Você pode achar que, em 2014, com a internet e tudo o mais, nada é totalmente “secreto”. Mas e se a gente dissesse que um dos maiores tesouros do automobilismo está muito bem escondido em algum lugar no sul da Inglaterra? Um depósito com uma fachada discreta, quase invisível, chamado Unit 2, é o lugar para onde vão os carros de corrida aposentados da McLaren. E ninguém sabe como chegar lá.
Quer dizer, ninguém além dos poucos selecionados que já estiveram por lá e viram uma coleção de carros, pneus, peças e ferramentas usados pela McLaren desde 1981, quando o controle da equipe foi assumido por Ron Dennis. Uma das primeiras coisas que o novo presidente fez foi determinar que, no fim de cada temporada, cada carro, jogo de pneus, componente ou ferramenta usado naquele ano não fosse vendido a ninguém.
Antes disso, era quase que uma tradição que os carros fossem vendidos quando as temporadas acabassem. Diferentemente do que acontece hoje, as maiores equipes construiam até dez carros por ano, e era natural que sobrevivessem no fim do ano fossem vendidos para ajudar a financiar a temporada seguinte. A McLaren não era exceção — até 1981.
“Desde então, nenhum MP4 foi parar no mercado aberto”, diz Ian Gosling, um dos responsáveis por cuidar dos carros do Unit 2. “MP4” é a designação dos carros feitos depois de 1981, e significa “Marlboro Project 4”, união do patrocinador da equipe na época e do nome da equipe que Ron Dennis pretendia formar antes de assumir a McLaren.
Isto significa que, fora os carros que estão expostos em museus ou em eventos, todos os carros usados pela McLaren na Fórmula 1 nos últimos 33 anos provavelmente está lá — bem como vários jogos de pneus, peças e até mesmo as ferramentas usadas pela equipe ao longo do tempo. Os carros que não estão lá podem ser encontrados na exposição permanente que fica no circuito de Donington e no McLaren Technical Centre — este sim um edifício majestoso, que a companhia exibe com orgulho.
Por volta de 50 carros estão no galpão. Ali em cima dissemos “manutenção”, mas a verdade é que o lugar não costuma ser limpo com muita frequência e, da última (e única) vez que a imprensa esteve lá — a revista CAR Magazine, que visitou o local em 2011 —, uma grossa camada de poeira se juntava sobre o chão descascado e as capas plásticas que cobriam alguns dos carros — todos eles com seus narizes removidos e pendurados na parede.
No depósito, que “funciona” desde 1997, é possível presenciar a evolução das cores e formas dos carros de Woking, do branco-e-vermelho da Marlboro, passando pelos monocromáticos West, até o prata-e-vermelho da Vodafone. Hakkinen, Senna, Prost… também é possível ler seus nomes e os de outros pilotos na lateral dos carros. Entre os modelos históricos, estão o MP4-18, que jamais correu por problemas no desenvolvimento, e o MP4/8B, protótipo dom motor V12 Lamborghini testado por Ayrton Senna em 1993.
Entre as pouquíssimas vezes em que o local foi aberto está uma visita que Lewis Hamilton e Jenson Button fizeram para conhecer o MP4/4 de Ayrton Senna, usado pelo piloto em 1988 para conquistar seu primeiro título da Fórmula 1, e se transformou em um vídeo promocional. Provavelmente eles chegaram lá vendados, então nem adianta perguntar a eles onde exatamente fica o depósito.
Os únicos registros em fotos são estas 22 imagens feitas pelo fotógrafo Darren Heath, que capturam muito bem a atmosfera nostálgica do Unit 2. Aproveitem bem esta galeria alta resolução — sabe-se lá quando serão feitas mais fotos.
[ Sugestão do post: Luiz Fernando Adelino ]