eu fiz coisa de dois anos de estagio na bridgestone firestone antes de me formar la por volta de 1991 lembro me de muita coisa daquela empresa a primeira empresa de verdade estruturada em que fui contratado como funcionario [caption id= attachment_341780 align= aligncenter width= 999 ] a fabrica de pneus onde comecei em santo andre[/caption] o pessoal que trabalhava la e o de que me lembro com mais clareza era muito jovem e idiota para perceber que ali existia muita coisa realmente boa que hoje eu entendo ser extremamente rara nesta industria assim e a vida as vezes as melhores oportunidades sao perdidas simplesmente por nao serem reconhecidas como tal o plano do divino nao e para a gente entender realmente era tambem um mundo muito diferente de hoje e talvez isso sozinho explique o que era raro e divertido ali hoje a industria e primeiro mais focada em grana do que em automoveis o que certo ou errado — nao vamos julgar aqui neste momento — mudou completamente o ambiente interno e os objetivos pessoais e empresariais que permeiam tudo mais tarde tive um chefe que mesmo sendo gente boa pacas tinha um motto que parece explicar claramente a industria hoje estou aqui para trabalhar nao para fazer amigos mas o fato e que definitivamente o ambiente interno dos departamentos de engenharia na industria degringolou muito talvez seja para melhor para dar uma seriedade a atividade que hoje mais se assemelha a assistencia tecnica a juristas do que engenharia em si [caption id= attachment_341781 align= aligncenter width= 999 ] isso parece passado distante nesse mundo de home office[/caption] temos que desenhar carros em volta de uma legislaçao que dita desempenhos diversos temos que nos proteger de qualquer fria causada por alguma idiotice que os consumidores cada vez mais idiotas conseguem perpetrar temos que nos defender documentando todas as nossas atividades e nao gerando confiança no chefe o chefe e um aspone que nao manda em nada nao decide nada uma engrenagem ainda menos interessante da maquina e nem vou falar do discurso corporativo antes uma piada divertida para rirmos em particular mas que agora e serio enfim divago o importante e que era um ambiente leve e cheio de piadas e conversas divertidas e era uma engenharia pequena onde todos se conheciam e tudo acontecia sem burocracia os designers desenhavam o que pediamos sem formalidades os especialistas davam dicas os prototipos eram feitos e as soluçoes testadas sem muita interferencia externa ou objetivo definido e centro de custo para debitar as horas uma liberdade danada em que o trabalho fluia sem barreiras como isso foi acabar ajudava que a engenharia tinha nada menos que tres chefes um brasileiro um japones bridgestone e um americano firestone nenhum deles parecia interessado em ser chefe de verdade o chefe san alias dormia grande parte do dia para nossa interminavel diversao sem chefia os engenheiros se viravam sozinhos em todas as esferas da empresa e o departamento era simplesmente um lugar sensacional para se trabalhar pessoalmente vi muita coisa que seria impossivel para um chefe acontecer facilmente em uma ou duas conversas entre especialistas e algumas piadas sujas sobre as preferencias sexuais dos envolvidos que nao teriam lugar no mundo corporativo de hoje livre de infantilidades mas a falta de chefe criando um departamento melhor foi uma liçao para todos ali tenho certeza [caption id= attachment_341771 align= aligncenter width= 999 ] o vectra b o cupe era lindo acreditem [/caption] o meu trabalho seguinte ai ja como engenheiro formado foi tambem um lugar assim leve e com pouca interferencia de chefes minto existia muito dela mas no sentido original os chefes em especial um simpaticissimo alemao baixinho e careca chamado otto me ensinaram a projetar carroceria de automoveis mas como fiz cada coisa que fiz ali era totalmente livre dentro das restriçoes normais de um projeto era o inicio do cad mas ali num famoso escritorio de projetos alemao chamado edag ja usavamos estaçoes de trabalho individuais potentissimas ainda que o modem telefonico ainda nao permitisse transferencia de dados tao grandes; era via cd mesmo ou desenhos a gente projetava em 3d mas depois criavamos desenhos como antigamente detalhando tudo e a gente os imprimia e assinava fisicamente um checker um alemao que se debruçava sobre o desenho para garantir que estava perfeito tinha que assinar o desenho antes do chefe o saudade do tempo para fazer as coisas com todas as fases necessarias para se atingir perfeiçao coletiva [caption id= attachment_341769 align= aligncenter width= 897 ] o astra e a minha tampa de porta malas[/caption] divago de