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Car Culture

Super Máquina: a história do KITT, o Pontiac Trans Am de Knight Rider

Knight Industries Two Thousand. É este o nome completo do K.I.T.T., o Pontiac Trans Am 1982 que o agente Michael Knight, vivido por David Hasselhoff, usa para combater o crime em Knight Rider,  série que no Brasil foi exibida como “A Super Máquina”, referindo-se ao KITT. Agora, como alguns de vocês já sabem (especialmente quem cresceu nos anos 1980), o Trans Am era mais que um carro — equipado com um avançado sistema de inteligência artificial programado para salvar vidas, ele era o parceiro de Michael Knight e também a verdadeira estrela da série. Mas o que ele tinha de tão especial?

Para começar, ele ajudou a tirar a Pontiac de uma crise. No início dos anos 80 a divisão da General Motors passava por uma crise de identidade — enquanto a Chevrolet vendia esportivos e carros de entrada a um preço mais baixo, com Buick e Oldsmobile atuando nos segmentos superiores, a Pontiac tentava fazer um pouco de tudo — e acabou perdendo o foco, com as vendas caindo ano a ano. Os dias de glória do Pontiac GTO (que é considerado o primeiro muscle car moderno) e do Firebird já eram um passado distante. Era preciso se preocupar com o futuro.

Comercial de lançamento do Pontiac GTO 1966

Assim, o recém nomeado diretor geral da marca, Bill Hoglund, decidiu convocar uma reunião com todos os outros diretores — engenharia, design, vendas, marketing e relações públicas.para tentar dar à marca uma nova imagem e definir uma identidade. Depois de algumas horas, chegou-se a um consenso:

A Pontiac é uma companhia conhecida pelas inovações em estilo e engenharia, que resultam em produtos de excelente desempenho e dirigibilidade.

Esta frase seria a base para a filosofia que a marca seguiria dali em diante. Poucos meses depois, era apresentado o novo Pontiac Trans Am — a terceira geração, que compartilhava a plataforma com o Camaro de terceira geração, também lançado naquele ano. E, assim como o Camaro, o novo Trans Am entrava na nova década com estilo mais futurista, com linhas mais retilíneas e limpas e dianteira em formato de cunha (há até quem diga que ele lembra o Chevrolet Corvette C4, que veio dois anos depois.

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O novo carro era exatamente o que a Pontiac procurava de acordo com sua nova filosofia — além do design inovador, o carro tinha um V8 de cinco litros e 152 cv. Pode não parecer muito, mas em uma época de motores V8 estrangulados para reduzir emissões e consumir menos combustível, era o melhor que se podia ter.

O Trans Am também era perfeito para colocar em prática um dos planos definidos na reunião de 1981: ter produtos da Pontiac em um programa de TV — algo que colocasse o carro em evidência, deixando claro que era um Pontiac, e que você poderia encontrar nas concessionárias um carro igual àquele.

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Foto: High Performance Pontiac

Por sorte, o programa perfeito também estava à caminho. Era uma nova série sobre um ex-policial que assumia uma nova identidade e agia acima da lei para combater criminosos, e seu parceiro era um programa de inteligência artificial instalado em seu carro — que também era uma máquina futurista e cheia de recursos que o ajudavam a sair de situações arriscaras e lutar pela justiça. Glen Larson, produtor da série, só não sabia que carro usar — quer dizer, até ver fotos do novo Trans Am. Assim que bateu os olhos nas linhas do carro, ele sabia que havia encontrado o veículo perfeito para o papel.

Larson, que na época era um dos maiores produtores de Hollywood, assinando clássicos como Magnum P.I.Battlestar Galactica, entrou em contato com a Pontiac, que inicialmente demonstrou preocupação com o conteúdo do programa, mas acabou cedendo. O Pontiac Trans Am 1982 seria A Super Máquina.

A Pontiac cedeu três carros para a produção da série. Os três seriam caracterizados como KITT e usados nas cenas mais detalhadas, em closes e takes do interior do veículo — os hero cars, como se costuma dizer.

