era uma manha chuvosa e escura naquele 4 de maio de 1959 e o famoso circuito de nurburgring nas montanhas eifel do oeste alemao estava completamente deserto o silencio do lugar e rudemente rompido pela chegada um caminhao que para bem na area dos boxes na reta principal do circuito da boleia desce uma conhecida figura das competiçoes europeias fritz sittig enno werner huschke von hanstein o bigodudo e simpatico barao alemao que liderava a equipe porsche em competiçoes mas o dia nao estava nada simpatico para nosso simpatico amigo cachimbo no canto da boca boina e grosso sobretudo von hanstein nao parecia estar para muitos amigos decididamente sorumbatico e num dia feio e deprimente ainda por cima [caption id= attachment_260928 align= aligncenter width= 800 ] o barao husche von hanstein[/caption] nao era a toa a chuva atrapalhava seus planos de maneira clara ja estragando o dia logo de cara mas o barao tenta nao deixar esses pensamentos o paralisar; começa a direcionar seus funcionarios a preparar a area de trabalho o dia parecia seria longo em seguida outro caminhao chega e depois em um vw dois dos pilotos que iriam testar o novo carro de competiçoes ali barth e linge falta apenas um pensou von hanstein justamente a sua principal esperança de sucesso naquele dia um jovem inexperiente mas extremamente veloz piloto como ele de ascendencia aristocratica prussiana o conde wolfgang taffy von trips como sabemos von trips teria uma ascensao meteorica ao topo do esporte mas perderia a vida ja em 1961 em um acidente no gp da italia disputando o campeonato mundial de formula 1 com seu companheiro na ferrari phil hill mas isso estava no futuro; naquele momento von trips estava perto atacando as curvas das estradinhas que levavam a nurburgring a velocidades inacreditaveis seu porsche 356a 1600 super dançando o bale de sobresterço controlado que fez este tipo de carro famoso e com um sorriso no rosto [caption id= attachment_260907 align= aligncenter width= 999 ] um porsche 356 a como o de von trips[/caption] von hanstein precisava de um piloto extremamente veloz para alcançar sucesso ali ou seus planos para o futuro da porsche em competiçoes iriam por agua abaixo explico a porsche ate ali competia exclusivamente com carros esporte de baixa cilindrada seus 356 e depois os 550 spyder e 718 rsk dominavam as categorias ate 1500 cm3 apenas mas desde 1957 quando o campeonato de formula 2 voltou a ser disputado com motores de ate 1500 cm3 formula 1 era entao 2500 cm3 e o regulamento nao exigia rodas expostas a empresa competiu esporadicamente usando 550 spyders modificados mesmo com o sucesso deles apareceram estranhas versoes de 718 spyder com motorista central quase por acidente a empresa começava a se envolver com carros de formula monopostos em 1958 a fia anuncia que a formula 1 a partir de 1961 iria ser disputada com monopostos de rodas expostas e motores ate 1500 cm3 de repente a porsche se viu em condiçoes de talvez ser competitiva no topo do esporte motor mesmo sem nenhum apoio ainda da liderança o departamento de competiçao resolve fazer um monoposto de f2 baseado no 718 para ver quais seriam as reais chances para testar a ideia mesmo o carro e literalmente feito sem projeto na oficina de competiçao debaixo de von hanstein apenas uma versao monoposto do 718 um chassi mais leve e menor com os mesmos componentes mecanicos nem numero de projeto diferente ganhou seria o 718/2 [caption id= attachment_260908 align= aligncenter width= 999 ] o estranho rsk monoposto competindo em f2 ja em 1959 [/caption] formula 1 era um jogo totalmente diferente para a porsche de entao ate ali a empresa vendia carros esporte de competiçao e dava apoio tecnico aos competidores particulares em alguns casos corria com equipe propria mas de forma extremamente simples e economica a equipe ficava com o dinheiro oferecido pelos organizadores para participar da competiçao os pilotos nao tinham contrato; recebiam apenas o carro os custos de viagem e estadia e qualquer premio que recebessem por sua colocaçao se fossem mal na corrida zero portanto o custo para a porsche era baixo os carros que competiam eram de produçao normal vendidos tambem para o publico na f1 pilotos profissionais exigiam contratos e salario e eram importantes para bons resultados os carros serviam so para competiçao e nao podiam ser vendidos para as ruas ferry porsche entao lider supremo da empresa nao estava la muito certo se deviam competir ali mas existia a possibilidade agora se o 718/2 se mostrasse