Então pessoal, na primeira parte arrumamos a mecânica do Maverick e iniciamos os passeios e encontros, na segunda parte belos upgrades no drivetrain, com uma Tremec T-5 e autoblocante e relatei as emocionantes participações nos 201m. Para a terceira parte, sobrou alguma coisa para fazer? Ô!
No final da segunda parte “apareceu” uma grade de Fase 1 (73-76), então vamos contar a saga. Já sabemos que as peças mais caras e cruciais dos clássicos nacionais são os acabamentos, ao contrário do senso comum de ser mecânica. As peças plásticas sofreram muito com exposição ao Sol e intempéries e ao descaso dos proprietários ao longo dos anos 80 e 90. Quebrar, adaptar e jogar fora essas peças era muito comum, vide o meu carro que era Fase 1 e foi trocada a grade para Fase 2 para atualizar o visual.
Comprei a grade do meu amigo Clóvis, que conseguiu um Maverick doador e pegou diversas peças. Ele já havia mandado restaurar e estava em excelente estado, faltando apenas o símbolo. Confesso que achei que paguei bastante pela grade, mas hoje em dia já está ainda mais caro. Nesse momento tinha algumas opções na mesa, todos abaixo:
Escolhi o emblema do Super Luxo, principalmente por ser o original dele, mas também acho o mais bonito dos emblemas. Aqui uma curiosidade: a cor original do fundo é vermelha, mas a exposição ao Sol enfraquece a pigmentação e 99,9% dos emblemas ficam com o fundo amarelo, como o meu:
Remando contra o retorno à Fase 1 acabei trocando o volante do meu, que estava com um original de Super/GT Fase 1 por um original GT Fase 2, o famosíssimo Walrod.
Unindo uma necessidade real de aumentar a potência luminosa do carro, que é bem sofrível só com os faróis baixos, com um apelo estético eu comprei um jogo de faróis “de milha” Serra-II “originais”. Um parêntese: O material de propaganda na época chama os faróis do GT de faróis de milha, mais corretamente conhecidos como faróis de longo alcance, mas, na verdade são faróis de neblina. Muita gente confunde os dois e a diferença é bem simples, faróis de longo alcance devem ser usados como auxiliares para iluminar muito mais longe, sendo mais fortes que os faróis altos, já os faróis de neblina são um auxílio para curta distância, trabalhando em conjunto com os faróis baixos, iluminando a via e sua sinalização.
Os meus faróis “originais” não eram tão fiéis assim, pois depois que recebi vi que eram desparceirados, provavelmente um veio de um carro que usava o farol para cima (como os Mavericks) e outro para baixo (como os Opalas), pois um lado tinha respiro para cima e outro para baixo. Isso me incomodou e acabei vendendo-os, para depois comprar “eBay specials“, ou melhor os “marba” (Marbaratos), pois decidi fazer um xuning básico. Adaptei Xenon 3.000K nos faróis de neblina e, com as peças mais baratas, não fiquei com dó de meter a broca neles para passar a fiação.
Como eu disse, os faróis originais são bem fraquinhos e resolvi pelos xenons 3.000K pela sua eficiência em melhorar muito o destaque da sinalização da via, a cor amarela faz a sinalização contrastar bastante em condição de neblina. Sendo faróis de neblina eu posso usá-lo junto com os faróis baixos, ou seja, o tempo todo. Era só seguir a recomendação da Ford de como regular os faróis e boa!
Para adaptar os faróis eu ainda precisaria fazer a parte elétrica de puxar os chicotes e acionamento por botão no painel. Conheço um pouco de elétrica, mas não me senti confiante para começar a fazer chicote e, principalmente, uma caixa de fusíveis menos incendiária do que a original do carro, que estava em um estado não muito bom. Outro problema que “apareceu” no carro foi logo após da instalação da T-5, que resolvi fazer a luz de ré funcionar. Foi só ligar o interruptor da caixa ao conector original perto da coluna de direção. Fácil! Só que não, pois a luz de ré piscava como um pisca alerta. Como isso?
Lá em 2011, quando levei revisar a elétrica em uma oficina conhecida da cidade, o eletricista queimou o circuito original do pisca e fez uma adaptação para funcionar. Por algum motivo, que eu não entendo, quando ligava a ré ele atuava o relé colocado para o pisca, fazendo a luz de ré piscar (fascinante!). A luz de teto também nunca funcionou e não queria quebrar a cabeça. Acabei encomendando um chicote novo e completo para o Maverick incluindo circuito para os faróis de milha, assim imaginei que removeria vários Gremlins de dentro do carro. O amigo Ramón fabricou o chicote, a caixa de fusíveis e enviou para mim. Qualidade excepcional, tanto do produto quanto dos manuais e conexões que acompanharam.
02/10/2016 parei o carro e comecei a retirar o chicote original. Marquei todas as conexões dele e segui o manual fornecido junto com o chicote novo. Conforme fui desmontando partes do carro eu aproveitei para fazer trabalhos adicionais, como a fixação dos faróis de neblina, pintura do “bigode” de preto semi-brilho, spoiler dianteiro e um ou outro detalhe de fixação de acabamentos. Fui fazendo com bastante calma, pois era novidade mexer com elétrica automotiva para mim. Vale lembrar a enorme disponibilidade e solicitude do Ramón ao longo desse processo. Tivemos um contratempo que foi imediatamente remediado por ele.
03/12/2016 terminei de montar o carro. Lá estava ele, completo, com um chicote novo em folha, a mecânica impecável e, principalmente, pronto para ir ao 17° aniversário do Maverick Clube de Curitiba no dia seguinte. A meta do clube era quebrar o recorde mundial de mais Mavericks reunidos em um encontro…esse número era 111 Mavericks. Era muito tarde quando acabei e fui para casa.
