e um pouco complicado admitir tal coisa em um site sobre carros mas em todo caso nenhuma perda do mundo automobilistico nos ultimos anos me marcou tanto quanto a morte de neil peart em 7 de janeiro ainda que a familia tenha optado por esperar alguns dias para divulgar a triste noticia o som do rush sempre me encantou desde que comecei a ouvir o tal do rock and roll e especialmente a variaçao progressiva com seus tempos quebrados suas musicas extremamente longas e suas tematicas liricas absurdamente variadas indo de ficçao e fantasia a profundas reflexoes filosoficas sobre a vida o universo e tudo mais e o rush a meu ver estava entre as melhores bandas do genero com instrumentistas que sem duvida estavam entre os melhores do planeta neil peart era mais que um baterista um baterista tao bom que era chamado de o professor ele era o letrista da banda geddy lee era a voz mas as palavras eram de neil e ele era bom com palavras alem de escrever uma porçao de livros sobre suas viagens de moto que ele começou a fazer para lidar com a perda de sua filha para um acidente de carro em 1997 e de sua primeira esposa para um cancer dez meses depois o homem tinha tudo para desabar e acabar com sua propria vida em vez disto ele decidiu dar um tempo e neste tempo descobriu no motociclismo a resposta viajar e conhecer novos lugares novas pessoas foi a forma que ele encontrou para se curar e logo se tornou uma paixao um hobby que o ajudou a reencontrar a vontade de viver peart escrevia textos longos e detalhistas descrevendo suas viagens e filosofando nas entrelinhas ele tinha uma boa visao do mundo e sempre tentava extrair algo alem do que se via na superficie por todos os lugares por onde passava e ele fez isto quando pela primeira vez decidiu viajar de moto durante uma turne e ele escolheu de todos os lugares possiveis nossa querida america do sul em vez de pegar uma van ou um aviao como sempre fazia ele pegou sua moto e na companhia de amigo igualmente entusiasta viajou por quatro dias pelo brasil argentina e chile https //www youtube com/watch v=ngzwoc6w5uq era outubro de 2010 durante a turne time machine do rush uma volta ao passado tocando musicas mais obscuras dos albuns antigos peart ja era um motociclista experiente e nao viajaria sozinho mas a ideia de ter um prazo curtissimo que nao admitia atrasos ou imprevistos assustava rush mesmo que nada grave acontecesse um simples atraso poderia custar os empregos de muita gente envolvida na turne um show cancelado de uma banda grande por causa de uma viagem de moto totalmente desnecessaria seria uma catastrofe mas peart tinha que fazer aquilo e ele contou toda a historia a turne começou no brasil e peart deixou sao paulo rumo a argentina passando pela regiao sul do brasil indo parar em itapiranga no extremo oeste de santa catarina depois de se perder pelo caminho mas foi uma surpresa inesperada e agradavel que deu a neil a oportunidade de filosofar sobre como este tipo de surpresa pode ser boa nos traduzimos abaixo boa parte do relato publicado em novembro de 2010 que veja bem tem quase 8 000 palavras nos concentramos na porçao brasileira da viagem que e a mais interessante para nos mas se voce entende ingles recomendamos a leitura na integra peart tinha um estilo de escrita muito organico mas tambem complexo e delicioso de ler e uma boa chance de entender como ele enxergava as coisas o poder do pensamento magico todos nos temos nossas proprias formas de pensamento magico por assim dizer e o meu me trouxe a este passe por assim dizer por mais que minhas crenças sobrenaturais nao incluam deuses no ceu ou tecnicas de visualizaçao elas admitem sim as atividades igualmente irracionais de ter sonhos ousadia e esperança e foram estas mesmas qualidades que me fizeram acreditar que eu poderia fazer uma turne passando por brasil argentina e chile de moto assim que a turne pela america do sul estava na fase de planejamento para outubro de 2010 comecei a brincar com a ideia de faze la de moto; entao