Todos os anos, no Centro de Convenções de Las Vegas, nos EUA, acontece o SEMA Show 2019, maior evento dedicado a componentes de preparação e modificação do planeta. Na prática, isto quer dizer que tanto as fabricantes de automóveis quanto empresas do aftermarket aproveitam SEMA para mostrar carros modificados com uma ousadia que não costuma ser vista em Salões do Automóvel, geralmente usando componentes que serão disponibilizados ao público em breve. É quando os engenheiros, preparadores e mecânicos aproveitam para demonstrar suas ideias mais mirabolantes – e o resultado pode ser absurdamente incrível ou completamente desconcertante. E a linha entre estes extremos é bastante tênue.
Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como conteúdos técnicos, histórias de carros e pilotos, avaliações e muito mais!
Como de costume, neste post nós vamos dar uma olhada em alguns dos automóveis modificados que mais chamaram nossa atenção – tanto projetos de fábrica quanto carros feitos por preparadoras e empresas de engenharia automotiva. Vamos lá?
Shelby GT500 Dragon Snake
Como se o Shelby GT500 já não fosse potente o bastante de fábrica, a própria Shelby levou ao SEMA uma versão ainda mais forte – e com inspiração no passado. Seu nome completo é Ford Shelby GT500 Dragon Snake, em uma referência ao Shelby Cobra Dragonsnake (assim mesmo, tudo junto), que era uma versão especial do Cobra especial para arrancadas da qual só foram feitos cinco exemplares na década de 1960. É esse cara aí embaixo:
O Dragon Snake moderno também é um carro de arrancada, e dos bons: o motor de 5,2 litros recebeu uma dose extra de veneno para entregar “mais de 800 cv” (originalmente são 700 cv), a suspensão foi modificada para obter mais aderência no momento da largada, e a transmissão de dupla embreagem e sete marchas foi recalibrada para entregar respostas ainda mais rápidas.
O carro também ganhou respiros extras no capô, componentes aerodinâmicos de fibra de carbono (incluindo uma asa traseira horizontal que remete aos funny cars modernos) e rodas de alumínio forjado “one-piece”.
Shelby F-150 Super Snake Sport
O outro projeto da Shelby para o SEMA Show é a picape F-150 Super Snake Sport. Segundo a empresa, a ideia é trazer de volta as “muscle pickups” de antigamente, com carroceria de duas portas e entre-eixos curto.
O grande barato é o motor: em vez do V6 biturbo Ecoboost usado pela Ford F-150 Raptor, a Shelby colocou no cofre da picape um V8 supercharged de 765 cv. A preparadora da Ford não divulgou exatamente qual motor foi utilizado, mas há indícios de que seja o V8 de cinco litros usado pela F-150 Super Snake de 2017, edição limitada a 150 unidades que dispunha de 760 cv.
A picape também é equipada com escapamento Borla, rodas de 22 polegadas e uma tampa para a caçamba, que ajuda a melhorar a eficiência aerodinâmica da F-150. Os freios usam pinças de seis pistões, e a suspensão foi retrabalhada para deixar a caminhonete mais próxima do chão. Por dentro há um novo jogo de tapetes, bancos de couro e detalhes em fibra de carbono no painel.
Honda N600 “Super Tuner Legends Series”
Mudando completamente de estilo: é impossível ver este pequeno Honda N600 e não querer dar uma volta: a carroceria branca, as rodas Watanabe e os para-lamas alargados são elementos clássicos de um projeto clean e de bom gosto.
Mas fica mais interessante quando se dá conta do que move esta caixinha de metal: um motor V4 de moto – mais precisamente, da Honda VFR, com 800 cm³ e 105 cv a 12.000 rpm (originalmente o Honda N600 tem 36 cv). O motor é ligado ao câmbio sequencial da motocicleta, e leva a força para as rodas traseiras. O toque especial fica pelo tanque de combustível da moto, que foi transplantado para debaixo do capô.
O projeto data de 2016 e foi feito para o Super Tuner Legends Series, competição de project cars promovida pela Hot Wheels – aliás, ele venceu a disputa. Ou seja, não se trata de um projeto inédito – mas e daí?
Honda Civic Si Formula Drift
Outro carro interessante levado pela Honda é este Civic Si de décima geração feito para a Formula Drift dos EUA. Sim, é um Civic de drift, com tração traseira, para-lamas alargados, sistema de direção modificado para aumentar o ângulo de esterçamento e – a cereja do bolo – um motor K24 sobrealimentado capaz de entregar nada menos que 938 cv.
O carro foi feito por uma preparadora americana chamada Jeanneret Racing, que contou com a ajuda da Olson Kustom Work para modificar a carroceria – vemos para-lamas alargados, bitolas maiores, rodas feitas sob medida e uma asa traseira bem generosa. Como é de costume nos projetos do SEMA, porém, detalhes técnicos não foram divulgados. Vamos ter de esperar pela aparição do carro na Formula Drift para conhecê-lo melhor, pelo visto.
Nissan 370Z Global Time Attack
Falando em esportivos japoneses criados para competições, se liga neste Nissan 370Z. O carro, feito pela americana Z1 Motorsports, está no jeito para a temporada 2020 do Global Time Attack e, como tal, recebeu uma série de modificações nada sutis. A começar pelo motor: com dois turbocompressores Garrett GTX 3076, componentes internos forjados e outros itens de preparação não divulgados, o V6 de 3,7 litros entrega mais de 750 cv. Estes são moderados por uma caixa sequencial HGT Precision de seis marchas, que leva a força para as rodas traseiras de 18 polegadas.