novo mais forte que o normal desculpem por isso o tema aqui e os carros que vi no meu tempo dentro da industria mas que por algum motivo nao chegaram a ser lançados mas chegamos neles agora pois foi na edag que o primeiro realmente apareceu a edag veio ao brasil naquela epoca para ajudar a gm na verdade a opel velha parceira da empresa indicou a edag como escritorio de engenharia para ajudar o inicio da nova fase da gmb que tinha grandes planos proprios para o futuro o escritorio era novinho com pouca gente contratada antes de mim e mais cinco colegas contratados ao mesmo tempo na fei recem formados o primeiro projeto que participei de verdade era um vectra b de duas portas seda minha primeira peça de carroceria que projetei inteira foi o reforço interno da coluna c; depois ajudei tambem nos paineis laterais interno e externo o que me deram uma boa visao da aparencia do carro o motivo era simples se voce se lembra bem no brasil as duas portas eram a norma e os quatro portas exceçao quatro portas era para taxistas entidades governamentais frotistas e coisas do genero um cara que comprava um carro de uso para si comprava sempre um duas portas as crianças tem dificuldade de acesso problema delas ora bolas [caption id= attachment_341761 align= aligncenter width= 999 ] scion xb a spin era para ser parecida[/caption] na epoca deste projeto começo dos anos 1990 estavamos bem no meio de um processo de transiçao nisso lembro de um dado mencionado pela gm mais da metade dos monza vendidos eram duas portas o vectra b seria feito no brasil e com a expressa missao de continuar o sucesso do monza teria que ter uma versao duas portas entao inexistente na europa dai meu humilde empreguinho atras da prancheta virtual mas durante o projeto saiu no mercado a versao duas portas do tempra criado pelos mesmissimos motivos mas como a gente sabe bem durou pouco os gostos nacionais mudaram repentinamente e se alinharam com a europa o tempra duas portas se mostrou completamente a prova de venda e acabou rapido a gm se aproveitou da experiencia e cancelou tambem o belo mas provavelmente pouco vendavel vectra cupe [caption id= attachment_341764 align= aligncenter width= 999 ] onix effect o esportivo que saiu era so decoraçao[/caption] os proximos projetos da edag foram de maior sucesso o astra g sedan a opel fez o hatch quatro portas e o brasil as versoes que queria hatch duas portas na gmb e sedan na edag onde desenhei a tampa do porta malas e o celta onde tambem fiz o porta malas depois a partir de 2006 trabalhando na gm como engenheiro vi mais projetos bem legais que nao deram em nada uma sensacional perua cobalt que faria uma perfeita caravan moderna uma spin quadradona bem mais legal que a de produçao e bem parecida com o scion xb um prisma coupe usando as portas do celta e finalmente um onix de primeira geraçao esportivo usando motor e cambio close ratio da spin 1 8 cinco marchas manual [caption id= attachment_341766 align= aligncenter width= 999 ] onix track day um conceito de marketing [/caption] todos eles tentativas de gente entusiasmada querendo algo alem do que os marketeiros e profissionais de carreira querem algo seguro que nao balance sua posiçao ou saude financeira da empresa mesmo que isso torne a sua linha de produtos mais chata que uma palestra de segurança do trabalho o mundo moderno e esse fazer o que a picape monobloco brasileira mas o mais interessante destes projetos perdidos que queria contar para voces e um que nao estive diretamente envolvido mas vi no mundo real — e ate andei no banco do passageiro do unico prototipo funcional que existiu me lembrei dele com o iminente lançamento de uma picape dodge ram monobloco pois e eu andei numa picape ram dodge monobloco feita no brasil circa ano 2000 [caption id= attachment_341783 align= aligncenter width= 999 ] vw lt1 a sprinter alema monobloco de onde saiu a cabine de nossos caminhoes [/caption] o negocio todo aconteceu na vw caminhoes em resende a empresa era na epoca em que trabalhei la ha coisa de 20 anos um hibrido brasileiro bem interessante era herdeira da chrysler brasileira para começo de conversa tinha muito de ford tambem na autolatina a vw caminhoes e a ford caminhoes tinham se juntado numa coisa so que depois mudou se para resende tinha gente da chrysler da ford e da vw e o mais estranho e que era a maior concentraçao de entusiastas na chefia da empresa que vivi ate hoje um deles tinha ate sido braço direito de rigoberto soler e outro escrito regularmente no inicio da motor 3 era um lugar diferente e especial [caption id= attachment_341784 align= aligncenter width= 999 ] 18 310 titan um sucesso brasileiro[/caption] pois