Adesivos da Monster Energy, envelopamento em vinil, adesivos de patrocinadores e mecânica preparada para drift… Soa familiar, não é? Afinal, Ken Block ficou famoso por essas coisas — primeiro com seu Subaru WRX, depois com o Ford Fiesta e agora, com seu Mustang de mais de 800 cv.
Só que esse carro aqui é diferente — trata-se uma perua Mercedes movida a diesel. Mais especificamente, um Mercedes-Benz 300TD W123 de 1981 que ganhou um novo motor, novos poderes e uma personalidade totalmente diferente da que tinha quando saiu da fábrica há distantes 34 anos: em vez de uma elegante e econômica perua alemã, ela se tornou um carro de drift. E dos bons!
A equipe finlandesa de drift Black Smoke Racing, responsável pelo projeto, não tem esse nome por acaso. Enquanto todo mundo faz as escolhas óbvias para drift – Nissan Silvia, Skyline, Mazda Miata – esses nórdicos gostam mesmo é da fumaça preta do Mercedes a diesel. Deve ser para contrastar com a neve branca da escandinávia.
Agora fica fácil entender a opção pela perua S123 a diesel, não é? Originalmente ela vinha com um cinco-em-linha de três litros e 125 cv chamado OM617, mas a equipe decidiu que seria melhor usar um motor mais moderno: o OM606, também movido a diesel e oriundo da mais moderna S210 (a Classe E feita entre 1996 e 2002).
Com um cilindro a mais, porém os mesmos três litros de deslocamento e tão fumacento quanto, o OM606 desenvolvia 177 cv e 33,7 mkgf de torque em sua encarnação original. Seria o suficiente?
Óbvio que não! E por isso, o turbo original foi trocado por um Holset HX52, bem maior e regulado para 3 bar de pressão constantes, com pico de 3,5 bar. Dá para ver um pedacinho dele por um buraco no capô fechado, mas quando você abre é que tudo fica ainda mais interessante: o turbo recebe a ajuda de um compressor mecânico Eaton MP90. Dual charged, baby! O sistema eleva a potência para mais de 600 cv e 91 mkgf de torque— e ainda extermina o turbolag. Todo mundo sai ganhando. E o negócio não para por aí: ainda há um sistema de óxido nitroso para mais 100 cv sob demanda. Turbo, compressor e nitro!
Tudo isso merece um bom sistema de resfriamento, mas quem disse que sobrou espaço para o radiador? É para isso que serve todo aquele espaço na traseira: o radiador foi parar lá, dentro de uma caixa de alumínio que recebe o ar através de enormes dutos instalados em cada uma das janelas laterais traseiras. Para um carro que passa a maior parte do tempo andando de lado, fica difícil discutir a eficiência do sistema.
E não acabou ainda. Esse é um daqueles carros que não se param de surpreender. Você faz ideia do que leva a potência do motorzão a diesel para as rodas traseiras? Um câmbio sequencial de rali? Nada disso: uma caixa automática herdada de parente mais novo, o Mercedes-Benz E55 AMG. Um novo módulo eletrônico, aliado a uma alavanca secundária ligada a algum tipo de circuito paralelo de trocas sequenciais permite que se troque as marchas sem ter que aliviar o acelerador.
Como bom carro de drift, há um pouco de tecnologia nipônica neste carro, também. Eixo dianteiro e traseiro vieram do Toyota Aristo, enquanto que a suspensão do tipo coilover é a mesma do Mazda RX-8. Peças de origem Mercedes, Volvo, Toyota e de fabricação própria foram utilizadas na construção de uma caixa de direção sob medida, permitindo o esterçamento das rodas em até 60º. Falando em direção, o volante é de competição e contrasta com a capa do painel que, fora os medidores especiais, continua com o mesmo aspecto de quando esta era uma pacata perua a diesel.
Normalmente a gente ficaria bem revoltado com todas as transformações que este S123 sofreu. “Imagine, as peruas estão sumindo e esses caras destroem um clássico desses?”
Mas vamos encarar a realidade: se não estivesse queimando pneus nos circuitos de drift – e participando de eventos importantes como Gatebil – é bem provável que este carro estivesse abandonado ao relento, estacionado em uma rua qualquer. Os caras da Black Smoke Racing salvaram uma perua. Lá do jeito deles, mas salvaram.
Ou não…
De qualquer forma, hoje em dia a perua W123 da Black Smoke Racing está aposentada — desde 2012, na verdade. Em janeiro de 2013 a BSR deu início a seu novo projeto, partindo da mecânica usada na 300TD: uma S203 (o Classe C vendido entre 2001 e 2006), bem mais moderna, que também muito bem nas derrapagens controladas.
Se estiver a fim de uma matéria sobre ela, é só dar um grito nos comentários!
Contudo, é da quadradona S123 que todo mundo lembra quando ao pensar na Black Smoke Racing. E com razão!
[ Fotos: Dino Dalle Carbonare/Speedhunters, Black Smoke Racing ]