competitivo podia entrar ja na f2 e ser desenvolvido ate o advento da f1 de 1500 cm3 em 1961 o motor do 718/2 o conhecido quatro comandos fuhrmann era a maior incognita aqui apesar de extremamente sofisticado e ainda competitivo em potencia nao era exatamente moderno e podia rapidamente se tornar obsoleto na f1 era afinal de contas um motor de carro esporte usado inclusive no 356 carrera de rua e nao uma unidade dedicada de competiçao como o usual na f1 a porsche poderia porem iniciar o desenvolvimento de um novo motor dedicado e introduzi lo depois quando a evoluçao da concorrencia assim o determinasse mas era exatamente isso a grande duvida entao naquele maio de 1959 vale a pena entrar de cabeça na formula 1 ou seria um salto intransponivel para a entao pequena fabricante de carros esporte de stuttgart algumas semanas antes apos o primeiro teste do carro altamente satisfatorio ferry porsche dissera a von hanstein se o 718/2 conseguir fazer o nordschleife em 9 minutos e 30 segundos ou menos temos um carro de f2 e talvez ate um de f1 em 1961 mas preciso deste dado para decidir nao era um objetivo facil nenhum carro de 1 5 litro jamais rodara o circuito num tempo assim o recorde da f2 era de phil hill num ferrari 9 49 mas barth usando um 718 rsk tinha chegado a um tempo melhor ainda que extra oficialmente 9 42 o que nos traz de volta aquela manha chuvosa nas montanhas eifel quando von trips chega o carro ja estava na pista em acertos de molas e amortecedores assim permaneceria durante a manha toda os tres pilotos em turnos dando voltas com o novo carro o tempo incrivelmente firmou e depois do almoço parecia que uma tentativa de volta rapida era possivel logo na primeira volta completa von trips faz 9 47 na segunda volta faz 9 39 finalmente na terceira volta para festa de todos ali o numero magico aparece 9 29 um dia definiu tudo com esse resultado ferry porsche autoriza o desenvolvimento de um novo f1 para 1962 enquanto começa uma campanha na f2 ate 1960 e em 1961 na f1 com desenvolvimento do 718/2 a porsche iria competir em formula 1 afinal de contas um inicio quase acidental e que dependeu tanto de von trips quanto do carro incrivel porsche na f1 o 718/2 entao começa sua carreira na f2 ja em 1959 e sua primeira temporada completa e em 1960 o desenvolvimento do carro e constante durante sua carreira em todas as frentes uma carroceria nova desenhada por butzi porsche aparece em julho de 1960 e com ela novas suspensoes de duplo a sobreposto antes eram barras de torçao parecidas com as vw [caption id= attachment_260914 align= aligncenter width= 817 ] porsche 787[/caption] em 1961 aparece o primeiro porsche de f1 com um chassi maior agora um novo carro chamado 787 o motor fuhrmann de quatro comandos e quatro cilindros contrapostos recebe injeçao kugelfischer mecanica e um cambio de seis marchas entao nada comum mas necessario para o motor com potencia apenas de 6500 rpm ate 8500 rpm eventualmente com injeçao bosch ventilador horizontal e uma serie de modificaçoes desenvolvidas pelo suiço michael may o motor chega a 180 cv mas todas as esperanças da empresa estavam concentradas no novo motor de oito cilindros contrapostos tambem refrigerados a ar entao em desenvolvimento e no novo porsche 804 de f1 com desenvolvimento paralelo o engenheiro responsavel pelo desenvolvimento deste o primeiro motor de formula 1 da porsche era um jovem de entao 30 anos de idade depois de desenvolver o sistema de acionamento de valvulas do motor de quatro comandos debaixo de ernst fuhrmann este seria seu primeiro motor completo seu nome era hans mezger [caption id= attachment_260917 align= aligncenter width= 676 ] o jovem mezger[/caption] diferente dos italianos da ferrari e maserati que criavam motores artesanalmente com moldes de fundiçao de areia e usinando virabrequins a partir de tarugos enormes os motores na porsche eram sempre ferramentados em moldes definitivos e com virabrequim forjados tambem com ferramentas definitivas assim eram criados com muito usos em mente e nao foi diferente no oito contraposto de f1 versoes posteriores de dois litros viram competiçao em carros esporte da marca por anos depois mas eventualmente foi abandonado por seu alto custo e complexidade e nunca realmente retornou o investimento; um fracasso dentro da empresa com um curso curto de 54 6 mm e um diametro de 66 mm deslocava exatos 1494 cm3 duplo comando no cabeçote acionado por eixos duas valvulas por cilindro a um angulo incluso de 90° e um novo ventilador de arrefecimento horizontal