Tenho uma lembrança mais do que especial com o Toyota Supra com pintura da Castrol: ele era o carro que estava estampado no meu CD (pirata, claro) de Gran Turismo. Era meu primeiro contato, antes mesmo de jogar, com um dos automóveis mais icônicos do game. E ele não estava lá por acaso – afinal, também era um dos carros mais emblemáticos do automobilismo japonês.
Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como conteúdos técnicos, histórias de carros e pilotos, avaliações e muito mais!
Como vários outros carros presentes nos primeiros Gran Turismo, o Castrol Tom’s Supra GT era um carro do mundo real – ele competiu pela no JGTC (Japanese Grand Touring Car Championship, atual Super GT) na década de 1990, sob os cuidados da equipe Tom’s e com o suporte própria. Depois de conquistar o título de 1997, a Tom’s continuou competindo com patrocínio da Castrol até a temporada de 2001. Depois que o contrato acabou, a Tom’s seguiu até meados da década de 2000 usando o Supra no JGTC, mas a pintura branca, vermelha e verde do lendário A80 foi a que ficou gravada na memória dos fãs.
A Tom’s atuou quase como equipe de fábrica da Toyota na década de 1990, ajudando a desenvolver e fabricar os protótipos TS010 e 92C-V no Grupo C de protótipos esporte. No final daquela década, a Tom’s usou o Supra com as cores da Castrol para competir contra rivais do calibre do Nissan Skyline GT-R e do Porsche 911 GT1. Dois carros foram feitos, e um deles foi encontrado recentemente e recuperado pela própria equipe após mais de duas décadas trancado em um galpão. Agora, a Tom’s planeja restaurá-lo e correr com ele mais uma vez quando a situação geral do planeta normalizar.
Na verdade, foi justamente por causa da pandemia que o carro foi encontrado – ou quase isso. De acordo com o site Japanese Nostalgic Car, as preparadoras e equipes japonesas começaram a compartilhar fotos antigas e relatos de corridas do passado em suas páginas no Facebook. Afinal, muita gente está passando por surtos de nostalgia nesta quarentena (experiência própria, aliás). E isto gerou bastante envolvimento da comunidade de fãs.
Em uma destas publicações, um fã deu a letra de que um Supra da Tom’s havia sido avistado em um galpão na cidade de Chugoku, no oeste da ilha de Honshu, a principal do Japão. Algumas fotos foram enviadas à Tom’s – que, no final do mês passado, conseguiu encontrar o carro e comprá-lo da pessoa que estava com ele.
A própria Tom’s ainda não sabe exatamente como o carro foi parar lá – será preciso investigar mais a fundo, segundo a preparadora. Eles acreditam que alguém conseguiu comprar o carro das pessoas que trabalhavam na Tom’s na época, e que ele foi “escondido” no galpão. Mas ainda é cedo para tomar esta versão como verdadeira, e qualquer hipótese ainda deve ser levada como especulação.
De qualquer forma, a Tom’s tem preocupações maiores: o que eles querem fazer é restaurar o carro e dar a ele a oportunidade de acelerar de novo.
A Tom’s Racing esclarece que o carro não é o mesmo que venceu os títulos dos pilotos e construtores na categoria GT500 em 1997, conduzido por Michael Krumm e Pedro de la Rosa com o número 36. Aquele carro também está longe dos holofotes no momento – há fotos e vídeos feitos há mais de dez anos que mostram o carro em um evento da Toyota chamado “Dream Drive”, realizado em 2009, mas aquela foi sua última aparição em público de que se tem notícia. E, mesmo assim, existe a possibilidade de ser uma réplica bem feita.
Este carro também competiu na mesma época, e também usou o número 36 em algumas ocasiões – o que só ajuda a tornar a história toda mais confusa. O piloto japonês Masanori Sekiya dividiu o volante do carro com os colegas Toshio Suzuki, Takuya Kurosawa e Norbert Fontana durante as temporadas de 1997 e 1998. Embora não tenha conquistado títulos com ele, Sekiya levou o Supra até o vice-campeonato de 1998.
Tanto a pintura da Castrol quanto a mecânica eram idênticos nos dois carros. E nenhum deles tinha um 2JZ debaixo do capô, mas sim um motor 3S-GTE da Toyota, com cabeçote preparado pela Yamaha. Era o mesmo motor do Toyota Celica que competiu no WRC, com turbo Garrett e 480 cv. O carro em questão, porém, teve a mecânica removida antes de ser guardado no galpão. E, ao longo dos anos, ele também não foi muito bem cuidado.
Embora pareça estruturalmente íntegro e a carroceria esteja em boas condições, assim como a pintura, este Supra é um carro de competição que está parado há pelo menos duas décadas e certamente precisará de um makeover completo para retornar a seu estado original.
Para 2020, a Tom’s planejava competir com o novo Toyota Supra A90 na Super GT. Com as provas canceladas, porém, a equipe tem tempo livre para trabalhar no Supra da Castrol. O problema são os custos – e por isto foi aberta uma campanha no site japonês de financiamento coletivo Makuake. A campanha tem três níveis:
- Com ¥10 milhões (o equivalente a por volta de R$ 500.000), o Supra será restaurado por dentro e por fora, e ele poderá ser levado para eventos.
- Com ¥30 milhões (cerca de R$ 1,5 milhão), o carro receberá um conjunto mecânico mais simples, para ser conduzido normalmente.
- Por fim, com ¥50 milhões, (por volta de R$ 2,5 milhões), o carro receberá mecânica de competição e poderá ir para a pista.
Como é de costume nestas campanhas, a Tom’s oferece alguns prêmios pelas contribuições, variando de acordo com a quantia. E, se tratando da reforma de um lendário carro de competição japonês, estas recompensas podem ficar bem interessantes.
Quem contribuir com ¥100.000 (cerca de R$ 5.000), por exemplo, ganhará um convite para o evento de revelação do carro pronto. Quem doar ¥500.000 (cerca de R$ 25.000) ganhará um adesivo de fibra de carbono e um passe de temporada para a Super GT em 2021. Quem contribuir com ¥1 milhão (aproximadamente R$ 50.000) ganhará o passe de temporada e acesso à área VIP da Tom’s. E as doações maiores (de ¥3 milhões, ¥5 milhões e ¥10 milhões) darão direito a todas as recompensas anteriores, mais o direito de ter seu nome gravado em algum lugar do carro – a asa traseira, o capô, as rodas ou a ECU. E os doadores ainda poderão ir ao Japão, ficar com o carro por um dia inteiro e ainda conduzi-lo na pista.
A Tom’s aceita doações do mundo todo, mas adverte que os residentes em outros países terão de se locomover até o Japão por sua conta. O que, convenhamos, é um preço pequeno a se pagar para poder dirigir um ícone da década de 1990, das pistas de corrida e dos games.