O ano de 2019 foi um ano de extremos no mercado automotivo. Enquanto o mercado de SUV e crossovers cresceu rapidamente algumas categorias foram praticamente extintas. A Ford e a Chevrolet tiveram a ousada decisão de retirar sedãs e hatchbacks de linha nos EUA para focar nos SUV e crossovers — e quase repetiu a dose no Brasil, mantendo apenas o Ka como não-crossover.
Os demais fabricantes não foram tão ousados, mas categorias como peruas, hatches médios e minivans estão praticamente extintas com o fim de alguns modelos em 2019 e o possível encerramento das vendas em 2020. Listamos a seguir os modelos que deram adeus ao mercado brasileiro em 2019.
Volkswagen Golf
O Golf é o carro mais importante do grupo Volkswagen. Na Europa ele figura entre os carros mais vendidos e sempre é considerado a referência na categoria de hatches médios. Com a chegada da oitava geração, lançada em 2019 na Europa, o modelo teve sua produção encerrada no Brasil.
Importado a partir de 1993 e nacionalizado em 1999, o Golf repetiu o ciclo nesta sétima geração. Com o fim do modelo nacional, ele chegou importado da Alemanha em 2014, depois veio do México em 2015 e acabou nacionalizado em 2016.
Do México também veio a perua Golf Variant a partir de 2015, com motor 1.4 TSI, cambio manual ou DSG de dupla embreagem e um prático porta-malas 605 litros. A perua se tornou o sonho de consumo de muitos entusiastas por unir praticidade com a dinâmica afiada do Golf.
Com a nacionalização a gama de versões cresceu e o motor 1.4 TSI virou flex, entretanto a suspensão traseira multilink foi mantida apenas no GTI, as outras versões passaram a usar um eixo de torção. Mas a nacionalização do Golf veio em uma época complicada para os hatches médios, a categoria estava em baixa com e a sétima geração não conseguiu repetir o sucesso da quarta geração.
Em 2019 a produção do Golf nacional foi simplificada a apenas o GTI para abrir espaço para o crossover T-Cross. A perua também deixou de ser vendida por aqui, para abrir espaço para o crossover nacional e também para o Tiguan. Em setembro o GTI teve a produção encerrada oficialmente, encerrando os 20 anos de produção do Golf no Brasil.
Mesmo com o fim da produção a Volkswagen deu uma última chance para o Golf no Brasil com o GTE, a versão esportiva híbrida foi lançada no final de novembro em um lote de apenas 100 unidades por R$ 199.000. A Volkswagen não confirma planos da vinda do Golf de oitava geração para o Brasil. Para os fãs do Golf que não querem migrar para o T-Cross ou o Tiguan, restou o sedã Jetta, que tem versões com o 1.4 TSI e o GLI com o conjunto de motor e câmbio do GTI.
Ford Focus
Outro carro médio que abandonou o mercado em 2019 foi o Focus, depois de quase 20 anos desde que recebeu a importante missão de suceder o Escort. O Focus revolucionou a categoria com o estilo ousado da linguagem “New Edge” e com sua pioneira suspensão traseira Control Blade, que era um arranjo multilink mais compacto. Graças a essa suspensão e a ao seu bom acerto o Focus se tornou referência em comportamento dinâmico da categoria.
Lançado em 2000, dois anos após o lançamento mundial, sua produção era na fábrica de General Pacheco na Argentina, e não acompanhou o ciclo de vida do modelo europeu. A segunda geração chegou com quatro anos de atraso em 2008 já com um face-lift e a terceira veio com dois anos de atraso em 2013.
Apesar desse atraso o Focus oferecia pacotes de equipamentos alinhados com a Europa e mantinha o característico acerto dinâmico. Na terceira geração a Ford optou por seguir a mecânica mais potente oferecida nos EUA, que era o motor 2.0 Duratec com injeção direta que produzia 178 cv, junto do 1.6 Sigma. Na Europa o Focus seguia o downsizing com motores 1.0 e 1.6 EcoBoost.
A terceira geração do Focus sofreu as mesmas dificuldades do Golf com o mercado de hatches médios em baixa, além disso a transmissão de dupla embreagem PowerShift teve a imagem machada por problemas e recalls. Ao contrário do Golf, o Focus nunca teve uma versão esportiva no Brasil. Em maio de 2019 o Focus teve a produção encerrada na Argentina.
O ano de 2019 também marcou o fim do Focus de terceira geração nos EUA; o hatch médio continua apenas na Europa, China, Oceania e partes da Ásia com a quarta geração lançada em 2018.