acionado diretamente por um eixo ligado ao virabrequim o angulo incluso das valvulas mudaria varias vezes durante o desenvolvimento que foi conturbado caro e cheio de problemas inicialmente pouco mais de 185 cv foi atingido quase nada a mais que o motor anterior [caption id= attachment_260920 align= aligncenter width= 999 ] porsche 804[/caption] mais desenvolvimento era claramente necessario no final de 1962 200 cv a 9700 rpm com um angulo de 72° entre as valvulas foi atingido com uma curva de torque bem mais amigavel que a do quatro cilindros anterior pena que esta versao nunca competiu chegando tarde para isso em uma epoca conturbada e com objetivos dificeis o jovem metzger sofreu muito politicamente com este projeto o porsche 804 em que foi montado que tinha inclusive freios a disco anulares foi um carro competitivo e deu uma vitoria a companhia com dan gurney no gp da frança mas nao o suficiente para continuar a campanha porem a porsche abandona a competiçao em 1963 o investimento constante necessario para manter a competitividade na categoria um fardo muito grande para a pequena companhia esta desistencia tinha muito tinha a ver tambem com a complexidade e consequente custo do motor de mezger o oito contraposto de competiçao era um dos motores mais complexos ja criados extremamente compactado e com seus eixos de acionamento engrenagens precisas ventilador complexo e oito cabeçotes individuais a montagem do motor precisava de inacreditaveis 220 horas homem ou seja mais de 27 dias de trabalho de 8 horas por isso este fantastico motor nunca foi considerado para produçao em serie ao contrario de seu antecessor [caption id= attachment_260918 align= aligncenter width= 512 ] o complexo flat 8 de mezger[/caption] mas o aprendizado desta aventura seria bem aproveitado quase vinte anos depois ao fim de todo embroglio da porsche na f1 em 1963 hans mezger achou que nunca mais faria um motor de formula 1 depois de tanto sofrimento mas estava enganado ainda que tivesse que esperar quase 20 anos para que voltasse a envolver com a f1 mclaren entra em cena em 1980 a empresa de cigarros phillip morris realiza um casamento forçado a equipe mclaren de f1 entao em declinio se juntaria a uma equipe de f2 de grande sucesso tambem patrocinada pelos cigarros marlboro chamada project four o chefe desta segunda equipe era um senhor chamado ron dennis dennis em pouco tempo se tornaria o motor e o dono da mclaren e um dos projetos que o levou a isso foi a busca no inicio dos anos 1980 por um novo motor turbo para a equipe em 1981 ja parecia claro que a revoluçao iniciada na f1 pela renault em 1977 finalmente se tornaria indispensavel a troca dos motores de 3 0 litros aspirados pelos 1 5 litros turbocomprimidos [caption id= attachment_260925 align= aligncenter width= 999 ] ron dennis[/caption] tentativas de compra de motores com a bmw e a renault frustradas e a ferrari entao algo inimaginavel dennis parecia sem muitas opçoes fora independentes como hart e zakspeed resolve expandir a procura tentar trazer um grande fabricante para o circo no espirito de que sem tentativa nao ha nenhum resultado mas contatos com a honda toyota e general motors renderam nada dennis tenta entao a porsche helmuth bott o recebe em stuttgart mas explica que ir ao conselho pedir uma coisa desse tipo e perda de tempo nao existia chance alguma da empresa despender dinheiro algum em coisas deste tipo naquele ponto mas dennis estava ficando sem opçoes e resolve fazer mais uma pergunta e se eu pagar bott se ajeita na cadeira e adora a ideia a porsche sempre foi antes ate de ser um produtor de automoveis uma empresa de engenharia claro que na forma de um contrato desse tipo tudo e possivel o motor pode se chamar ate mclaren se voce quiser neste caso dennis pede estimativas detalhadas e marca um retorno estudos se iniciam na porsche sob e claro nosso amigo hans metzger agora um experiente engenheiro de motores e o unico com experiencia em formula 1 começa uma corrida entao para financiar o projeto a porsche estima um custo de desenvolvimento de 6 4 milhoes de dolares e dois anos mais 75 mil dolares por cada motor construido dennis obviamente nao tinha como pagar tudo isso; precisava de um patrocinador mas precisava de tempo para achar ele e por outro lado precisava que o projeto começasse imediatamente cria um contrato fase 1 estudos apenas em papel sem prototipos ou ferramental por seis meses paga meio milhao do bolso da mclaren para isso e o projeto começa nesses seis meses e claro o