Bom dia, Flatouters! Meu nome é Guilherme Marchetti. Sou de São Paulo/SP, tenho 27 anos e nasci e cresci em uma família petrolhead como a maioria de vocês. Cresci em cima das motos do meu pai, e sempre mexendo, quebrando e arrumando os carros novos e antigos.
Sempre fui fã de carros, mas entrei primeiro no mundo das motos. Aos sete anos tive a minha primeira. Uma Yamaha Mini Enduro 1972 50cc 4 marchas, que tinha sido do meu irmão mais velho.
Aprendi a andar de moto nela. Sempre passava as férias no litoral norte de São Paulo, numa praia tranquila, com ruas de terra, e foi lá onde passava todos os dias das férias em cima das motos.
Depois veio uma Rx 80cc 1980 “preparada pra trilha”, arte do meu pai, que sempre foi trilheiro e queria nos levar pra esse mundo.
Escapamento alto, para-lamas e tanque da Yamaha TT
Depois dessa, comecei a seguir o caminho do meu pai e meu irmão para as trilhas. Primeiro com uma XL 125, depois uma Xr 200, uma Tornado, aí uma Suzuki Dr 400, e por fim uma Yamaha Wr 250. Já fiz muita trilha no Brasil todo, Pantanal, Serra da Canastra e por aí vai.
Mas depois, já mais velho, entrando na faculdade, trabalho, e outros interesses, acabei deixando as trilhas um pouco de lado. Como ainda não tinha carro, peguei uma XL 250 ‘82 do meu pai, que tinha desde zero, e estava largada em casa há anos. Ele usou essa moto em trilhas por muito tempo, e ela estava bem detonada. Mas tinha todas as peças originais guardadas. Foi aí que nasceu meu primeiro projeto (que posso detalhar melhor em outra oportunidade). Foi apenas uma reforma/restauração, nada de customização. E a moto ficou linda. Temos ela até hoje com placa preta.
Enfim, chega de falar de mim. Vamos ao que interessa nesse PC (ou PB?)!
Como sempre fui apegado às motos, sentia falta de uma para usar na cidade. Por algum tempo cheguei a pensar em pegar uma Hd Iron 883. Mas, logo a ideia saiu da cabeça (graças a Deus) e pensei, “porque não fazer a minha moto?”.
Sou formado em Desenho Industrial, e sempre mexemos e fizemos a manutenção das motos em casa, então algum conhecimento e ferramentas, eu tinha. Assim começou a pesquisa, qual moto pegar, como fazer, quais peças usar e etc. E resolvi comprar uma Cb 450 Dx (a nacional dos anos 90) e montar uma Cafe Racer com ela. Por que? Porque sim! É uma moto barata, de fácil manutenção, com mecânica confiável e fácil de deixar com um visual dos anos 70 usando peças das irmãs mais velhas. A ideia era gastar cerca de 10.000 com moto e peças mas, como vocês sabem, um Project car/bike nunca fica nos planos de gastos.
Moto comprada. Estava inteira, alguns até teriam dó de cortar
E foi aí que montei meu primeiro projeto de customização (que também posso detalhar melhor em outra oportunidade). Gastando bem mais do que queria e podia, mas usando apenas peças boas, na maioria importadas. Com muita referência de projetos gringos, e apanhando muito pra fazer, mas no fim deu certo. Tentei seguir a risca o visual das Cafes dos anos 70.
Rabeta em fibra de vidro feita por mim mesmo, e parte elétrica escondida dentro dela
Cheguei a tentar levar isso pra frente e trabalhar com isso de fato, mas ainda não deu certo. Coisa que pretendo retomar mais pra frente.
Como um bom Petrolhead, sempre vem aquela sede por um desempenho a mais. Aquela exclusividade, e vendo fotos de projetos gringos, pensei “bora vender essa 450 e ir atrás de uma Honda Four!” Vocês que gostam de carros ou motos antigas, sabem que as Four são únicas. Ronco característico. Motor grande, foram as primeiras com motores de 4 cilindros em linha, são as avós das Superbikes de hoje. Mas qual pegar? Qual ano? Quanto Gastar? O que fazer?
Café ou Brat?
Essa é uma questão importante que define o projeto. Qual linha seguir afinal? Primeiro de tudo, o que é uma Cafe Racer?