Ford Fiesta
A Ford brasileira ganhou fama de tomar más decisões, e o Fiesta em sua última geração foi uma vítima destas decisões mal-acertadas.
O Fiesta foi nacionalizado na quarta geração, e simplificado na sexta para agradar o gosto brasileiro. Devido ao longo tempo de produção no país o Fiesta conseguiu boa popularidade por sua vantajosa relação custo/benefício. A sétima geração chegou importada do México como um compacto premium e com um prefixo “New” acrescentado ao nome.
Em 2013 o New Fiesta começou a ser feito no Brasil já com o face-lift adotado na Europa. Mas, mesmo com a nacionalização, a geração nova não conseguiu repetir o sucesso da anterior. Para piorar a situação do Fiesta foi lançado um novo Ka com preço mais acessível. O Ka fez o Fiesta continuar como compacto “premium” em uma faixa limitada do mercado, onde ficou com vendas baixas até ter a produção encerrada em junho deste ano.
A Ford chegou a oferecer um moderno motor 1.0 EcoBoost no Fiesta, que vinha na versão topo de linha Titanium e depois migou para um pacote de opcionais do modelo intermediário SEL, mas não teve sucesso pelo preço alto e por oferecê-lo apenas com o condenado câmbio Powershift. Assim como o irmão maior Focus, o Fiesta também parou de ser oferecido nos EUA e recebeu uma geração nova apenas para a Europa. No Brasil o sucessor indireto é o EcoSport, que usa a mesma plataforma do Fiesta.
Peugeot 408 e 308
A última vítima do declínio dos hatches médios no Brasil foi o francês Peugeot 308, que parou de ser oferecido junto do sedã 408. A dupla vinha importada da Argentina, onde ainda são produzidos para o mercado interno. O sedã começou a ser vendido aqui em 2011 e o hatch veio no ano seguinte. Ambos compartilhavam de um bom pacote de equipamentos e mimos típicos de carros franceses juntos de um preço competitivo. De início a mecânica era o motor 2.0 flex aspirado, com câmbio manual de cinco marchas ou a famigerada automática de quatro marchas AL4. O 308 era o único com motor 1.6 aspirado.
Em 2012 ambos receberam o motor 1.6 THP com cambio automático de seis marchas no modelo topo de linha Griffe. Esse câmbio de seis marchas foi parar nos modelos 2.0 em 2013, melhorando o comportamento dos carros. A Peugeot da Argentina decidiu manter os carros em produção sem alterações e não trazer as gerações novas lançadas no exterior. O 308 e o 408 receberam um face-lift em 2015 e não receberam mudanças significativas desde então. No Brasil a Peugeot encerrou a importação da dupla no início de 2019, passando a focar no 208, no SUV 2008 e na linha de importados.
Peugeot 208 GT
A Renault ousou em 2015 fazendo o Sandero R.S., o primeiro carro assinado pela RenaultSport feito fora da Europa. O hatch foi um revival dos hot hatches no Brasil, que carecia de opções acessíveis para quem procurava um compacto esportivo. A Peugeot decidiu acompanhar a Renault fazendo uma versão esportiva do 208 usando a mesma fórmula: pegar um motor potente disponível na linha de médios e colocar no compacto, completando com um acerto diferenciado de suspensão e pacote de equipamentos completos.
O 208 GT brasileiro pode ser considerado um versão light do GTI europeu, o motor 1.6 THP flex 173 cv, contra os 200 cv do GTI europeu, e o câmbio era apenas o manual de seis marchas. Mas 173 cv ainda é melhor que esportivo nenhum. O 208 GT diferenciava do Sandero R.S. por oferecer um acerto de suspensão mais confortável que o de “rato de track-day” do Renault. O GT também trazia mais itens de conforto que o rival, trazendo uma pegada maior de grand tourer.
Mesmo sendo um hot hatch mais fácil de conviver no dia-a-dia o 208 GT não conseguiu o mesmo sucesso de vendas do Sandero R.S. Parte disso pode ser culpado na falta de divulgação do carro, que muitas vezes era esquecido que estava à venda pelo público. Em 2019 a Peugeot começou a simplificar a linha do 208 para preparar o terreno para a chega da nova geração, o primeiro modelo a ser ceifado foi o GT. Esperamos que o fabricante dê uma segunda chance para o GT na nova geração do 208.