Sendo um carro de competição, o Z foi todo aliviado, perdendo a maior parte do acabamento interno e ganhando uma gaiola de proteção integral, um único banco concha OMP, cintos de competição Sabelt e volante de cubo rápido. A suspensão foi feita sob medida usando componentes Nismo, e os freios são da Brembo. Outros aspectos dignos de nota são os componentes aerodinâmicos pensados para gerar o máximo de downforce e as saídas de escape nas laterais.
Nissan Frontier Desert Runner
A outra atração da Nissan para o SEMA também é inspirada pelas competições, porém de um tipo completamente diferente: o Rally Dakar. Trata-se da Frontier Desert Runner, que recebeu um motor V8 de 5,6 litros preparado para entregar 608 cv e 96,8 kgfm de torque. O câmbio é manual de seis marchas, e leva a força para as quatro rodas. Apetitoso, hein?
A suspensão foi completamente refeita pela BTF Fabrication, com molas helicoidais Kind Racing na frente e feixes de molas semi-elípticas Giant Motorsports Link Killer. O interior ganhou bancos concha OMP, volante Sparco e manopla de câmbio Momo, e a caçamba agora leva o estepe. Completam o visual rodas douradas com bead locks e pneus BF Goodrich Baja T/A.
Hennessey Maximus 1000
Como não poderia deixar de ser, a Hennessey Performance também está no SEMA com um projeto de respeito: a Jeep Gladiator Maximus 1000, exemplar preparado da picape do Wrangler. Em essência, a Hennessey fez o que a Jeep se recusa a fazer: colocar um V8 Hellcat no cofre, preparado para entregar 1.014 cv (1.000 hp) e 129 kgfm de torque.
A dose extra de potência foi obtida através de uma reprogramação na ECU, que aumentou a pressão de trabalho do supercharger, além de um novo sistema de escape e modificações no sistema de alimentação. Com o câmbio automático de quatro marchas, a Maximus vai de zero a 100 km/h em 3,9 segundos.
A picape da Hennessey também ganhou para-choques feitos sob medida, eixos reforçados para uso off-road, novos diferenciais Dana, rodas de alumínio com oito parafusos, suspensão levantada em 15 cm, pneus BF Goodrich e revestimento de couro personalizado no interior.
Diferentemente de outros projetos feitos para o SEMA, a Gladiator Maximus já está pronta para ser comercializada – e a Hennessey fará 24 unidades numeradas.
Chevrolet E-10
Falando em picapes, a Chevrolet também aprontou a sua para o SEMA Show 2019: a E-10, que é chamada assim por ser uma C-10 com motor elétrico. Heresia ou salvação de um clássico? Não somos nós quem decide. De todo modo, esteticamente, ela agrada – especialmente a quem não se importa com restomods: os para-choques foram alisados, os faróis e lanternas receberam LEDs e a grade dianteira exibe uma gravatinha iluminada da Chevrolet. Também foram instaladas rodas staggered, de 20 polegadas na dianteira e 22 polegadas na traseira.
O motor é um crate engine elétrico feito para imitar o formato de um V8, o que facilita a instalação no chassi original – o chamado “Connect & Cruise” – capaz de entregar aproximadamente 450 cv e, curiosamente, ligado a um câmbio automático convencional. A conversão foi feita usando componentes do Chevrolet Bolt. O problema fica por conta das baterias do Bolt, ambas de 400 volts, que ocupa, todo o espaço na caçamba… Ao menos ela vai de zero a 100 km/h em cinco segundos, e cumpre o quarto-de-milha na casa dos 13 segundos altos.
Chevrolet Camaro COPO John Force Edition
Agora, se o seu negócio é mesmo combustão interna, a Chevrolet também preparou algo mais tradicional para o SEMA: o Chevrolet Camaro COPO John Force Edition, exemplar one-off de seu carro de arrancada de fábrica que homenageia o piloto John Force, 16 vezes campeão da NHRA (National Hot Rod Association).
A carroceira e o interior receberam as cores da John Force Racing – preto, vermelho e prata, além de diversos emblemas com o nome do piloto. Mecanicamente o carro é igual aos 69 exemplares que serão vendidos em 2020 (uma referência ao ano de lançamento do primeiro COPO Camaro, 1969).
Duas opções de motor serão oferecidas: um V8 supercharged de 5,7 litros, ou um V8 naturalmente aspirado de sete litros. Será possível comprá-lo com um pacote de opcionais chamado Racer’s Package, que inclui duas baterias, para-quedas e lastro.
Chevrolet Camaro Valkyrja
Outro Camaro que está no SEMA Show não é um projeto da Chevrolet, mas da Ringbrothers. Trata-se de um exemplar da primeira geração equipado com um V8 LS3 de 6,8 litros com supercharger e 890 cv, acoplado a uma transmissão manual Tremec preparada pela Bowler. O diferencial traseiro é um John Industries de 9 polegadas.
O exterior foi customizado na pegada restomod, preservando boa parte das linhas originais, porém modernizando o look com para-lamas mais largos e faróis de LED. O exterior ainda ganhou um novo capô de fibra de carbono, mesmo material usado no teto. Um toque interessante são os dois bocais de combustível: um para gasolina comum, e outro para combustível de competição. As rodas são da HRE, e abrigam freios a disco da Baer. A suspensão foi toda feita sob medida pela Detroit Speed Engineering.
Não foram reveladas fotos do interior, e o carro será enviado para seu novo dono, um cliente sueco cujo nome não foi divulgado (e provavelmente não será), assim que o SEMA Show terminar.