Ah… essas ironias do mundo moderno: a Alemanha foi o país que deu ao mundo os automóveis com motores de combustão interna e, agora, pode ser o país que irá tirá-lo de nós. Ao menos é o que pode acontecer se a decisão do poder legislativo alemão for aprovada pela União Europeia.
A revista alemã Spiegel noticiou em sua edição deste sábado que o Bundesrat, um conselho análogo ao nosso Senado Federal, chegou a um acordo bipartidário que pretende banir a venda de carros movidos a combustão interna até 2030 e banir definitivamente a circulação destes carros nas ruas e estradas da União Europeia até 2050. Sim: são somente mais 34 anos de gasolina/diesel/etanol.
A decisão não é exatamente uma lei, mas uma “sugestão” para que o Conselho da União Europeia analise a sugestão para reduzir as emissões conforme previsto pelo Acordo de Paris, assinado em dezembro de 2015:
Assegurar que o aumento da temperatura média global fique 2°C abaixo dos níveis pré-industriais e prosseguir os esforços para limitar o aumento da temperatura a até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, reconhecendo que isto vai reduzir significativamente os riscos e impactos das alterações climáticas;
Aumentar a capacidade de adaptação aos impactos adversos das alterações climáticas e promover a resiliência do clima e o baixo desenvolvimento de emissões de gases do efeito estufa, de maneira que não ameace a produção de alimentos;
Criar fluxo financeiros consistentes na direção de promover baixas emissões de gases de efeito estufa e o desenvolvimento resistente ao clima.”
Como a decisão precisa ser avaliada pelo Conselho Europeu, ainda há uma esperança para os petrolheads. O problema é que, historicamente, a legislação alemã tende a influenciar fortemente o Conselho da União Europeia. Em declaração à revista Spiegel, o membro do partido Verde, Oliver Krischer, disse que “se é para levar a sério o Acordo de Paris, nenhum carro movido a combustão interna deve ser permitido nas estradas após 2030”.
A Alemanha e outros países da União Europeia já tentam estimular a compra e o uso de veículos elétricos com incentivos fiscais, porém a adesão a essa ideia ainda continua abaixo do esperado — afinal, carros elétricos ainda não são práticos como os veículos a combustão interna. Por isso, a resolução do Bundesrat sugere que a União Europeia institua impostos mais elevados para veículos movidos a combustão de forma que eles deixem de ser economicamente interessantes para o público.
Isso diz muito não apenas sobre as aspirações e desejos do público ou sobre a realidade da tecnologia de veículos elétricos, mas também sobre os políticos europeus. Como os nossos, eles também parecem descolados da realidade da maioria da população. Forçar o consumo de um produto indesejado por meio de um encarecimento artificial deste produto não parece uma ideia muito inteligente.
Por outro lado, a imposição de um prazo para o banimento dos motores a combustão interna deverá estimular um aumento nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de baterias para tornar os veículos elétricos tão práticos quanto os atuais a combustão.
[Spiegel via Gizmodo US]