Todo gearhead desta segunda década do século 21 sabe que uma das grandes vantagens dos carros elétricos é o desempenho brutal que seus motores podem ter. Graças às características do motor elétrico, a curva de torque é plana, e pode ser entregue totalmente a qualquer momento que o motorista pisar no acelerador.
Mesmo assim, ainda não pensamos exatamente nos elétricos quando se trata de desempenho esportivo. Ainda estamos condicionados a pensar em esportivos como algo com vários cilindros queimando combustível e produzindo muito barulho no processo. É por isso que você pensa no BMW M5, ou no Mercedes E63 AMG quando se fala em sedã esportivo, mas não no Tesla Model S, embora ele tenha números e potencial para isso. Quer ver?
O BMW M5, por exemplo, que é o mais icônico dos sedãs esportivos, tem 4,96 de comprimento, 1,45 m de altura, e 1.945 kg. Seu V8 biturbo de 4,4 litros produz 560 cv e pode levá-lo aos 100 km/h em apenas 3,7 segundos. O Mercedes-Benz E63 AMG, seu principal rival, tem o mesmo porte, 564 cv produzidos pelo 5.5 V8 biturbo, e leva 4,2 segundos para levar o sedã de 4,90 m de comprimento e 1.845 kg de zero a 100 km/h — ou 3,7 segundos se equipado com o sistema 4Matic de tração integral.
O Tesla Model S? Tem 4,97 m de comprimento, 1,43 m de altura, 2.100 kg e 420 cv de potência, mas chega aos 100 km/h em 4,2 segundos na versão 85 P, com baterias de 85 kWh. Como ele consegue isso?
Em primeiro lugar temos a entrega de 100% do torque e potência no instante em que você pisa no acelerador, mas o Model S também tem uma vantagem nesse quesito: ele usa apenas uma relação direta final com redução 9,73:1. Isso significa que ele não tem transmissão, e por isso tem menos elementos que causam delay e perdas mecânicas (a perda é de desprezíveis 2%). O que também significa que ele consegue enviar para as rodas traseiras mais torque e potência que um carro com transmissão comum.
É por isso que esse vídeo abaixo vem se espalhando pela internet. Os autores do vídeo colocaram o Model S no dinamômetro, e descobriram que ele tem um número brutal de torque. Quanto? 4.310 lb-ft, no sistema imperial, ou 594,8 mkgf no nosso sistema métrico. Quinhentos e noventa e cinco metros-quilogramas-força de torque! Isso equivale, por exemplo, ao torque de 3,5 dos famosos caminhões Scania 113, ou quase dez Nissan GT-R. Duvida? Veja com seus próprios olhos:
Mesmo parado sobre a plataforma, o movimento do rolo do dinamômetro já dá uma ideia do desempenho insano deste motor elétrico. Na verdade, ele levou o dino ao seu limite — a máquina não registra acima de 2.000 lb ft (ou 276 mkgf), mas segundo os cálculos feitos pelos operadores do dinamômetro, ele produz realmente 4.310 lb-ft. Não surpreende que ele consiga desempenho próximo ao de esportivos consagrados mesmo pesando um pouco mais e tendo menos potência. Desculpem pelo trocadilho, mas o resultado certamente é chocante para muita gente.
A menos que você esteja atento e não tenha matado as aulas de física (ou de mecânica) no fliperama jogando Daytona USA. Esse valor de torque, embora impressionante, não pode ser verdadeiro. E de fato não é.
O que aconteceu é que, sendo um carro elétrico de relação direta (sem marchas), ele tem aceleração quase instantânea — um motor elétrico pode ir do zero à rotação máxima em décimos de segundo. Com esse tempo de aceleração extremamente curto, a transferência de energia da roda para o cilindro do dinamômetro supera a capacidade de medição da máquina, e por isso ela informa seu valor limite de medição.
Foi por isso que o dinamômetro chegou ao limite de 2.000 lb-ft, e esse valor os induziu a acreditar que o carro tinha muito mais torque. Somente depois de alguns segundos de amortização (ou seja, funcionando com aceleração estável), o dinamômetro começa a ler os parâmetros corretamente.
Mas como eles chegaram a 4.310 lb-ft? Não podemos afirmar com certeza, mas é possível que o dinamômetro tenha apontado o valor correto, divulgado pela fábrica, 443 lb ft (ou 61,1 mkgf, um número bem mais plausível), só que como esse era o torque na roda, os caras talvez tenham multiplicado o valor pela relação final, como fariam em um carro com transmissão comum (e uma relação de diferencial bem menor). O resultado? Não precisa pegar a calculadora: 443 x 9,73 = 4.310.
A conta pode até estar certa, mas a teoria está errada. Como vimos, a perda mecânica de uma relação direta do motor é desprezível (2%), o que significa que as rodas recebem praticamente todo o torque produzido pelo motor. Em um carro com motor a combustão e câmbio com cinco velocidades e diferencial, a multiplicação pelas relações estaria correta, mas não é o caso aqui.
Então, desculpem-nos pelo balde de água fria se você achava que o Tesla tinha torque suficiente para reverter a rotação da Terra. Isso também não significa que ele seja menos esportivo do que parece. Se a aceleração brutal confunde uma máquina, imagine o que ela é capaz de fazer em uma pista de arrancada.
Pensando bem, nem precisa imaginar:
[ Fotos: Road and Track, Drag Times e Tesla ]