É fácil ficarmos impressionados com motores de 1.200, 1.500 cv até lembrarmos que estes caras existem: os dragsters Top Fuel que disputam arrancadas da NHRA nos EUA que, com motores V8 de mais de oito litros, compressor mecânico e nitrometano no tanque, costumam render 10.000 cv — pelo menos. Fica ainda mais impressionante quando você descobre que depois de cada puxada, o motor é quase todo refeito — em menos de uma hora.
Estamos falando de uma equipe organizada, de seis pessoas, cada uma com funções específicas e ciente do que fazer e quando fazer — afinal, quando se coloca um monoposto com 10.000 cv e 1.700 mkgf de torque logo atrás do piloto para chegar aos 160 km/h em 0,8 segundo, muita coisa pode dar errado e tudo precisa estar perfeito. É um verdadeiro balé mecânico — e, uma vez assistindo a este vídeo, você nunca mais irá duvidar da complexidade dos motores V8 americanos.
Dizemos isto porque, apesar de tantos superlativos, um motor Top Fuel tem a mesma concepção mecânica: é um V8 pushrod (comando no bloco) com duas válvulas por cilindro, como o Chrysler Hemi 426 da década de 1960. Só que, aqui, o bloco é usinado a partir de uma peça única de alumínio forjado e o deslocamento é de 8,1 litros (496 pol³). Não há dutos para passagem do líquido de arrefecimento, o que aumenta consideravelmente a resistência do bloco. O motor é refrigerado pela própria mistura ar-combustível.
Além disso, há todos os outros componentes do motor: pistões, bielas — que são de alumínio e bem maiores que as de qualquer carro de rua, mesmo o Challenger Hellcat —, cabeçotes, juntas, cinco mancais, parafusos muito mais resistentes, válvulas de titânio… e, claro, o compressor mecânico do tipo Roots com pressão de 4,4 bar com um gigantesco blower no topo. O resultado é uma potência específica de 1.200 cv/l. Para se ter uma ideia, o motor do Dodge Viper — que é um pouco maior, com 8,4 litros — entrega 652 cv, ou pouco mais de 77 cv/l.
À esquerda, a biela de um Toyota Supra turbo preparado. À direita, a de um dragster Top Fuel (Foto: MotoIQ.com)
Naturalmente não podemos comparar o motor de um carro de rua com o de um dragster Top Fuel. O motor do Viper foi feito para durar muito mais tempo, enquanto o motor de um dragster precisa ter a maior parte de seus componentes trocada após cada puxada — afinal, atingir os 520 km/h em menos de quatro segundos em um espaço de 1.000 metros causa um desgaste absurdo.
Aliás, a distância de uma pista de arrancada não é de 1.320 pés (o equivalente a 402 metros, o famoso quarto-de-milha) desde 2008, ano em que o piloto Scott Kalitta sofreu um acidente quando seu carro explodiu na pista e danificou os para-quedas. O carro de Kalitta era um Funny Car — categoria que usa motores parecidos com os dos dragsters Top Fuel, porém na dianteira, e carros com bolhas que lembram vagamente veículos de produção.
Incapaz de reduzir a velocidade, o carro chocou-se violentamente com o muro e morreu na hora. Com a redução da pista para 1.000 pés (304 metros), os carros ganharam mais de 100 metros extras para as frenagens.
Funny Cars são um pouco mais lentos que os dragsters Top Fuel — cerca de 0,25 s, pois são mais pesados (1.160 kg contra 1.045 kg de um Top Fuel) e têm menos peso sobre o eixo traseiro, o que diminui um pouco a tração.
Independentemente de tudo isto, porém, os motores do mais alto escalão da arrancada americana são verdadeiras obras de arte mecânicas — e vê-los sendo desmontados e montados novamente em menos de dois minutos (mesmo que o processo leve, em média, 40 minutos) é de deixar qualquer entusiasta boquiaberto.