O ano de 2015 mal começou e já temos uma nova Ferrari: a 488 GTB, evolução e sucessora da 458 Italia, que trouxe como maior novidade um V8 biturbo de 3,9 litros e 670 cv. Sua chegada nos fez pensar: o que torna uma Ferrari uma Ferrari?
Uma boa maneira de descobrir era perguntar aos leitores algo simples e revelador: “qual é a sua Ferrari favorita?” Agora, temos a lista com as respostas – que pode ser entendida como uma seleção das melhores de todos os tempos segundo o público do FlatOut, por que não?
Testarossa
Há trinta anos nascia um ícone: grande, larga, cheia de linhas retas e com as características entradas de ar na lateral, a Ferrari Testarossa trazia todo o exagero da década de 80 em seu design e no motor, um majestoso V12 a 180° (no fim das contas, era um flat-12) de 4,9 litros, 48 válvulas, 396 cv a 6.300 rpm e 49,9 mkgf de torque a 4.500 rpm, suficientes para um 0-100 km/h de 5,3 segundos. Câmbio? Só manual, de cinco marchas.
Ela também foi o último grand tourer da Ferrari a usar motor central-traseiro: sua sucessora, a 550 Maranello, lançada em 1996, resgatou o motor dianteiro usado até a década de 1970 pela Ferrari Daytona, e empregado hoje na FF e na F12berlinetta.
Além disso, ela é o carro de OutRun, clássico da Sega. Precisa de mais motivos? Então toma!
F40
Se Monte Olimpo fosse na Itália e não na Grécia, e os deuses fossem em vez de… deuses, a F40 seria Zeus. Ao menos é isto o que os fãs mais fervorosos da F40 pensam dela. E, na boa, é difícil tirar a razão deles: ela tem um visual matador (talvez até mais quando não é pintada de vermelho), um motor espetacular – um V8 biturbo de 2,9 litros biturbo de 478 cv, capaz de levá-la aos 100 km/h em 3,9 segundos – e tem o interior mais gloriosamente funcional que existe (ou algo muito perto disso).
A F40 não tem revestimentos nas portas, carpetes, maçanetas, muito menos rádio – seu único item de conforto era o ar-condicionado. Só que isso não fazia diferença alguma – na verdade, este alívio de peso extremo a tornava ainda mais desejável. Mesmo moleques que sequer chegaram perto de uma F40 na vida a têm como o melhor carro de todos os tempos. Deu para entender?
F50
Se a F40 é a mais aclamada de todas as Ferrari, a coitada da F50 ficou com a difícil missão de substituí-la – não só em desempenho, mas em reputação e representatividade. Ela conseguiu? Não exatamente… a F50 é renegada pelo simples fato de a F40 existir, mas é mais potente – o motor era um V12 de 4,7 litros derivado da Fórmula 1, com 520 cv –, mais rápida, chegando aos 100 km/h em 3,7 segundos; e mais rara, com apenas 349 exemplares produzidos (a F40 teve 1.315 unidades).
Sendo assim, apesar de boa parte dos ferraristas e não-ferraristas preferir a F40, um seleto grupo de entusiastas (especialmente os nascidos na virada da década de 1990) têm boas lembranças da F50 – quem não teve ou quis ter uma daquelas movidas a controle-remoto?
288 GTO
Muito se fala na F40, mas o que poucos lembram é que ela é nada mais que a versão aperfeiçoada de um conceito (não “carro conceito) introduzido anos antes: a 288 GTO. Por sua vez, a 288 GTO é uma versão de homologação da 308 GTB que só existe porque a Ferrari decidiu, em 1986, participar do Grupo B de rali, mas não teve tempo de competir porque a morte de Henri Toivonen em um acidente naquele ano colocou um fim na categoria.
A 288 GTO também tinha um V8 biturbo de 2,9 litros – motor que entregava exatos 400 cv, mas tinha interior mais equipado e confortável, além de um visual muito mais clássico e, até certo ponto, civilizado. Já falamos que ela nasceu dos ralis?
Ferrari 250 California
Há quem desmereça a Ferrari Califórnia pelo fato de ela ter um motor V8 na dianteira, dizendo que ela nem é uma Ferrari de verdade. Para nós é uma injustiça sem tamanho, pois a California é uma homenagem a um roadster clássico dos anos 60: a Ferrari 250 California Spyder, roadster projetado pela Scaglietti para ser uma interpretação conversível da Ferrari 250 GT original.
Além da carroceria de alumínio, cujo baixo peso a tornou muito popular em competições, a 250 California Spyder trazia algo que, para os mais puristas, toda Ferrari tem que ter: um motor V12 na dianteira — no caso, um V12 de três litros e até 240 cv.