inteligente dennis encontra o parceiro perfeito em mansur ojjeh e sua tag filho de uma familia saudita fabulosamente rica comercio de petroleo mansur acaba se tornando grande socio e financiador da mclaren em 1982 se torna dono da equipe com 60% das açoes o restante claro ficando com ron dennis o motor porsche seria financiado pela tag e receberia seu nome por isso a obra prima de hans mezger os parametros sob os quais mezger trabalha em seu motor eram ditados pelo espaço disponivel difusores aerodinamicos passariam pelos lados do motor inviabilizando motores contrapostos por exemplo tambem as fixaçoes no carro e o cambio e embreagem deviam ser os mesmos usados no ford cosworth dfv v8 seis cilindros em v era a melhor opçao para manter o comprimento do motor contido e foi acordado logo de cara o v6 nao precisava ter ordem de igniçao normal e portanto qualquer angulo de v era possivel o melhor balanço entre espaço para admissao no vale e largura contida do motor aparece com 80° entre bancadas incomum mas logico e depois validado pela honda entao desenvolvendo um v6 a 80° para f1 paralelamente sem saber de nada que ocorria em stuttgart o motor que mezger criaria desta vez e uma verdadeira obra prima livros ja foram escritos a seu respeito e o sem fim de detalhes interessantes que o fizeram ter tanto sucesso todo em aluminio era extremamente compacto praticamente um cubo de 610 mm e 150 kg mas que em sua forma mais desenvolvida chegava a fornecer mais de 1000 cv em regime de competiçao ate hoje impressionante o virabrequim por exemplo era uma peça rigida curta simples uma peça de aço forjado com apenas 4 mancais e tres manivelas; nada de manivelas individuais como os porsche contrapostos com o curso de apenas 47 3 mm combinado com diametro de 82 mm dava 1499 cm3 os cabeçotes dohc tinham 4 valvulas por cilindro inclinadas ao centro em dois planos o que fazia os ressaltos dos comandos conicos e uma camera de combustao proxima do real hemisferico especial cuidado foi tomado com a refrigeraçao duas bombas d’agua dutos generosos refrigeraçao dedicada nas sedes das valvulas de escape o motor era tao bem refrigerado que ao testar sistemas de injeçao de agua no motor usados pela ferrari e renault para esfriar seus motores nao tiveram ganho e nao havia necessidade de resfriamento por enriquecimento da mistura o que diminuia sobremaneira o consumo de combustivel mezger disse tem que se basear a refrigeraçao nao no fato de que o motor tem 1 5 litro; e na verdade dimensionado para um motor de corrida de 800 cv parece obvio mas fez diferença aqui fez diferença tambem o desenvolvimento conjunto com john barnard na mclaren fazendo o carro e o motor projetados um para o outro tambem de nota era o sistema de gerenciamento de motor bosch motronic na formula 1 era uma novidade acostumada com as altas pressoes possiveis apenas em injeçoes mecanicas mas foi uma revoluçao permitindo um controle preciso da igniçao e injeçao e tornando o carro docil e melhor ainda programavel aos desejos dos pilotos o primeiro motor funcionou em dezembro de 1982 e deu 550 hp a 10 500 rpm em 1987 mesmo com a pressao maxima limitada a versao final deste incrivel motor dava para qualificaçao 1060 hp a 12500 rpm com um limite seguro de 13 700 rpm para a corrida nada menos que 960 hp a 12 300 rpm estavam disponiveis e nao se esqueçam de 1 5 litros o resultado ao contrario da aventura quase acidental dos anos 1960 e um sucesso completo dois campeonatos mundiais para a mclaren e dois segundo lugares tres pilotos campeoes 7 pole positions 18 voltas mais rapidas 25 vitorias em 68 corridas a porsche ainda que sem usar seu nome finalmente dominava a formula 1 em 1988 com o fim da era turbo na categoria acaba tambem a historia deste motor ainda existe uma tentativa frustrada de volta a f1 pela porsche nos anos 1990 com um v12 aspirado tambem de mezger historia para outro dia o fato e que a empresa ao contrario da ferrari por exemplo nunca teve com monopostos de f1 a mesma relaçao que teve com carros esporte praticamente envolvida sem muito comprometimento e quase convencida por gente como von hanstein e ron dennis a tentar [caption id= attachment_260929 align= aligncenter width= 999 ] hans mezger 1929 2020[/caption] na semana que falece hans metzger a lembrança aqui e inevitavel porem o envolvimento da porsche com a formula 1 tem seu nome impresso de forma indelevel e validada felizmente por grande sucesso pelo menos na segunda tentativa
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