comecei a pensar alto e dali em diante virou uma questao de esperança eu sabia que nao seria facil meu parceiro de longa data brutus faria o planejamento da rota e a logistica ao ponto de viajar comigo para o brasil dez dias antes para fazer um reconhecimento antecipado ; e iria percorrer o trajeto comigo da minha parte eu daria a oportunidade tocando bateria com o rush em sao paulo no rio de janeiro buenos aires e santiago para conseguir o dinheiro para a gasolina e tambem cederia minhas duas bmw r1200 gs com oleo e pneus novos; alforges reforçados; espaço para ferramentas pneus e equipamentos de primeiros socorros; e galoes de gasolina reservas no passado brutus e eu ja haviamos passado por uma quantidade consideravel de aventuras viajando de moto muitas vezes juntos sabiamos como nos preparar para uma road trip como aquela e como improvisar para contornar varios obstaculos pelo caminho mas ainda assim tambem precisariamos ter sorte e foi ai que o pensamento magico entrou em cena seria minha primeira viagem de moto pela america do sul e a primeira vez em que tentei combinar viagem de aventura e viagem a trabalho um passeio de bicicleta pela china em 1985 me apresentou as viagens de aventura e levou a outras jornadas em veiculos de duas rodas com pedais na europa na america do sul e em muitos paises da africa ocidental em turnes com a banda eu ja usava bicicletas e motos como uma especie de veiculo de fuga havia muitos anos mas ate entao eu sempre mantive a aventura e o trabalho separados cada um em seu lugar a medida em que as datas na america do sul se aproximavam admito que fui ficando cada vez mais nervoso a respeito definindo meus sentimentos como antecipaçao e apreensao em igual medida esperança e medo em outras palavras na van do aeroporto para o primeiro hotel em campinas perto de sao paulo sendo conduzido e escoltado por seguranças armados pela rodovia escura eu ate senti um pouco de pavor depois do primeiro show em sao paulo quando brutus e eu começamos nossa jornada me senti como se tivesse um no no estomago e levei aquela ansiedade comigo pelo caminho todo em muitas ocasioes eu pensei isto nao foi uma boa ideia muita gente concordaria comigo e achavam que nao era uma boa ideia desde o começo minha esposa carrie por exemplo quando ela ficou sabendo dos meus planos de viajar de moto pela america do sul na turne ela ficou horrorizada e incredula minha mae tambem nao gostou da ideia meu parceiro de motociclismo nos eua michael que eu ja descrevi como meu diretor de segurança local o que obviamente inclui a mim tentou me desencorajar o empresario ray e meus colegas de banda alex e geddy provavelmente tambem tinham suas ressalvas mas foram sabios o bastante para nao se manifestar eles sabem que eu posso ser absurdamente teimoso talvez especialmente quando estou preso a uma ideia ruim agentes e promotores e membros da road crew ficariam temerosos por seu ganha pao mas o que eu podia fazer serio asim que vi o itinerario quatro dias de folga entre os shows no brasil e buenos aires; e uma vez que brutus ja havia feito um mapeamento preliminar e determinado que poderia dar tempo tive a impressao de nao ter escolha era o exemplo perfeito do tipo de decisao que parece obvia para mim eu tenho quatro dias entre os shows na america do sul; qual e a forma mais excelente de gastar estes quatro dias ora andar de moto por la claro como se fosse facil eu cedi aos meus entes queridos e a meu proprio desejo egoista de sobreviver prometendo que nao andaria de moto em nenhuma das grandes cidades ou para os enormes estadios de futebol onde iria tocar pelo jeito brutus e eu tinhamos mais o que temer nestes lugares ladroes bandidos e sequestradores nossa entao iriamos nos aprontar em algum lugar a pelo menos uma hora de distancia entrando e saindo das cidades de van acompanhados por michael tudo daria certo desde que nada desse errado era um ato de fe e pensamento magico sonhos ousadia esperança conforme eu mencionei brutus ja