O que é um carro exclusivo para você? Um Bugatti Veyron, o carro produzido em série mais veloz, potente e caro do planeta? O seu carro que, apesar de ser igual a milhares de outros, é único porque é seu (que bonito)? Bem, para quem tem os recursos, um carro exclusivo é um feito por eles mesmos — ou ainda, sob medida, seguindo suas exatas especificações a um preço impublicável. Existem vários carros assim, e nós queremos saber: qual é o mais legal de todos?
Quando bolamos esta pergunta do dia, o primeiro carro que nos veio à mente foi a Ferrari P4/5 do magnata, diretor de cinema e entusiasta de mão cheia James Glickenhaus. Por quê? Além do visual absolutamente estonteante, a P4/5 tem uma história bem interessante.
Foi a própria Pininfarina, estúdio de design por trás de boa parte das Ferrari mais icônicas do planeta, procurou Jim Glickenhaus em março de 2005 para oferecer-lhe um carro exclusivo, feito sob medida — normalmente é o oposto. É o tipo de oferta reservada a clientes privilegiados da Ferrari — os caras que já tiveram cinco ou seis carros de Maranello e provavelmente estarão interessados. Os caras que puderam comprar uma das 499 LaFerrari.
É claro que Glickenhaus estava interessado! E ele já sabia exatamente como queria seu carro: uma versão moderna dos protótipos da série P que a Ferrari colocou para competir nas corridas de longa duração nos anos 60. A primeira delas foi a Ferrari 250P, de 1963, primeiro protótipo de endurance com motor central-traseiro na história da Scuderia. Em 1965, ela foi a última Ferrari a vencer as 24 Horas de Le Mans antes que o Ford GT40 interrompesse a sequência italiana.
Ao longo da década de 60 as Ferrari P continuaram competindo em Le Mans. Se não venciam, não significa que não eram carros incríveis — e foi de um deles que Glickenhaus pegou a inspiração para a P4/5.
O carro em questão repousava em sua garagem: a Ferrari P3/4, protótipo que venceu as 24 Horas de Daytona de 1967, com Chris Amon e Lorenzo Bandini revezando ao volante. Jim Glickenhaus decidiu que o carro seria uma homenagem ao protótipo que, para muita gente, é uma das Ferrari mais bonitas que existem.
Em junho de 2005 Glickenhaus assinou o contrato com a Pininfarina, que cobrou nada menos que US$ 4 milhões (aproximandamente US$ 12,5 milhões em conversão direta). É muito dinheiro, sem dúvida, mas para um o dono de uma Ferrari de corrida clássica, foi um preço justo — na verdade, Glickenhaus acha que a Pininfarina entregou a ele “mais do que esperava”.
A P4/5 foi feita com base na Ferrari Enzo, supercarro que era o último da linhagem até a chegada da LaFerrari. Equipada com um V12 de seis litros e 660 cv, a Enzo teve 400 unidades produzidas entre 2002 e 2004. Jim Glickenhaus comprou o último exemplar que ainda não havia sido vendido — o que significa que a P4/5 teria toda a tecnologia de ponta (na época) empregada na Enzo, da transmissão eletro-hidráulica à estrutura de fibra de carbono.
Vamos parar um segundo para pensar na situação: como se comprar a última Ferrari Enzo disponível não fosse exclusivo o bastante, Glickenhaus ainda a enviou diretamente para a Pininfarina (junto com sua P3/4 para servir como referência) para que a desmontassem e dessem a ela outra carroceria, feita sob encomenda. Isto, amigos, é vencer na vida.
Mas voltando ao carro: a P4/5, teoricamente, deixou de ser uma Ferrari para tornar-se um carro by Pininfarina. Contudo, depois que o então presidente da Ferrari Luca di Montezemolo viu o carro pronto, achou bonito demais para não receber o emblema do cavallino rampante. Assim, o nome oficial do carro é Ferrari P4/5 by Pininfarina.
Além da bela carroceria de design único, com referências ao protótipo dos anos 60 sem apelar para algo retrô, o interior também foi modificado com base nas ideias de Glickenhaus — incluindo um iPod Nano integrado ao sistema de som e um tablet na função de central multimídia, com GPS, um modelo em 3D do carro e uma lista de todas as peças para facilitar o trabalho dos especialistas responsáveis pela manutenção.
Mecanicamente as alterações foram mínimas — apenas a instalação de um sistema de escape feito sob medida (com as saídas voltadas para cima dando um toque maléfico à traseira) e uma nova barra estabilizadora na dianteira. A P4/5 é capaz de chegar aos 100 km/h em três segundos cravados (0,14 segundo mais veloz que a Enzo) e chega aos 375 km/h. E Glickenhaus a dirige regularmente, o que deve lhe dar uma sensação indescritível.
Mas a história não acaba por aqui: a P4/5 também ganhou uma versão de competição, habilmente batizada como Ferrari P4/5 Competizione (ou P4/5C). Baseado na Ferrari F430 GT2, o carro tinha as linhas básicas da P4/5, porém com um V8 de quatro litros e 450 cv atrás dos bancos. Diferentemente do supercarro de rua, porém, a P4/5 Competizione (que foi construída pelo próprio Glickenhaus, e não pela Pininfarina) não é reconhecida como uma autêntica Ferrari pela companhia, que chegou a recusar o fornecimento de componentes necessários para a manutenção do motor entre as corridas.
A P4/5 Competizione disputou as 24 Horas de Nürburgring em 2011 e 2012, sendo que nesta última venceu em sua categoria (GT2) e terminou em 12º na classificação geral.
É por estas e outras que a P4/5 é nossa sugestão para a pergunta de hoje: qual é o carro único no mundo mais incrível já feito? Obviamente que agora é sua vez de responder! Só preste atenção nas condições: carros-conceito (o Ford GT90, por exemplo), não contam e é preciso que o carro seja legalizado para as ruas — se for usado com certa frequência, melhor ainda! Como sempre, a caixa de comentários é toda sua!