A revelação do Lamborghini Asterion no Salão de Paris levantou a questão: Será que a marca de Sant’Agata Bolognese vai mesmo fazer um hipercarro híbrido? É difícil responder a esta pergunta porque, embora o Asterion pareça pronto para as ruas, a marca não disse nada a respeito de transformá-lo em um carro de produção.
E não é a primeira vez que isto acontece: ao longo de sua história, a Lamborghini já apresentou alguns conceitos bem plausíveis mas que, por uma ou outra razões, jamais foram produzidos em série. Alguns deles até nos deixam coçando a cabeça: “como é que esse carro nunca foi parar nas ruas”?
Para provar nosso ponto, selecionamos alguns deles, sobre os quais vamos falar agora.
Lamborghini Marzal, 1967
O Marzal é o conceito mais antigo a figurar nesta lista — foi apresentado em 1967, no Salão de Genebra. Ele nasceu quando Ferruccio Lamborghini decidiu que a linha da marca precisava de mais um modelo além do Miura e do 400 GT — o primeiro foi o clássico supercarro com motor V12 e linhas gloriosamente atraentes, e o segundo era uma evolução direta do 350GT (o primeiro carro a usar a marca Lamborghini na história).
Ferruccio encomendou um grand tourer de quatro lugares a Marcello Gandini, do estúdio Bertone (que também havia projetado o Miura), e o designer decidiu que usaria uma abordagem bem diferente desta vez. Ainda que fosse feito sobre a plataforma do Miura alargada em o Marzal — batizado, claro, em homenagem a uma raça de touros — tinha linhas retas, um capô bem destacado do resto da carroceria, e portas “asa de gaivota” que, além de ter enormes janelas, eram feitas de vidro até a soleira, bem como o teto. O resultado era um habitáculo bastante arejado e iluminado. Um elemento marcante no design do Marzal era o hexágono, que aparecia por todo o carro, do painel à cobertura do motor.
Aliás, o motor era um seis-em-linha de dois litros e 175 cv — em essência, metade do V12 4.0 do Miura. Com exceção das portas de vidro, o Marzal parecia pronto para ser produzido, mas Ferruccio vetou o projeto — dizem que por preocupação com a privacidade dos ocupantes, citando as pernas das mulheres à mostra como exemplo. Se isto é verdade, não se sabe, mas o fato é que o Lamborghini Espada, lançada no ano seguinte, lembra bastante o Marzal em silhueta e proporções. Contudo, seu motor é um V12 de quatro litros, montado na dianteira.
Lamborghini Bravo, 1974
No início da história da Lamborghini seus modelos tiveram vida curta. O Urraco foi o Lambo “de entrada” apresentado em 1970, mas só começou a ser vendido em 1973. E, no ano seguinte, a marca já pensava em um substituto — e o Bravo, que foi mostrado no Salão de Turim de 1974, era a proposta de Marcello Gandini. Naturalmente, era bastante influenciado pelo Countach em seu formato de cunha e na disposição das janelas.
O conceito era um protótipo funcional, movido por um V8 de três litros e 300 cv, e passou por mais de 270 mil km de testes ao volante antes de ser levado para o museu da Bertone. Quando a Lamborghini decidiu que não o produziria, a Bertone se voltou para a Fiat, que até considerou produzi-lo para ficar acima do esportivo X1/9. A Fiat acabou desistindo da ideia, e o Bravo foi levado para o museu da Bertone, onde ficou em exposição até 2011, quando foi arrematado em um leilão durante o Concorso d’Eleganza Villa d’Este. Ao menos as rodas dele foram produzidas e até se tornaram parte da identidade visual da Lambo.
Lamborghini Calà, 1995
No fim dos anos 1980 o Jalpa já estava bem defasado — afinal, ele era derivado do Urraco, lançado em 1974 — e, por esta razão, a Lamborghini decidiu que ele precisava de um sucessor. Em vez do estúdio Bertone, porém, a Lamborghini procurou a Italdesign, de Giorgetto Giugiaro, e foi ele o projetista do Calà.
Se a Lamborghini estivesse em boa situação financeira, talvez o Calà tivesse sido lançado, mas a verdade é que ele estava condenado desde o início: o Jalpa foi descontinuado em 1988, sob o domínio da Chrysler, mas só em 1994, com a Lamborghini já nas mãos da companhia indonésia Megatech, que o Calà começou a tomar forma. Ele foi apresentado no Salão de Genebra de 1995 e, com um V10 montado em posição longitudinal, era totalmente funcional.