passamos por muitas aventuras de moto juntos para o norte do canada pelo mexico e ate da europa para o norte da africa indo ate a borda do saara e em cada uma dessas jornadas aconteceu algo inesperado um problema mecanico tempo ruim um acidente para nos atrasar por um dia ou dois e mudar nossos planos quando uma viagem de aventura e interrompida desse jeito voce so para resolve o qeu tem que resolver e faz novos planos de acordo mas a gente nao teria flexibilidade para nada assim desta vez quanto as viagens a trabalho eu ja ando de moto entre os shows ha 14 anos centenas de shows e dezenas de milhars de quilometros e nunca me atrasei nem para uma passagem de som quanto mais para um show entretanto desta vez eu nao teria uma equipe de apoio em um onibus com trailer nos arredores seguindo pelas interestaduais enquanto eu explorava as rotas alternativas sem moto reserva sem o bmw roadside assistance sem concessionarias estrategicamente posicionadas sem nenhum tipo de socorro facil como se tem nos eua e na europa estariamos praticamente sozinhos eu escrevi para brutus logo no começo de tudo quando ele estava pesquisando e planejando cuidadosamente a nossa jornada em um processo que durou cerca de seis meses voce sabe que vamos andar bastante de moto nesta nossa pequena aventura e nada pode dar errado ele nao precisava que eu o lembrasse claro mas talvez fosse outra forma de pensamento magico deixando bem claro um amuleto para afastar o mau olhado mas a gente mesmo um anjo da guarda olhando por nos michael instalou rastreadores por satelite nas nossas motos e enquanto viajava de aviao com a banda e a equipe ele poderia olhar no computador e acompanhar nossas migalhas e como eles chamam os rastros eletronicos que a gente deixava um destes termos curiosos e ludicos que as vezes surgem do jargao tecnologico uma contradiçao que me fascina pelo menos desde 1980 quando escrevi a letra da nossa cançao vital signs neste estilo era meio estranho sentir que voce estava sendo vigiado desse jeito pelo menos uma vez por dia eu olhava para o ceu de punho em riste e xingava michael com palavroes mas tambem era reconfortante se qualquer problema nos pegasse pelo caminho iriamos mesmo querer toda ajuda que pudessemos conseguir o quanto antes no primeiro dia navegando pelo transito senti como se estivessemos andando de ponei por uma enorme manada de carros com os caminhoes feito elefantes se erguendo acima de nos e enxames de pequenas motos como mosquitos pululando por toda parte de campinas ao rio de janeiro e de volta a sao paulo viajamos principalmente por rodovias de quatro faixas e retas interminaveis porque tinhamos um caminho longo pela frente como brutus havia me avisado os numero de caminhoes superava o de carros em uma proporçao de mais ou menos dez para um mas os motoristas pareciam bons e conseguimos ultrapassa los facilmente nestas estradas contudo havia muitas cabines de pedagio quinze delas em apenas um dia de viagem e ao negociar com eles brutus e eu seguiamos o mesmo ritual que michael e eu faziamos nos eua brutus parava na janela e eu ficava a direita dele dica de viagem evite a faixa de oleo no meio onde os carros e caminhoes respingaram especialmente em dias chuvosos enquanto brutus pagava o pedagio o atendente levantava a cancela e me dava o sinal para passar e depois fazia o mesmo para brutus e assim ele tinha tempo para pegar o troco e o recibo colocar as luvas e ligar a moto longe das rodovias com pedagios as coisas eram bem mais animadas e pitorescas claro aqui vemos brutus na estrada que levava a petropolis uma bonita cidade colonial aninhada na mata atlantica ao norte do rio de janeiro talvez de forma tipica as coisas começaram a ficar interessantes de verdade quando a gente se perdia no sul do brasil no segundo dia da nossa odisseia de quatro dias ate buenos aires de volta a campinas antes de partirmos michael e brutus passaram muitas horas e beberam muitas caipirinhas o drink nacional do brasil brigando com nossos