04/12/2016, dia do encontro, vou até o Maverick e precisava apenas validar o funcionamento da ventoinha elétrica como teste final de montagem. O motor funciona vigorosamente e sistema de iluminação funcionando perfeitamente junto com os limpadores. O ronco do V8 ecoa pelo estacionamento enquanto aquece o líquido de arrefecimento em marcha lenta. A ventoinha arma uma vez e desliga…para não ligar mais! Olho o fusível e está queimado! Eu tinha sobrando um fusível de 20A… queimou também! Acabaram os fusíveis de 20A, não tinha nenhum de 25A… e agora?
Entra em cena o fusível de 30A do desembaçador do vidro traseiro do daily driver…hahahaha!! Perfeição, a ventoinha arma e desarma sem problemas. Maverick na estrada rumo ao encontro e vejam o que acontece no video da parte 3 aos 06:53 feito pelo SBKBR:
Imaginem a minha surpresa! Hahaha… o encontro acabou recebendo 127 Mavericks diferentes e, ao mesmo tempo, foram cerca de 115! Recorde marcado!
Lembram que a luz de teto não funcionava? O motivo era simples, não tinha nada lá, só a cúpula de enfeite. Comprei o circuito em LED e, com o chicote novo, ficou uma beleza. Um dia eu troco por uma cor mais quente para ficar condizente com o carro, mas até lá está ótimo.
Outra coisa que precisava funcionar: a buzina! Também não tinha nenhuma lá no lugar, então comprei um kit FIAMM novo que acompanha uma buzina grave e uma aguda, acabei optando pela grave e…surpresa!! O carro buzinava sozinho! Ao girar o volante ele começava a buzinar que nem louco. O problema era no cubo que acompanhava o meu volante Walrod original e sensacional que comprei no fórum. Com um golpe de sorte consegui comprar um cubo novo original Walrod que resolveu o problema.
O toque final do interior do carro veio com um jogo de coifas de borracha para a alavanca de câmbio. Troquei uma peça raríssima de Maverick de interior azul, que ganhei de um conhecido, pelo par de coifas. Assim conseguiria finalizar o interior do meu carro e, se tudo der certo, ajudar a finalizar a restauração de um raríssimo Maverick de interior azul. Bom, a instalação é bem fácil, certo? Bem… eu acabei comprando o aro de aço que serve para fixar a primeira coifa ao assoalho, essa impede que sujeira entre no carro pelo recorte do trambulador e isolar um pouco o ruído de fora, a segunda coifa faz o acabamento da alavanca com o console central. Também tive que comprar um aro cromado para fazer a fixação de forma correta e troquei a alavanca por uma nova, longa e de corpo redondo, para que tudo “ornasse”.
É impressionante pensar o quanto trabalhei para ter um resultado tão bom, o pior é saber que, se tivesse ficado original, nunca teria mexido em nada.
Esses dias coloquei umas das últimas peças que o meu carro não tinha, que são os acabamentos do bagagito/tampão traseiro. Que são um mero detalhe que fazer muita diferença, principalmente quando todo mundo estiver admirando o adesivo do FlatOut!
Ao longo desses 7 anos juntos pude arrumar toda a mecânica do carro, troquei a elétrica, fiz alguns upgrades e tenho algumas peças que ainda estão esperando ir para o carro, como um jogo de vidros em muito melhor estado do que está no carro e um par de maçanetas zero quilometro, mas a receita vocês já conhecem. É só tirar uma maçaneta e colocar outra?
Não, mas essa é culpa minha, errei o ano do Mustang e não são compatíveis, então preciso fabricar uma peça para dar certo. É só tirar os vidros e colocar os outros? Não também! Com certeza tem um serviço de funilaria a ser feito. Então vamos adquirindo tempo e paciência para tais empreitadas.
Fato é que, não tenho mais nada para fazer no carro, a não ser a temida funilaria completa. Tenho um misto de emoções em desmontar o carro por completo e fazê-lo passar por uma cirurgia tão grande sem que eu possa interferir diretamente, não tenho espaço, tempo, conhecimento e as ferramentas para tal. Sempre trabalhei no carro e tanto tempo juntos me deixou ligado ao carro.
Precisarei de outro(s) projeto(s) para me manter mentalmente são enquanto isso acontece, e a “besteira” está feita. Entrou para a família essa Ranger Splash, sonho antigo da esposa de ter uma caminhonete, que conseguimos realizar com muito suor e dedicação. Começa agora a fase de curtir os brinquedos e juntar o montante para voltar o Maverick para toda a sua glória.
Deixo aqui as fotos dos últimos eventos que participamos e com a nova integrante da família, e também a certeza que continuaremos subindo os 8.200km acumulados desde o motor reformado.
Agradeço aos editores por depositarem a confiança em mim e no meu projeto, eternizando a minha história até esse momento com o nosso Maverick (afinal ele tem mais 2 donos desde que o adquiri), aos fãs e leitores do Flatout pelos elogios e pela atenção ao longos desses três artigos, aos meus grandes amigos feitos ao longo dessa jornada e especialmente a minha esposa, e mãe dos meus dois filhos, por ser uma maravilhosa gearhead.
Por Lucas Gusi, Project Cars #490
Uma mensagem do FlatOut!
Lucas, vamos soar repetitivos, mas é sempre muito bom ver um clássico nacional restaurado para ser usado como você está usando seu Maverick. A restauração/preparação ficou sensacional e mais legal ainda é ver que ele está bem acompanhado pela Splash. Parabéns pelo Project Cars – e também pela picape!