330 P4
Se você pesquisar sobre as 24 Horas de Le Mans de 1966, quase tudo o que encontrar será sobre o Ford GT40. Não é para menos, porque o carro anglo-americano desenvolvido pela Ford europeia com a ajuda de Carroll Shelby se tornou um dos maiores triunfos da maior corrida de longa duração do planeta, conseguindo uma vitória tripla e tomando para si o reinado da Ferrari, que já durava quase uma década.
A Ferrari estava decidida a tomar de volta o título com a 300-P4, um dos mais belos protótipos Le Mans de todos os tempos, equipada com um V12 de três litros com três válvulas por cilindro, injeção mecânica e 450 cv. Ainda assim, não foi páreo para o V8 de sete litros do GT40, que ainda venceu em 1968 e 1969.
Acontece que quase ninguém lembra, mas a Ferrari foi quem ficou com o título de construtores na categoria de protótipos naquele ano, em uma temporada que teve como ponto alto uma vitória tripla sobre os Ford nas 24 Horas de Daytona
F355
Por alguma razão é praticamente impossível encontrar alguém que aponte um defeito na Ferrari F355. A berlinetta de motor V8 que faz parte da linhagem hoje representada pela 488 GTB é uma versão melhorada da 348, e foi produzida entre 1991 e 1995. Nestes cinco anos, mais de 11 mil exemplares do cupê de motor central-traseiro foram fabricados, o que torna a F355 um dos maiores sucessos comerciais da Ferrari.
O V8 de 3,5 litros e 380 cv é naturalmente aspirado, o câmbio é manual de seis marchas com grelha (ainda que a versão GTS oferecesse um câmbio de “Fórmula 1”, automatizado com borboletas atrás do volante), o visual é datado, porém muito agradável e ela foi a última da era old school da Ferrari — sua sucessora, a 360, era mais moderna em todos os aspectos, mas perdeu um pouco da essência.
456
O carismático nome em sequência numérica pertence a uma Ferrari tem como equivalente atual a FF, o primeiro hatch de tração integral saído de Maranello. Mas a 456 é um carro bem mais tradicional e discreto, um grand tourer com um V12 5,5 e 442 cv na dianteira, tração na traseira e um câmbio manual de seis marchas (ou automático de cinco) no meio.
A 456 representou um salto evolucionário gigantesco em relação ao carro que substituía — a 412, modelo 2+2 que foi vendido entre 1972 e 1989 e já sentia o peso de suas quase duas décadas de vida no desenho quadrado e antiquado. A 456 era mais espaçosa, mais potente, mais confortável e confiável, e era perfeita para pegar a estrada.
Ela também foi uma das poucas Ferrari que viraram peruas — a famosa 456 GT Venice, fabricada em série limitada sob encomenda do Sultão do Brunei.
Ferrari 430 Scuderia
A Ferrari F430 é a antecessora da 458 Italia e, apesar de ser um projeto totalmente novo, seu design e seu motor a tornavam uma espécie de 360 melhorada, com V8 aspirado de 4,3 litros e 498 cv e câmbio manual de seis marchas — o último câmbio manual em uma Ferrari V8, com um automatizado de seis marchas oferecido como opcional. Fora o visual quase contemporâneo, a F430 é a verdadeira merecedora do título de última Ferrari à moda antiga. Mas ela poderia ficar ainda melhor.
A 430 Scuderia era uma versão da F430 que podia até ser legalizada para as ruas, mas era um carro de competição legítimo feito para competir com o Porsche 911 GT3 RS e o Lamborghini Gallardo Superleggera. Para tal, ela tinha peso aliviado em cerca de 100 kg (um total de 1.350 kg), motor ainda mais potente, com 510 cv, e câmbio automatizado que realizava trocas em até 60 milissegundos — o equivalente à velocidade da luz há dez anos. Segundo a própria Ferrari, a 430 Scuderia consegue se igualar ao tempo da Ferrari Enzo no circuito de Fiorano, que vira 1:24,9. A 430 Scuderia é serious business.
250 Lusso
A Lusso é uma entre as várias versões da Ferrari 250, que foi fabricada para as ruas e para as pistas e recebeu diversos tipos de carroceria entre 1953 e 1964. Naquela época, os melhores esportivos italianos eram projetados com estrutura e mecânica, enquanto a carroceria ficava a cargo de empresas especializadas, como a Bertone, a Italdesign, a Scaglietti e, claro, a Pininfarina.
A Lusso foi uma das últimas, e era totalmente baseada na icônica Ferrari 250 GTO — um dos carros mais valiosos do planeta, do qual só existem 39 unidades. Só que a 250 Lusso era maior e tinha um visual mais sóbrio, quase antiquado, que contrastava maravilhosamente bem com o berro estridente do V12 de 240 cv. E só existem 351 delas no mundo todo.
Ah, e Steve McQueen tinha uma!