Tudo começou na Inglaterra. Na década de 50-60 os jovens ingleses estavam divididos principalmente entre os Rockers e os Mods (de Modern). Os Rockers, na pegada mais agressiva, de velocidade, motos preparadas usando as Triumph, Norton, Bsa e Jawa. E os Mods, com um estilo mais classy e suas Lambrettas.
Nessa época (na verdade, desde sempre), os jovens queriam ver quem era o mais rápido. E pra isso apostavam corridas nas estradas, de um Cafe até o outro. Daí o nome Cafe Racer. Na época até era um modificação comum, colocar o motor das Triumph, que era mais forte, no quadro das Norton, que tinha uma ciclística melhor. Aí que surgiram as Triton. A meta na época era fazer as motinhos chegarem nas incríveis 100mp/h. Velocidade conhecia como “the ton”. Daí veio o termo “do the ton”, que era chegar aos 160km/h.
Para se fazer isso, a moto recebia upgrade de freios, carburação, cabeçote, escapamento, mas principalmente, alívio de peso. Tudo, absolutamente tudo que não era necessário para correr, era tirado. Levar garupa? Esquece. Pedaleiras recuadas, guidão baixo e rabeta para uma melhor aerodinâmica, e pronto. A ideia de uma Cafe Racer é ser rápida.
No final da década de 60 chegaram as Honda Four e, sem exageros, mudaram pra sempre a história do motociclismo.
Mas, o que é uma Brat?
Brats são motos Japonesas customizadas num estilo Low Budget. Algo como uma rat/bobber do oriente. Mas como lá as coisas são diferentes, pode-se resumir visualmente uma Brat como uma Cafe Racer para duas pessoas. Banco longo, guidão baixo, sem itens supérfluos.
Então, decidido, seria uma Brat. Coisa que minha namorada ajudou a decidir. Especialmente por ser uma moto para duas pessoas.
Uma das referências para o meu projeto
E a escolhida foi, pasmem, a 500 Four. Mas por que a 500? Como assim não a Galo? Wtf? Foram perguntas que ouvi muito, e a resposta é muito simples.
Primeiro, na verdade, a escolha era uma 550 Four. Nem tanto pelas 50cc a mais, na questão do desempenho ela difere muito pouco da 500. A principal diferença entre a 500 e a 550 Four, é no acionamento da embreagem, que na 550 é mais bem resolvido e bem feito, e tem um funcionamento melhor e mais suave. Mas aí entro em outra questão, a 550 é mais rara no Hue Br, mais cara. E as que você encontra geralmente estão em muito bom estado, em que uma customização desse nível seria um crime para os puristas. Resolvido qual moto, vamos então em busca da 500 Four. Qual versão escolhida? A K1 ou K Model. A primeira de todas, fabricada no Japão de 1971 a 1973. Por que essa? É mais fácil de encontrar por aqui.
Agora a pergunta mais ouvida nesse tempo de escolha/construção e até hoje. “Por que não uma Galo?”. Pode parecer estranho, mas é a pergunta mais fácil de responder. A Galo (pra quem não sabe, é a Cb 750 Four. Não é a Cbx!!) é o mito. É sim uma moto incrível, não tiro esse mérito dela. Era a mais forte da época, passava dos 200km/h. E como vocês sabem, nesse meio, a irmã maior, sempre ganha mais fama simplesmente por ser maior.
Mas na minha opinião, a galo é overrated. Com um olhar crítico, você vê que como motocicleta, a 500 é melhor. A Galo é comprida demais, pesada demais, grande demais, larga demais e principalmente, cara demais. Uma moto sem agilidade, ruim de curva e (de novo) extremamente pesada.
E outra questão é, a Galo tem cárter seco. Ou seja, ela tem um tanque extra para o óleo do motor. Esse tanque fica na lateral direita da moto, sob a tampa lateral com o logo “750 Four”.
Na minha opinião, nessas customizações no estilo Cafe e Brat , o mais legal é deixar aquele “triângulo” do quadro da moto abaixo do banco livre. E na Galo, devido ao tanque de óleo, seria uma tarefa bem complicada.
Repare no tanque de óleo na lateral
O vão abaixo do banco
Por isso, a escolhida foi a querida e elogiada por todos os mecânicos especializados, a 500 Four. Menor, mais leve, mais ágil e com mecânica mais resistente e confiável. Agora a história para encontrar a moto, e ir buscar, fica para a próxima parte. Valeu, até lá!
Por Guilherme Marchetti, Project Cars #337