noite quente e abafada de verao em meados de 2010  quase uma da manha  estou com o arquivo de notepad dodgestuff txt aberto   la tenho anotadas as peças que comprei para o dart  os passos ja feitos  os passos seguintes  os passos abortados  estou terminando a lista da proxima encomenda  que faria para uma amiga aeromoça  quando meu celular toca com um torpedo  antes de abrir o telefone  olho para a janela  tinha começado a chover  ja sabia quem era   ta chovendooooo to passando ai    rafael paschoalin  cerca de quinze minutos depois  ouvia a s10 quatro cilindros flex e de abafador esportivo chegando  envelopada de preto fosco  na foto acima ja estava sem o acabamento  e com as rodas pintadas na mesma cor  as rodas e pneus de stock sao outra historia      tinha o justo apelido de  caveirao   nao precisava nem buzinar  ja entrava na picape rindo  sabiamos que aquilo nao fazia sentido algum para ninguem que nao fosse muito xarope e apaixonado por carros e corridas   e dentro daquela cabine havia dois  a sensaçao era meio infantil  como se estivessemos indo descer uma avenida de carrinho de rolima   e isso era o maior barato   barata  achei uma rotatoria numa pracinha  puta merda  animal  ce precisa ver     demorou  vamos la entao  vazio     desertaço   era essa a missao de toda madrugada chuvosa  uma curta e longa tradiçao de uns seis ou oito meses  descobrir alças  retornos e patios desertos  quantas horas perdemos no google maps     e botar a picapona para andar de lado noite adentro  pelo maximo de tempo possivel  e a chevrolet era especialmente boa nisso  nao tinha muita coisa e nem precisava  diferencial autoblocante  rebaixada  suspensao preparada pela impacto  pneus de uso misto e nada mais  nao precisava de motor   o 2 4 era torcudo e bastava cutucar o acelerador para ver o mundo pelas janelas laterais  a combinaçao de chuva  potencia baixa e entre eixos longo deixava a coisa bem tolerante   era relativamente facil de recuperar as rabeadas  chegamos na tal da rotatoria  que ficava no meio de um bairro de gra finos  na regiao do morumbi  aquele tipo de bairro que parece um deserto  pois as casas sao castelos com muros de dez metros e nao se ve uma alma na rua mesmo de dia  fizemos umas voltas de checagem  confirmamos a visibilidade e pronto  la vai o caveirao andando atravessado  lembro do ronco durante as derrapagens misturado as nossas gargalhadas ate hoje  era uma rotatoria bem dificil de ser zerada  fazer inteira de lado   a pista era estreita  metade dela voce fazia subindo  a outra metade descendo  tinha lugar com asfalto sujo  asfalto liso e asfalto bem granulado  andando como gente civilizada  voce nao percebe essas diferenças  mas escorregando de lado  a diferença do quanto que ela escapava era monstruosa  eu nao consegui zerar a rotatoria  ja o rafa  bem  so nao digo que fez com uma maos nas costas porque era um percurso realmente complicado e que demandava nao so controle  mas planejamento   na parte lisa em descida  a picape tinha de entrar um pouco mais morta e começar a retomada antes da parte aspera em subida  era bem dificil   se passasse um pouco do ponto  perdia a traseira  lembro que ele conseguiu zerar duas vezes   foi sensacional  e a tipica gloria que nunca iria sair dali  contar nunca tem a mesma graça que vivenciar o momento  de la  fomos para o nosso tradicional percurso  era uma rotatoria muito grande  numa regiao meio industrial da zona sul de sao paulo  nao so ela era grande  como ela emendava em uma outra curva de 90º para a direita   era a nossa pistinha de drift  a regra era simples  bastava entrar com cuidado  para ver se nao vinha carro  se nao vinha  era so fazer o resto tranquilamente  pois nao havia outras entradas e  por ser regiao industrial  nao havia uma unica alma a pe  como o raio dessa rotatoria era grande  as velocidades eram maiores  e dificil de estimar a velocidade com a picape angulada  mas era algo entre 60 e 70 km/h  a pista era larga  o asfalto era bom  tinha visibilidade de sobra  enfim  o lugar perfeito  a gloria ali era zerar a rotatoria grande e ainda conseguir emendar e fazer de lado a perna seguinte  nao era algo la muito facil   controlar a embreagem  o acelerador e conseguir acertar o angulo  a tocada e deixa la num powerslide estatico  o famoso  catch the drift   e bem mais complicado de fazer do que de olhar  pendular para mudar de direçao tambem era outra arte  mas nao tinha nada mais recompensador do que acertar tudo  perdi as contas de quantas vezes fomos la  ate a luz da reserva do tanque acender ou a fome falar mais alto  dai iamos para um bob s ou mcdonald s 24 horas e comiamos um sanduba de madrugada  enquanto dividiamos nossos projetos automotivos e falavamos sobre nossas carreiras  na epoca  ele falava muito de correr no pikes peak e na ilha de man  como amigo  achava sensacional e ate sentia orgulho  mas apesar de apoiar o projeto da ilha de man  nao foram poucas as vezes em que falei para ele nao ir  eu estava errado  foi do caralho e o brasil todo sabe disso   na verdade  sem saber estavamos celebrando um ultimo momento de nossas vidas antes de virarmos adultos de verdade  como disse o rafa na carta de despedida do jalop  em pouco tempo o trabalho  namoradas e compromissos profissionais nos tomariam esse ritual da madrugada aos poucos  os filhos dele tambem cresceram  e demandaram ainda mais dedicaçao  naquela epoca  ele estava saindo da qr moto para assumir um cargo maior na motocilismo  enquanto eu estava de mudança para a car and driver  que marcou minha passagem de reporter para editor  bem  ao menos funcionalmente   foi uma epoca muito legal  competiamos em simuladores  andavamos de kart  curtimos algumas baladas meio sinistras  e sempre que chovia a noite  uma s10 fosca escorregava de lado na madrugada  pensei muitas vezes em escrever esta serie de historias  tanto quanto pensei em nao escreve las  por razoes obvias  existem mais capitulos  os dias que deram errado  o dia em que botamos slicks de stock car  e uma historia muito bizarra com um caminhaozinho kia bongo  se elas serao publicadas  vai do feedback de voces   
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