de 2015, por exemplo, o Leonardo Padilha, da Hot V8 (mesmo amigo que conseguiu as rodas originais do Comodoro cupê), convidou a turma do SinPic-RS, ao qual sou associado desde a fundação, pra um churrasco na sede da empresa, em Dois Irmãos.

E lá foi a Caravan fazer um bate-volta, onde no mesmo dia rodou mais de 800 km sem nenhum sinal de cansaço.
Foi também a primeira vez que o Marião teve a oportunidade de vê-la pronta, ficando com um sorriso no rosto durante os mais de 100 km que rodamos juntos. Nessa mesma tarde, tive a feliz oportunidade de guiar uma Caravan ambulância com apenas 1.960 km originais (ex- Infraero), bem como iniciar amizade com os amigos Luis Otávio, Raul e Erik.

Foto 07- Caravan na sede da Hot V8 Foto 08- Caravan em Ivoti Foto 09- Buzian conferindo a Caravan pronta

Com a Caravan, também participei de alguns eventos de antigos em Pelotas e na praia do Cassino, inúmeros passeios dominicais e noturnos, e pelos 6 meses que fiquei com ela, não tive nenhum aborrecimento.

No encontro de São Marcos-RS não pude ir de Caravan, mas ela foi lembrada pelo amigo Alberto Muller da POAPARTS, que nos presenteou com um chaveiro da Simpala, fechando o kit emblema, chaveiro e estojo do manual.

Ela até foi convidada pelo amigo Alexandre Hirata para ficar exposta no Partage Shopping, em Rio Grande-RS, pra divulgar o 1º Motorock.

A despedida dela também envolveu muitos dos amigos citados acima: com a ida dela pra São Paulo-SP, o substituto foi providenciado.

Aproveitei para levá-la, junto com meu pai, ao encontro de São Sebastião do Caí, ocasião em que se realizou o segundo encontro oficial do SinPic-RS.

De lá, seguimos em comboio até a sede da HOT V8, de onde ela foi recolhida para seguir até a Gabardo, de onde seguiu viagem até ser repatriada em SP, enquanto tomei o comando do substituto.

(A primeira foto ilustra a Caravan em São Sebastião do Caí, no derradeiro encontro comigo. A segunda, mostra o embarque dela em Dois Irmãos, e a terceira retrata a chegada em Santo Amaro-SP)

Uma das frases mais tocantes dessa história, pra mim, veio do Marião: “eu estive junto na compra dela, nas curtidas com ela, e agora te acompanho ao se despedir dela”. Foram palavras marcantes, pois mostra que não se trata apenas do comércio desses carros, mas do reconhecimento que eles tem alma- e também dos amigos que eles nos proporcionam.

Encerra aqui mais um Project Cars, que envolve não somente carros, mas os amigos que eles nos proporcionam. Amigos que permanecem amigos, mesmo com o arrependimento de ter vendido a Caravan (né, Miguel?).

Agradeço a todos pela atenção e pelos comentários, mas vou tocar os próximos projetos de revitalização e detalhamento dos clássicos. Segue uma prévia do desafio atual:

Foto 17- Projeto atual

Um abraço a todos!

Por Fernando Pavani, Project Cars #376

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Uma mensagem do FlatOut!

Pavani, parabéns por seu trabalho de recuperação de futuros clássicos. Como pudemos perceber nos seus textos, para curtir um carro ou uma aventura automotiva você não precisa necessariamente dirigir exaustivamente a máquina. Uma boa caçada, uma restauração e a entrega a alguém que irá cuidar do carro como ele merece também pode ser tão recompensador. Melhor ainda quando você transforma isso no seu trabalho e passa a ganhar a vida com isso. Mais uma vez, parabéns!