bem esse povo entusiasta la no topo da piramide fazia caminhoes sim e com a liberdade de novo ela que tinham por estarem exilados la no meio do mato em resende e nao terem uma matriz interessada em caminhoes a vw veiculos comerciais alema fazia vans tipo sprinter no maximo conseguiu o impensavel no mes que comecei a trabalhar la em 2002 ela ultrapassou a liderança historica da mercedes benz em caminhoes no mercado brasileiro mas esse pessoal entusiasta sempre quis fazer carro de verdade tambem no caso deles o unico caminho possivel para isso era o das caminhonetes sim ali nascia a vontade da vw em fazer picapes algo que futuramente resultaria na amarok na autolatina ainda na fabrica antiga da ford no ipiranga apareceu a primeira tentativa me contaram trocando alguns poucos componentes e logotipos foi criado um prototipo da vw 1000 era uma ford f 1000 para ser vendida em concessionarios vw nao aconteceu principalmente pela famosa rivalidade interna da autolatina razao tambem de seu fim [caption id= attachment_341786 align= aligncenter width= 999 ] a picape que quase foi a vw 1000[/caption] mas em resende antes de eu chegar la apareceu o conceito de uma picape vw maior que a saveiro mas menor que a f 1000; no tamanho hoje mais comum das ranger e s10 o pessoal de resende parece que tentou de todas as formas ampliar a empresa e o mercado da vw criando o que chamaram de robust pick up quando cheguei la ainda era uma esperança de crescimento mesmo sendo o projeto inicial de resende ja abandonado esperança de pelo menos ser responsavel pela fabricaçao dela senao o projeto acabou um carro projetado na alemanha e produzido em pacheco na argentina literalmente cortaram as asinhas desses brasileiros que se acham [caption id= attachment_341787 align= aligncenter width= 999 ] a vw t4 transporter[/caption] mas o que interessa aqui e que a ideia inicial do povo de resende para o carro era de se fazer uma picape monobloco usando como base a mecanica da vw t4 transporter que conhecemos como caravelle/eurovan e uma van de carga e/ou passageiros monobloco com motor transversal dianteiro e traçao tambem dianteira praticamente qualquer mecanica da vw podia ser usada ali incluindo o ap turbodiesel o vr6 a gasolina e ate como veio ao brasil a t4 o cinco em linha diesel da audi [caption id= attachment_341772 align= aligncenter width= 999 ] defenestre se o chassi e pronto picape vw[/caption] pensem nisso nao sei exatamente quando o conceito nasceu mas era inovador mundialmente nao existia ainda honda ridgeline ford maverick muito menos fiat toro renault oroch ou mesmo a nova rampage futura era algo porque nao dizer revolucionario e criado ora vejam so por aqueles vira latas tupiniquins pretensiosos la no meio da selva carioca e mais como a ideia era nova meio dificil de engolir como e sempre algo novo foram alem e fizeram um prototipo funcional para provar que era possivel e ate desejavel e como fizeram isso foi ainda mais legal a vw nao tinha picape media entao mas em vez de terem o trabalho e custo de fazer se uma carroceria toda nova resolveram pegar uma do mercado e modificar claro um estilo novo poderia desviar o foco a ele; gente achando bonito ou feio esse novo tipo de picape vw o que naquele ponto nao vinha ao caso fora o trabalho de aprovar o tal estilo e depois fazer uma carroceria prototipo nao melhor nao definitivamente e que picape pegaram para usar no prototipo nada menos que uma dodge dakota uma piscadela sensacional para as origens da vw caminhoes que so poderia ter vindo de gente que adora o que faz e a sua propria historia isso mesmo pegaram uma dodge dakota e por baixo soldaram uma vw lt e pronto uma picape monobloco vw que se podia dirigir nas ruas sem ninguem saber o que era quando cheguei em resende era ja parte do passado da empresa estava na engenharia experimental num canto mas de vez em quando pegavam ela para levar algo daqui para la ou coisa que valha uma vez pela janela do predio vi o diretor da engenharia meu chefe o indefectivel renato mastrobuono de terno algo reservado apenas para visitas importantes mostrando a picape de capo aberto para um grupo de executivos desconhecidos tambem de terno provavelmente mostrando um universo paralelo onde a inventividade brasileira nao e apenas mais um e se e sim uma realidade conhecida na hora me deu um friozinho na barriga e uma tristeza uma melancolia brasileira de saber que somos mais do que parecemos mas que ninguem esta interessado em saber disso uma melancolia existencial reservada apenas aos que sabem que quando queremos somos realmente melhores que todo mundo
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