Porém, como conta a Hot Rod, transformá-los no KITT não foi tão fácil. A produção do Trans Am deveria ter começado em novembro de 1981, mas um problema com os discos de freio fez com que os primeiros carros saíssem da fábrica somente em meados de abril de 1982. O gerente de vendas da Pontiac em Los Angeles já havia feito o pedido dos três carros destinados ao seriado, mas além do atraso da fabricação dos carros, também houve outro problema: o Trans Am ainda não havia sido lançado formalmente e por isso não havia um programa promocional da fábrica para fazer a transferência de propriedade dos carros para a produção de Knight Rider. Sem os documentos a transportadora não poderia fazer a entrega formalmente através dos concessionários locais, visto que ele era tecnicamente um carro sem documentação de fábrica.

Para piorar a história, o produtor de Knight Rider, Glen Larson, não queria que os carros fossem entregues na Universal, pois eles ainda precisariam ser caracterizados como KITT e Larson pretendia fazer o serviço terceirizado, que seria mais barato que pagar os funcionários sindicalizados do estúdio.

Assim, a PMT,  transportadora da GM, precisou operar em segredo. Eles levaram três Trans Am pretos até um pátio e os abandonaram ali mesmo. Mais tarde, por meio de um telefonema anônimo, eles passaram as instruções aos produtores da série para que fossem buscá-los. Na hora marcada os funcionários da produção encontraram os três carros. Os funcionários da PMT saíram dos carros sem dizer uma palavra, deram as costas e foram embora. Não houve contratos, acordos, nada. Oficialmente os carros nunca existiram — o que é irônico, pois foi deles o papel do Pontiac Trans Am mais famoso do mundo.

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Em Knight Rider, o Trans Am é o personagem KITT, ou Knight Industries Two Thousand. Na série, o KITT nasceu como um supercomputador de última geração — uma máquina dotada de personalidade, que foi instalado em um carro com inteligência artificial. Seu objetivo? Ser usado em benefício de sua organização de combate ao crime que agia paralelamente à polícia, a Foundation for Law And Government (FLAG).

O carro foi entregue a Michael Long, policial que é dado como morto em uma operação à paisana. Ele é recrutado pela FLAG, recebendo uma nova identidade e um novo rosto, passando a se chamar Michael Knight. Seu título é o de Cavaleiro da Fênix (Knight of the Phoenix), nome escolhido pelos produtores por sua associação ao popular adesivo com um pássaro dourado que decorava boa parte dos Trans Am desde os anos 1970.

O KITT funciona como um exoesqueleto para o sistema de interligência artificial da FLAG — equipado com dezenas de recursos dignos de James Bond, como a capacidade de dirigir sozinho, uma tela multimídia capaz de reproduzir vídeos, músicas e até os jogos de arcade mais populares da época (que Michael Knight algumas vezes jogava ao volante); e carroceria com blindagem pesada, capaz até de atravessar paredes de concreto. Personalidade ácida e humor sarcástico também contam como recursos? Pois ele também era assim.

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Visualmente, o carro tinha carroceria e rodas pretas, além da traseira modificada com um grande painel de acrílico preto translúcido sobre as lanternas traseiras. No capô, a faixa de luzes vermelhas é o scanner que age como os “olhos” do KITT.

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Já o interior recebeu um painel totalmente novo, cheio de luzes coloridas, mostradores digitais e botões. Quase todos são meramente decorativos, mas davam um impacto visual muito grande (ainda mais na década de 1980, quando tudo que era digital estava na moda). A cena do Turbo Boost se tornou um clássico da televisão americana.

De qualquer forma, a relação entre KITT e Knight entre uma missão e outra acabou se tornando um dos grandes diferenciais da série, que alavancou a carreira do então jovem David Hasselhoff. Assim, ao longo dos anos o KITT foi acumulando uma base de fãs cada vez maior, rendendo, além das quatro temporadas da série original (que foi exibida entre 1982 e 1986), deu origem ao filme Knight Rider, de 2008, e a série que se seguiu, também naquele ano, exibida no Brasil como “A Nova Super Máquina”. O novo KITT é o Knight Industries Three Thousand, e o carro usado foi um Ford Mustang Shelby GT500KR, equipado com um V8 de 5,4 litros com compressor mecânico e 540 cv.

Outra prova da fama do KITT é a grande quantidade de réplicas que já foram feitas dele — tanto que até o próprio David Hasselhoff tem a sua. Ele ganhou de presente de uma fã em 2013, em seu aniversário de 60 anos.

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A réplica foi feita sobre um Trans Am 1986 e, no vídeo abaixo, David Hasselhoff a usa para provar que aprendeu a fazer algumas manobras de dublê especialmente para as gravações de Knight Rider.