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Car Culture

Como os “usados baratinhos” mudaram em 10 anos? O que comprar hoje?

Há exatamente 10 anos, bem no começo do FlatOut, em janeiro de 2014, publicamos duas listas de compra: uma com sugestões de carros para se comprar com até R$ 10.000 e outra com uma lista de carros para se comprar por até R$ 20.000. Passados dez anos, pensar em um carro de R$ 10.000 parece loucura — é mais realista procurar uma boa moto usada por esse valor. Nem mesmo os R$ 20.000, que já te permitiam escolher algo mais interessante, parecem suficientes para se encontrar um bom carro em 2024.

Mesmo se corrigirmos o valor pela inflação oficial (o índice IPCA, do IBGE), aqueles R$ 10.000 e R$ 20.000 de 2014 não valem muito hoje. De acordo com a Calculadora do Cidadão, do Banco Central, os R$ 10.000 equivalem a R$ 17.500 agora, em janeiro de 2024, enquanto os R$ 20.000 valem cerca de R$ 35.000.

Na época, nossa lista de R$ 10.000 tinha o Volkswagen Apollo, o Ford Escort, o Peugeot 106, o Subaru Vivio, o Fiat 147, o Chevrolet Vectra A, o VW Fusca, o VW Golf Mk3, o Fiat Tempra e o Chevrolet Astra F. Muitos deles ainda podem ser encontrados por menos de R$ 17.000 atualmente, o que poderia levar muita gente a pensar que eles só acompanharam a inflação. Mas esta seria uma observação muito superficial.

Primeiro, porque em 2014 estes carros eram 10 anos mais novos. Se o carro envelheceu 10 anos e manteve o preço, ele ficou mais caro, na prática, não? Claro, hoje é possível comprar carros mais novos por até R$ 17.000 — você encontra Ford Fiesta Mk6, Chevrolet Corsa C, Fiat Palio de primeira geração, Chevrolet Vectra B, VW Gol G4 etc. Mas algo que salta aos olhos é como esta faixa de entrada dos usados tem menos variedade de modelos e praticamente não há mais antigos ou potenciais clássicos.

A lista dos R$ 20.000 de 2014 é mais interessante se compararmos com o que se encontra no valor corrigido atualmente (R$ 35.000). Ela tinha Ford Ka XR, Fiat Marea Turbo, Volkswagen Golf Mk4/Bora, Audi A3 1.8 Turbo, Alfa Romeo 164, Chevrolet Vectra B, Clio 1.6 16v, Ford Escort XR3, Chevrolet Opala e Chevrolet Blazer V6. Com exceção do Escort XR3, do Opala e do Alfa Romeo 164, os demais modelos desvalorizaram — ou seja eles custam ainda menos que o valor de 2014 corrigido.

A principal mudança do cenário nesta faixa, contudo, é a mesma observada entre os carros mais baratos: a diminuição de opções. O mercado de usados brasileiro até hoje sofre com a crise do mercado de carros novos, iniciada por volta de 2013 e que só mostrou sinais de recuperação em 2017 para cair de novo e, até agora, não superar a marca de 2012. Menos carros novos significam menos carros usados — ou carros usados mais velhos. Isso pode explicar por que os “carros de até R$ 10.000” de 2014 praticamente acompanharam a inflação nestes dez anos, mesmo estando mais velhos.

Já os “carros de até R$ 20.000” em 2014, talvez não tenham acompanhado a inflação da mesma forma, porque ainda são mais valorizados que os carros usados “de entrada”, mas já não conseguem competir com os carros usados mais novos, ainda que mais simples. E aqui estou falando de deterioração do carro mesmo: na prática, estes “carros de até R$ 20.000” em 2014 só conseguem concorrer com os carros mais usados ou mais velhos que eles. E nessa faixa, que hoje corresponde a R$ 35.000, estão os carros que têm o mesmo apelo que aqueles de 2014 tinham na época.

Um Opala bem conservado por R$ 30.000, que tal?

Os clássicos também mudaram, claro. Vimos o boom dos antigos na segunda metade da década passada, chegando a valores inimagináveis pouco antes da pandemia e muito maiores depois dela. O que se encontra na faixa dos R$ 35.000 são modelos com pouco apelo aos colecionadores e entusiastas, ou mais cansados, exigindo mais trabalho para mantê-los em ordem para curtir ao volante.

Agora, em janeiro de 2024, vamos fazer uma experiência e repetir as perguntas que fizemos há 10 anos — mesmo tendo abandonado as perguntas do dia. Diga aí, FlatOuter: que carros você compraria hoje por até R$ 17.500 e R$ 35.000? Vale qualquer tipo, de qualquer ano. Deixe a sugestão nos comentários — seja aqui ou nas redes sociais. Vamos ver como sai uma lista de 2024 e como ela se compara à de 2014.