Chery QQ
Por muitos anos o carro mais barato do Brasil foi o Fiat Mille, mas a chegada dos chineses mudou isso. O primeiro carro a destronar o Mille foi o Effa M100, que trazia mais equipamentos com uma qualidade de construção duvidosa. Com o fim da importação do M100 o posto de carro mais barato do país passou a ser do diminuto Chery QQ. A segunda geração do QQ começou a ser feita no Brasil em 2015 e continuou oferecendo mais equipamentos por um preço menor que compactos de marcas tradicionais.
A qualidade de construção melhorou, mas ainda era longe de ser referência. O QQ trazia soluções de redução de custo como eixo rígido na traseira, no lugar da suspensão semi-independente com eixo de torção usada na maioria dos compactos nacionais. O Chery QQ em seu último ano de venda foi o único carro vendido no Brasil abaixo de R$ 30.000. Com a produção encerrada, o título de carro mais barato volta a ser de um Fiat, dessa vez o Mobi que custa a partir de R$ 33.490.
VW SpaceFox
Já falamos do fim dos hatches médios no Brasil, agora é a vez da extinção das peruas. A Volkswagen oferecia duas, a já citada Golf Variant e a SpaceFox. A perua derivada do Fox não era tão amada quanto a do Golf por conta do teto alto e estilo que lembra uma minivan, mas isso trazia vantagens no espaço interno.
Quando foi lançada em 2006 a SpaceFox veio com grandes lanternas com elementos circulares inspiradas no Golf de quinta geração e no Passat. Por dentro ela mantinha a praticidade do Fox com o banco traseiro deslizante, servindo de meio termo entre peruas tradicionais, mais baixas, e as minivans.
A perua do Fox acompanhou as evoluções do hatch, ganhando uma reestilização em 2010 que trouxe melhorias no acabamento e mais equipamentos. No ano seguinte ela ganhou a versão aventureira SpaceCross, que trouxe o estilo do CrossFox para a perua mas sem o estepe pendurado na traseira.
Em 2014 veio o último face-lift, que também trouxe mais equipamentos e um motor 1.6 16v com câmbio manual de seis marchas para o modelo topo de linha Highline. Essas opções foram retiradas na linha 2017 e o modelo foi simplificado. A chegada do T-Cross foi a pá de cal na SpaceFox e a perua teve a produção encerrada. O Fox hatch continua convivendo com Up, Gol e Polo por enquanto mas deverá aposentar com a chegada do Nivus em 2020.
Citroen C4 Picasso
As minivans não são muito amadas por entusiastas por ser uma das responsáveis pelo declínio das peruas e por não terem a dinâmica de um carro mais baixo. Mas é inegável a praticidade desse tipo de carro, que trazem um grande espaço interno para passageiros e soluções inteligentes de aproveitamento de espaço e modularidade dos bancos. Os SUV e crossovers não só provocaram a diminuição da oferta de peruas como afetaram as vendas de minivans e uma opção bastante interessante no Brasil era a Citroen C4 Picasso.
A C4 Picasso vinha importada da França em duas versões, a de cinco lugares e a Grand C4 Picasso de sete lugares, ambas com motor 1.6 THP e cambio automático de seis marchas. A minivan francesa vinha com preço interessante e bem equipada, contando até com cruise control adaptativo com assistente de faixa de rolagem. Os bancos eram individuais para todos os passageiros e podiam ser removidos para aumentar o espaço interno, item raro de ver em crossovers.
A Citroen pretende substituir o C4 Picasso de forma indireta importando o SUV C5 Aircross, que não temi versão de sete lugares mas tem bancos individuais e modulares na segunda fileira. Com o fim da importação da C4 Picasso as únicas minivans disponíveis no Brasil são a Chevrolet Spin e a Kia Carnival.
Kia Picanto
O Kia Picanto é um caso curioso, o carro chegou no Brasil na primeira geração como uma opção interessante de compacto com cambio automático em uma época onde era raro essa combinação. Na segunda geração ele ganhou estilo mais agressivo dentro da nova linguagem de estilo da marca, ele ganhou mais versões e até motor flex. A terceira geração foi lançada em 2018 em versão única e com pouco alarde, o preço era alto para um carro 1.0 mesmo sendo bem equipado.
Essa terceira geração durou pouco tempo, 14 meses após o lançamento silencioso ela teve a importação encerrada. Apenas 100 unidades desse modelo foram trazidas. O modelo escolhido para o Brasil era o GT, de aparência esportiva mas com motor 1.0 aspirado. No exterior o Picanto também podia vir com uma versão turbinada desse motor, que é oferecida no Brasil no Hyundai HB20. Com o fim do Picanto a Kia pretende retornar ao mercado de compactos com o Rio, que chega em janeiro de 2020.