aparelhos de gps depois de todo este trabalho online e varias ligaçoes longas para a fabricante os aparelhos funcionaram direito ao longo dos 515 km entre sao paulo e petropolis e depois mais 885 km foi um dia longo para o sul em direçao a outra cidade grande curitiba mas pouco depois de sair de la eles começaram a vagar algo semelhante aconteceu com brutus e eu alguns anos antes na polonia e na antiga alemanha oriental e o defeito era o mesmo a linha roxa da nossa rota nao atualizava na tela ficava exatamente na estrada onde estavamos ou perto o bastante para que conseguissemos navegar por ela desta vez percebemos que so estavamos andando por outra area mal mapeada e que os nossos gps eventualmente nos levariam ao caminho certo pensamento magico outra vez sabiamos que o caminho geral era sentido oeste sudoeste em direçao ao rio uruguai so havia uma ponte naquela parte do pais que atravessariamos e continuariamos pela fronteira da argentina enquanto seguiamos nosso caminho olhavamos de vez em quando para a linha roxa na telinha ou colocavamos na funçao bussola para ver se ainda estavamos indo na direçao certa chegamos a conclusao de que nao daria para errar tanto ate aquele ponto saindo de uma cidadezinha a via pavimentada deu lugar a uma estrada de terra que acompanhava o rio marrom esverdeado a nossa esquerda era tarde ja haviamos percorrido mais de 600 km e as sombras estavam começando a ficar maiores a medida em que o sol ia descansar ainda nao havia ponte nenhuma a vista e nenhuma cama a vista para nos claro tinhamos mapas de papel mas eles eram inuteis porque nao havia cidades ou placas nada para dar referencia e ninguem para perguntar a melhor ideia que tivemos foi seguir rumo norte onde a rodovia deveria estar e seguir de la o no no meu estomago estava ficando mais apertado e eu disse a mim mesmo mais ou menos com estas palavras estamos fornicados mesmo depois de achar nosso caminho ate o asfalto estavamos confusos achando que ainda tinhamos de seguir mais longe a oeste acompanhando o rio entao fomos por este caminho passando por uma deliciosa pista sinuosa de mao dupla ao longo de uma cordilheira com vista para vales verdes bosques e fazendas passando por um ou outro caminhao ainda nao haviamos nos dado conta de que estavamos totalmente perdidos e para nos era apenas um passeio agradavel em um fim de tarde de tempos em tempos o uruguai aparecia ao longe e ao sul exatamente onde deveria estar e sim as linhas roxas dos nossos gps patetas continuavam nos assegurando que estavamos indo na direçao certa idiotas eles e nos eles tambem mostravam que estavamos andando pelo meio do rio o icone de uma motocicleta em uma trilha azul o que talvez devesse ter nos avisado de que a maquininha estava completamente perdida michael nos diria mais tarde que enquanto olhava nossas migalhas errantes queria poder gritar la de cima para nos sim voces estao mesmo perdidos enquanto entravamos em uma pequena cidade chamada itapiranga o asfalto de repente sumiu e deu lugar a uma estrada de terra novamente com as arvores escurecendo o caminho a frente e entao paramos e abrimos o mapa outra vez agora sabiamos exatamente onde estavamos e pudemos ver o quanto estavamos perdidos a gente havia passado direto pela curva em direçao a ponte algumas horas antes e agora estavamos no ponto mais extremo do brasil com o rio ao sul e imediatamente a oeste de nos a fronteira com a argentina nenhuma estrada atravessava aquela fronteira ou aquele rio e eu sabia exatamente o que deveriamos fazer vamos parar aqui eu disse apontando para a estrada que ia ate itapiranga e uma cidade bonita deve ter um hotel e disse brutus e ai amanha eu o corto na hora fornique se amanha vamos cuidar de hoje primeiro enquanto sigo na frente pela rua principal avisto uma placa escrita com uma fonte gotica hotel maua para uma cidade de 13 000 pessoas bem no fim da linha em varios sentidos o hotel era otimo pequeno austero e escrupulosamente limpo muito parecido com o que se