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Car Culture

Cimarron: quando a GM tentou transformar o Monza em um Cadillac… e não conseguiu

Por mais que o processo de desenvolver e lançar um automóvel custe dinheiro, tempo e não admita erro, há certos carros que suas fabricantes preferem esquecer. O Cadillac Cimarron é um exemplo disso: para nós, ele é um Chevrolet Monza de grife. Para os americanos, ele é um fracasso sobre rodas. Neste post, vamos contar esta história.

Primeiro, é preciso saber um pouco sobre a origem comum do Monza e do Cimarron. Tanto o sedã que foi sucesso de vendas no Brasil quanto o Cadillac de entrada que não convenceu ninguém originam da plataforma J da General Motors.

Feita para carros compactos e de baixo custo, a plataforma J trazia motor dianteiro transversal e tração dianteira e seria utilizada por todas as marcas do grupo GM, em todo o planeta – Chevrolet, Pontiac, Buick, Cadillac, Opel, Isuzu… todas elas tinham suas próprias interpretações da plataforma J.

No Brasil, você sabe, tivemos o Monza. Em essência um Opel Ascona com outros emblemas, o Monza era tão bem resolvido que foi o carro mais vendido do país de 1984 a 1986, mesmo não sendo popular. Nos EUA, a Chevrolet ofereceu o Cavalier, enquanto a Pontiac vendia o J2000 e o Sunfire, a Buick tinha o Skyhawk e a Oldsmobile vendia o Firenza. No Japão, a plataforma J deu origem ao Isuzu Aska.

O compartilhamento de plataformas é uma forma comum que as fabricantes têm para economizar dinheiro no desenvolvimento de um carro: ao investir em componentes intercambiáveis e aproveitar soluções desenvolvidas por suas “irmãs”, as marcas gastam menos com desenvolvimento e fabricação de componentes. Por exemplo: uma forma simples de identificar os carros derivados da plataforma J feitos nos anos 1980 é o formato das portas traseiras.

O fator econômico pesou bastante quando a Cadillac decidiu adotar a plataforma J também. Naquela época, o mercado americano estava em crise, e a indústria automotiva local estava suando para conseguir acompanhar a onda de importados do Japão e da Europa que invadia as praias americanas. Eram carros mais baratos, modernos, menores e contidos no consumo de combustível, que eram capazes de suprir as necessidades de uma família americana média. Embora não o fizessem da mesma forma que uma típica barca da década de 1970.

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Conforto, potência e dimensões externas deixaram de ser fatores que pesavam tanto na opção por um carro, dando lugar a praticidade, economia de combustível e manutenção barata. As concessionárias da Cadillac, então, começaram a pressionar a companhia: quando é que elas teriam um carro de entrada para oferecer aos clientes que não abririam mão do requinte de um Caddy?

No fim dos anos 1970 a companhia já estava trabalhando em um Cadillac derivado da plataforma J, mas ele seria lançado só na segunda metade da década de 1980. Com a demanda, porém, seu desenvolvimento foi acelerado, e em 1981 o Cadillac Cimarron começou a ser fabricado.

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Diversos nomes foram considerados, de preferência começando com C: Carmel, Caville (ao estilo de Seville e DeVille), Cascade e o escolhido Cimarron – que pode ser uma raça de cachorros criada no Uruguai, o nome que os mexicanos dão para os cavalos selvagens ou um povo descendente dos escravos norte-americanos. Nenhuma delas nos parece um nome adequado para um Cadillac…

Não ajudava o fato de o motor ser o primeiro quatro-cilindros oferecido pela companhia desde 1914 e o primeiro motor com menos de dois litros desde 1908. Muito menos o fato de a transmissão de quatro marchas ser a primeira caixa manual em um Cadillac desde 1953 (a Turbo-Hydramatic automática de três marchas era opcional). Tudo no Cimarron era visto como um retrocesso.

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Nem mesmo os equipamentos de série o salvavam: ar-condicionado, revestimento de couro, sistema de som com rádio AM/FM, conta-giros, desembaçador do vidro traseiro, luzes de cortesia, rodas de liga, retrovisores com ajustes elétricos e travamento interno do bocal de combustível levavam o Cimarron a custar o dobro de um Pontiac J2000 ou de um Chevrolet Cavalier – sem entregar um carro duas vezes melhor.

Na verdade, por mais bem equipado e confortável ao rodar que fosse, a verdade é que o Cimarron foi feito sobre uma plataforma que jamais seria capaz de oferecer o nível de refinamento a que os clientes da Cadillac já estavam acostumados. Os bancos macios podiam agradar, mas a cabine simplesmente não acomodava tanto isolamento acústico para garantir o silêncio a bordo. E os motores de quatro cilindros, de 1,8 litro com carburador ou 2.0 com injeção de combustível, eram bem fracos – 88 cv no primeiro, 86 cv no segundo (um pico menor, porém com curva de potência e torque melhor distribuídas, especialmente em baixas rotações).

Em 1985, começou a ser oferecido um V6 de 2,8 litros com injeção multiponto e 130 cv, o que ajudou bastante no desempenho do Cimarron, mas o estrago já estava feito.

Havia, ainda, a questão estética: ficava bem claro que a Cadillac não havia tido tempo de trabalhar no visual do Cimarron, o que o deixou bastante semelhante ao Chevrolet Cavalier, com alguns cromados a mais e diferenças sutis no design da grade, dos faróis e das lanternas. Para o consumidor, ficava evidente que se tratava de um carro barato disfarçado de carro de luxo.

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Por cima disso tudo, havia a questão cultural: os americanos eram bons em fazer muscle cars, cupês com motor V8 e tração traseira. Quando chegou a hora de criar carros menores e mais econômicos, eles trocaram os pés pelas mãos – europeus e japoneses já estavam acostumados à fórmula e sabiam extrair o máximo dela.

A imprensa jamais foi gentil com o Cadillac Cimarron: em 2007 (veja bem duas décadas depois), em uma lista de piores carros de todos os tempos, a revista Time disse que o carro canalizava “tudo o que havia de ruim, errado e preguiçoso que havia com a General Motors na década de 1980”.

Não que a Cadillac não tentasse convencer os americanos de que isto era uma coisa boa…

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Ao contrário do Cadillac Cimarron, o BMW 320i não tinha tração dianteira – tomem essa, alemães!

Por isso, a vida do Cimarron foi bem curta: em 1988, ele deixou de ser produzido, com pouco mais de 130 mil unidades vendidas em sete anos. Hoje em dia, os sobreviventes são carros que não valem muita coisa: um exemplar impecável de um Cimarron V6 não sai por mais de US$ 4.000, o que dá pouco mais de R$ 12 mil.