Contudo, a compra da Lamborghini pela Audi em 1998 acabou levando ao cancelamento do projeto, que deu lugar ao Lamborghini Gallardo, lançado em 2003. É possível ver certa semelhança entre os dois carros, especialmente nos elementos da dianteira e na configuração mecânica — o Gallardo também tinha um V10 longitudinal, e tornou-se o Lamborghini mais bem sucedido da história. Poderia ter sido do Calà em seu lugar.
Mas, pelo menos, ele é um dos carros mais lembrados de Need For Speed II:
Lamborghini Canto, 1997
O Diablo substituiu o Countach em 1990, mas a Lamborghini não queria que, como seu antecessor, ele durasse mais de dez anos em produção. Por isso, em 1997 a marca começou a estudar possíveis substitutos para seu então topo-de-linha. Entre eles, estava o P147 Canto, ou simplesmente Canto, projetado pelo estúdio Zagato.
Feito sobre a base do Diablo, o protótipo do Canto usava originalmente o motor V12 de 5,7 litros e 517 cv do Diablo SV. Pesando menos de 1.000 kg, estima-se que a primeira versão do Canto era capaz de ultrapassar os 350 km/h. Contudo, seu design foi rejeitado pelos executivos, que o julgavam exótico e datado demais. Para 1999 a Zagato apresentou uma versão renovada do conceito (a que você vê nas fotos), dotada de um V12 de seis litros e 640 cv, mas este tinha problemas de superaquecimento.
Antes que a Zagato pudesse aperfeiçoar o conceito mais uma vez, a Lamborghini decidiu procurar o estúdio Bertone para projetar aquele que se tornaria o Lamborghini Murciélago.
Lamborghini Concept S, 2005
Falando em Gallardo, o Lamborghini Concept S, de 2005, foi baseado nele. De autoria do belga Luc Donckerwolke, o Concept S é uma reinterpretação dos speedsters de um só lugar das décadas de 1950 e 1960. Mas em vez da configuração tradicional, o Concept S tinha dois cockpits separados, cada um com seu para-brisa, e o vão entre os dois lugares direcionava ar para o motor — um V10 de cinco litros como no Gallardo — além de melhorar o fluxo aerodinâmico.
Foram feitos dois carros: um deles sem motor para ficar exposto no museu da Lamborghini, e outro funcional, que estreou em Pebble Beach naquele ano e, segundo consta, ainda está em algum lugar pela fábrica em Sant’Agata. Na época, boatos disseram que a Lamborghini faria do Concept S uma série limitada a 100 unidades, mas decidiu-se por mantê-lo como um exercício de design.
Lamborghini Miura Concept, 2006
Em 2006 a Lamborghini apresentou o Miura Concept no Salão de Detroit, comemorando os 40 anos da estreia do Miura original em 1966, no Salão de Genebra. À época, o design automotivo retrô estava no auge, e o Miura Concept foi um dos que melhor demonstraram esta tendência. Projetado por Walter de’Silva, o conceito lembrava muito o carro original sem parecer datado (assim como o Ford GT), mas sua plataforma e mecânica vinham do Murciélago — ou seja, ele tinha um V12 de 6,5 litros e 640 cv.
É o tipo de carro que nos deixa com saudade de algo que não aconteceu — você não deseja com todas as suas forças que a Lamborghini tivesse colocado este carro nas ruas, mesmo que em uma edição limitadíssma? Pois jamais aconteceria: o Stephan Winkelmann, CEO da Lamborghini, disse que “o Miura Concept foi uma celebração da nossa história, mas a Lamborghini pensa no futuro. Design retrô não é a razão para estarmos aqui, então não vamos produzir o Miura.” Finito.
Lamborghini Estoque, 2008
Um sedã de quatro portas? Sim, foi exatamente isto que a Lamborghini apresentou no Salão de Paris em 2008 (lá se vão seis anos!): o Estoque, primeiro Lambo de motor dianteiro desde o LM002, descontinuado em 1993. Seu nome, seguindo a tradição da Lamborghini, tem a ver com touros: “estoque” é o nome da espada usada pelos matadores nas touradas.
Com o motor V10 de 5,2 litros do Gallardo na dianteira, o Estoque esteve bem próximo da produção — ou ao menos foi o que boatos que começaram em março de 2009 disseram. E continuam até hoje — há algumas semanas, quando a Lamborghini disse que preparava uma surpresa para Paris em 2014, muito especulou-se se não seria uma versão atualizada do Estoque.
O fato é que a Lamborghini não desistiu de lançar um carro de quatro portas, mas Stephan Winkelmann já disse que não será o Estoque, e sim o Urus — ou qualquer que seja o nome definitivo que o novo SUV da marca irá adotar.