ve na zona rural da austria digamos e com um estacionamento coberto e seguro para as motos notei que havia alguns restaurantes na cidade tambem e seguimos em direçao a um lugar aberto e casual parecido com o se ve em uma cidadezinha italiana os alto falantes tocavam uma musica contagiante que misturava ritmos brasileiros e africanos e eu peço ao nosso garçom para escrever os nomes dos artistas dando a ele meu caderno e fazendo ele entender que eu queria conhecer a musica uma noite subtropical um bom hotel jantar ao ar livre musica interessante tudo estava indo bem ate ali enquanto eu fui para a calçada na frente do restaurante para falar com carrie no meu celular que milagrosamente funcionou perfeitamente naquele canto remoto do brasil brutus estava falando em um portugues todo quebrado com alguns moradores locais ele soube que havia uma balsa em itapiranga e que de manha poderiamos atravessar a principal barreira sem ter que fazer todo o caminho de volta de la poderiamos tentar nos localizar a moda antiga usando o mapa para o local da travessia da fronteira san borja na sacada do nosso hotel brutus e eu fizemos uma natureza morta com todos os nossos dispositivos portateis ainda daria um excelente nome para uma turne como eu ja disse antes celular telefone por satelite nextel rastreador por satelite gps idiota mapa e camera para dar verossimilhança incluimos tambem um copo de whisky e um maço de cigarros red apple outros importantes dispositivos portateis em contraste com toda aquela demonstraçao de tecnologia brutus ficou acordado ate tarde lidando com os mapas copiando nomes de cidades distancias e quando possivel numeros de rodovias em folhas de papel para colocar nos porta mapas e o tipo de gps que eu chamo de get a pen stupid nota do tradutor pegue uma caneta seu idiota [caption id= attachment_248590 align= aligncenter width= 1300 ] meu quarto com sua pequena sacada no andar de cima do hotel maua em ipiranga brasil no primeiro plano o gps idiota mostra o icone da moto representando a mim no meio do rio[/caption] acordei com o nascer do sol e como ja haviamos feito em tantos outros dias de longas viagens comemos pao e tomamos cafe no hotel carregamos as motos e seguimos rumo a balsa ela era so um pequeno barco aberto mas em questao de minutos havia nos transportado por toda a largura do rio brilhando em azul sobre o marrom esverdeado daquela manha ensolarada e nos nos nos vimos imediatamente perdidos de novo nao havia nada la so algumas casinhas e duas quadras de ruas apertadas poeira terra e pedras nao cascalho pedras logo recorremos a forma mais primitiva de gps que existe achar uma pessoa e dizer o nome da vila que estavamos tentando encontrar gaucha vista nesse caso repetidamente apontando para a estrada com cara de ponto de interrogaçao basicamente com cara de idiota o unico lado negativo deste metodo e que voce precisa de pessoas para perguntar e elas eram escassas naquela estradinha de terra indiscernivel das trilhas e caminhos que levavam a direçoes diferentes frequentemente faziamos paradas para considerar outras escolhas e olhar para nossas bussolas de gps os idiotas como eu ja os chamava rotineiramente enquanto brutus zombava do seu o chamando de a bussola de mil dolares nao havia placas logico nenhuma e como ja mencionei a respeito de tais estradas sem placas na africa ou no mexico mesmo se voce estiver no caminho certo nao tem como saber havia certa ansiedade naquele dia tambem ja que a gente realmente precisava chegar a fronteira em san borja o mais cedo possivel o promotor do show havia instruido um agente a nos encontrar la e nos ajudar com as formalidades e precisavamos estar la ao meio dia e ainda tinhamos um longo caminho ate buenos aires nos proximos dois dias mas logo descobrimos uma verdade importante sobre o brasil varias verdades alias claro estavamos perdidos em uma estrada ruim em um area rural isolada mas michael e eu ja haviamos nos pego nesta mesmissima situaçao muitas vezes nos eua e