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Project Cars Project Cars #450

Project Cars #450: o Chevette L 1979 ganha (um pouco) mais potência

Por Leonardo Contesini, Project Cars #450

Discovery Turbo e YouTube criaram uma certa distorção na percepção da realidade por parte de alguns entusiastas — especialmente os menos experientes. Eles dão a impressão de que um projeto é rápido de se fazer. Acho que tem a ver com o Overhaulin’ e aquele clichê do “será que vamos terminar o carro a tempo?”… equipe de 25 pessoas altamente qualificadas com orçamento de patrocinadores milionários?

Na vida real, ao sul do Equador, na sempre cambaleante economia brasileira, as coisas são um pouco diferentes — e quem já fez um projeto pode confirmar o que digo (por favor, na caixa de comentários pra me dar uma força!). É por isso que este Project Car ficou tanto tempo parado: muita coisa aconteceu por estas bandas entre 2017 e 2020. O carro mudou de dono, o mecânico teve seus projetos pessoais urgentes pra resolver, veio uma pandemia etc.

Mas em janeiro de 2021 o negócio andou (o projeto, não o carro, que nunca deixou de andar). No capítulo anterior do Chevettinho, contei como ele chegou até nós, mostrei como ele era original, apesar de bem usado e do “facelift” e adiantei algumas novidades para o futuro. Bem… estamos no futuro daquele capítulo.

A primeira coisa que fizemos — e que é a primeira coisa a se fazer ao comprar um carro velho antigo usado — foi revisar absolutamente tudo e montar uma lista de compras e reparos. Havia muita coisa original: os amortecedores, os discos de freio, os flexíveis, todas as buchas da suspensão, todos os rolamentos, rodas, pneu do estepe e tudo o que não se troca normalmente em 85.000 km.

Foi legal descobrir tanta coisa original? Foi. Até ver o tamanho da lista de compras. O antigo proprietário do carro não achou muito legal. Mas essa tristeza também durou pouco: à medida em que cada componente era montado, a empolgação com o carro aumentava.

Nessa revisão geral trocamos amortecedores, pneus, buchas, coxins, rolamentos, correias, freios e fluidos, evidentemente. O carro já rodava — e rodava bem. O único inconveniente era o escape, que teve um catalisador adaptado na época do Controlar, em SP (a vistoria de emissões), e ficou baixo demais, além de diminuir o desempenho do carro.

Em seguida, começamos a reversão do facelift. Os faróis originais voltaram ao lugar de onde jamais deveriam ter saído, e os para-choques largos foram trocados pelos cromados originais. Mas, na hora de tirar os borrachões das portas e laterais, um problema: eram todos rebitados. Carroceria furada como a parede de uma loja de quadros. O Esquadrão Classe A aqui de casa sabe fazer muitas coisas, mas funilaria não está entre elas. Como um reparo exigiria uma repintura, e o carro em si merece uma repintura completa, deixamos os borrachões no lugar, por ora. Ficou um pouco esquisito, mas acostuma. O que importa é que ele anda.

Depois veio a hora de limpar o carro por dentro e descobrir seus segredos. Jogamos fora os tapetes que estavam nele (não eram originais, ok?), desmontamos os bancos e começamos a aspirar o carpete. Ao final da aspiração, uma surpresa: o carpete estava impecável. Nos bancos traseiros, uma moeda de 1979 estava perdida entre o assento e a carroceria, também muito bem conservada (a carroceria, não a moeda), porque o primeiro proprietário do carro não tinha filhos, nem levava passageiros no banco de trás. Em certo ponto, é possível até mesmo ver o restante do plástico de proteção do banco quando novo.

No final de 2018, o segundo ano do carro por aqui, o Chevette ganhou seu primeiro upgrade: um escape 4×1. Ele foi o ponto de partida da remoção daquela porcaria adaptada que matava o carro e raspava em qualquer ondulação da pista. Ele foi também o ponto de partida dos upgrades que o carro tem hoje — mais adiante vou falar sobre eles.

O coletor foi instalado, mas sem o restante do escape. Isso só aconteceu em 2019. Antes, porém, o antigo proprietário do carro, meu sogro, decidiu dar o carro de presente à Renata, minha esposa — por isso o carro não é meu, sacaram? Também é por isso que ela montou o escape com o irmão, o Guilherme, enquanto eu fazia qualquer outra coisa. Compramos os tubos, as curvas e começaram a fazer o escape. Nada especial aqui: um cano de duas polegadas, um abafador menos restritivo, uma saída cromada e só.

O carro ficou quase um ano assim. Na virada de 2019 para 2020 começamos a instalação do outro lado do motor: a admissão com o carburador 2E, usado nos Chevette mais novos. E aqui surgiram coisas que só quem já meteu a mão na graxa sabe: parece simples: se o Chevette usou, é “plug ‘n’ play”. Não muito: muda ignição e motor de partida. E os desmanches não costumam separar as peças por ano, apenas por modelo. Então foi preciso caçar um motor de partida dos Chevette mais novos, que fica mais “deitado” e abre espaço para o coletor novo.

Logo que reunimos todas as peças, veio a pandemia e outras questões pessoais não-relacionadas aos carros. O tempo ficou escasso e o Chevette entrou em quarentena junto com o resto do mundo. Só voltamos à mecânica em janeiro de 2021, quando o camarada Leandro Victor veio passar uns dias por aqui e deu uma força para completar o motor e o chicote elétrico, que estava a verdadeira gambiarra.

Pintamos as capas de polias e polias, fizemos o coletor de ar frio e o Guilherme terminou de acertar o carburador. O projeto foi simples, feito com peças de prateleira (não necessariamente da prateleira da GM): sobre o 2E há uma tampa de TBI do Escort AP , com um tubo direcionado para a frente do carro, em um recorte circular no painel dianteiro para captar ar frio. Na hora de montar, contudo, o filtro de ar originalmente previsto não permitia o fechamento do capô. Procuramos algumas opções, mas acabamos com um recurso antigo: uma tela metálica presa com uma abraçadeira metálica.

E este é o estado atual do carro. Ele está confiável, ficou mais ágil com a carburação e o escape novos, e vem sendo usado com frequência nos fins de semana pelas estradas rurais esquecidas pelos motoristas domingueiros. Ainda há muito pela frente: precisamos trocar os sincronizadores do câmbio, reparar as molas do banco do passageiro, que acabaram torcidas, e, claro, remover os benditos borrachões. Mas isso são apenas detalhes. O que interessa é que o carro já pode ser usado, já é usado e diverte todos que o dirigem.

Espero voltar em breve com mais novidades. Até a próxima.