de igual a antes assim que brutus e eu conseguimos nos desvencilhar das trilhas gastas daquele lugarzinho rural acabamos em uma estrada de duas faixas com asfalto bom pouco transito e uma bela paisagem do interior um detalhe revelador ao longo daquela estrada de terra perto do rio eu vi um homem conduzindo um arado com dois bois e mesmo assim uma hora depois no trecho asfaltado passamos por fazendas enormes e eu vi muitos tratores john deere grandes e modernos e colhedeiras verdes brilhantes com laminas de dois metros a agricultura de subsistencia pode ate ser a realidade economica nessas areas isoladas mas naquela mesma regiao aqueles cantinhos da idade do ferro coexistiam com mecanizaçao em larga escala e urbanizaçao ao longo das vias principais e cidades tudo muito contemporaneo brutus e eu vimos areas subdesenvolvidas no brasil e mais tarde na argentina tambem mas com certeza nao da para dizer que os paises sao subdesenvolvidos bem o contrario na verdade a maioria das historias sobre viagens de moto pela america do sul que eu li se concentram em atravessar o continente caras que fazem maratonas viajando pela rodovia pan americana do alasca a terra do fogo por exemplo mas eu logo me dei conta de que se certamente eu poderia dar um belo passeio por dentro da america do sul aquelas estradinhas vermelhas como aparecem nos mapas do guia quatro rodas eram o segredo e diferentemente de sao paulo e do rio de janeiro as cidades e vilas menores eram totalmente civilizadas e hospitaleiras minha definiçao resumida para aquilo que algumas pessoas chamam de terceiro mundo e qualquer lugar onde o ar seja infestado pelo lixo humano o leitor pode traduzir isto como achar melhor tal definiçao necessariamente inclui boa parte da china a africa abaixo do saara e mesmo partes do sul da europa cidadezinhas do interior da italia e da grecia por exemplo nao quero dizer que nao adoro alguns desses lugares eu adoro isto so quero dizer que eles fedem na america latina parece que so as cidades maiores se encaixam nesta rubrica rançosa sao paulo rio cidade do mexico e so porque elas sao tao atraentes para gente jovem e esperançosa adeptos do pensamento magico eles sonham eles ousam eles tem esperança no fim dos anos 1990 eu visitei a cidade do mexico com certa frequencia e soube que todos os dias 1 000 pessoas novas se mudam para la deixando suas vilas e cidadezinhas e procurando um futuro melhor levando nada alem de braços fortes e esperança mil pessoas por dia como uma cidade consegue lidar com um fluxo tao grande demonstrando compaixao a cidade do mexico tentou eles levaram eletricidade e agua encanada para suas favelas cada vez maiores em vez de queima las como o governo dos eua fez na decada de 1930 mas nunca seria o suficiente em uma megalopole tao confusa expandindo se diariamente alem de qualquer possibilidade de infraestrutura igualitaria sempre havera mau cheiro e mau comportamento crime por um lado as cidades nao tes suporte para fornecer a infraestrutura necessaria para seus novos cidadaos e enquanto isso a propria falta de raizes e o desamparo os afasta do senso de comunidade de lar que em outra situaçao controlaria ou ao menos moderaria seu comportamento no fim das contas e basicamente a receita perfeita para o desastre cozido em seus proprios liquidos fedorentos uma cidade pequena como itapiranga nao aparece nos guias de turismo mesmo na vasta e aparentemente inclusiva internet o maximo de informaçao que eu encontrei foi que itapiranga e a cidade mais ao oeste no estado brasileiro de santa catarina ainda assim era um lugar limpo bonito e amigavel com acomodaçoes e alimentaçao totalmente adequados aos visitantes e itapiranga tem estradas muito boas para andar de moto tambem antes de qualquer coisa parece um milagre o fato de termos encontrado itapiranga exatamente na hora em que aquele dia longo e desgastante estava acabando nao tinhamos mais para onde ir e la estava ela magico
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