Combinações inóspitas exercem uma fascinação inexplicável em nós, entusiastas: ver um carro equipado com um motor que não foi feito para ele chega a ser incômodo para alguns, mas é inegável que um VW Lupo com um V8 Audi ou um Mustang com motor 2JZ de Toyota Supra conseguem, ao menos, atrair sua atenção.
A combinação que trazemos de hoje é incomum mas, pensando bem, não tem como dar errado: um monoposto inspirado nos carros de Fórmula 1 da década de 1960 movido por um V8 LS3 Chevrolet — basicamente o mesmo motor usado hoje no Camaro SS. Visual clássico, desempenho moderno, robustez mecânica e um belo ronco de V8 – quem não quer algo assim?
Talvez palavras não deem uma ideia muito concreta de como é o Scarbo SVF1, mas este vídeo com certeza dará:
Parece divertido, não? O Scarbo SVF1 é uma criação do californiano Joe Scarbo, engenheiro e mecânico automotivo que, depois de trabalhar em “diversas equipes de corrida e fabricantes de automóveis, incluindo a Volkswagen Motorsports”, fundou a Scarbo Performance em 2008. Aparentemente, o Scarbo SVF1 é seu primeiro produto. Dá para dizer que eles começaram bem?
A equipe da Scarbo Perforance é pequena — além de Joe Scarbo, há um designer, dois engenheiros mecânicos e um especialista na construção de carrocerias, todos com experiência na indústria automotiva de grande volume que decidiram tentar a sorte em sua própria empreitada.
O SVF1 foi apresentado em abril deste ano e, honestamente, gostaríamos de tê-lo descoberto antes. Joe Scarbo sempre foi um admirador dos carros de corrida clássicos e, para o SVF1, sua proposta foi direta: dar aos entusiastas de hoje a chance de passar pela experiência que os pilotos de Fórmula 1 de antigamente tinham ao pilotar seus carros, porém em uma máquina mais moderna, acessível e confiável.
Sua inspiração, mais especificamente, foi a Ferrari 312/67, segunda versão da Ferrari 312. O carro de Fórmula 1 apresentado em 1966 era equipado com um V12 de três litros (daí seu nome) derivado daquele usado nos protótipos Le Mans. Com ele, John Surtees venceu o GP da Bélgica em Spa Francorchamps em 1966. No ano seguinte, Chris Amon ajudou a Ferrari a conquistar o quinto lugar no campeonato (nos anos 60 a Scuderia ainda não havia se tornado uma potência da Fórmula 1) depois de subir ao pódio em quatro das 11 corridas da temporada ao volante da 312/67.
A carroceria de alumínio do SVF1 é feita de alumínio e repousa sobre uma estrutura tubular de aço. De acordo com a Scarbo, o desenho leva em consideração “cada detalhe da Ferrari 312/67” (será que o pessoal lá em Maranello não se incomoda?) e o ferramental usado é todo de época. O primeiro carro a ser concluído não foi pintado para que se possa admirar cada detalhe da construção, mas a Scarbo oferece dezenas de cores e esquemas de pintura clássicos.
O visual vintage continua por todo o carro. As rodas, que foram feitas especialmente para o SVF1 com desenho inspirado nas originais, medem 17×7” na dianteira e 17×9” na traseira, e são calçadas com pneus slick Advan de medidas 215/45 e 275/40, respectivamente. O arranjo da suspensão pushrod (que usa molas e amortecedores modernos) é similar ao dos anos 60, porém usa molas e amortecedores modernos. Até o coletor de escape, feito sob medida pela MagnaFlow, tem aspecto clássico — não é idêntico, mas remete ao pornográfico “ninho de cobras” da 312/67. Veja o original na foto abaixo:
O interior é espartano como o de um monoposto dos anos 60, limitando-se a volante, painel, alavanca de câmbio e um banco. A diferença é que o painel é digital, o volante é moderno e o banco, do tipo concha. É tudo o que se espera de um carro de pista, não é?
E então chegamos ao motor: a Scarbo optou pelos V8 LS3 porque eles são vendidos novos, como crate engine, pela própria Chevrolet. A versão mais potente do motor de 376 pol³ (6,2 litros) injetado entrega 532 cv e vem acoplado a uma caixa manual de cinco ou seis marchas (esta última, opcional). A Scarbo não dá dados de desempenho, mas dá para imaginar levando em consideração que o SVF1 com carroceria de alumínio pesa apenas 580 kg.
Existem, ainda, versões do motor com 436 cv e 486 cv — ou você pode simplesmente comprar o chassi rolante e instalar o motor que quiser. Também é possível optar por fibra de vidro ou de carbono no lugar do alumínio — o que ajuda a reduzir consideravelmente o preço final, ainda que o carro fique um pouco mais pesado. De qualquer forma, com 660 kg, a versão de fibra de vidro ainda é muito leve.
Com carroceria de alumínio, com motor de 532 cv e pronto para correr, o chamado SVF1 S+ custa US$ 172,4 mil, o que dá pouco mais de R$ 533 mil em conversão direta. A versão mais barata é a básica, com carroceria de fibra de vidro e motor de 436 cv, saindo por US$ 112,8 mil ou pouco mais de R$ 348 mil. Se quiser economizar mais, o chassi rolante com carroceria de fibra de vidro custa “módicos” US$ 79,5 mil, ou pouco mais de R$ 245 mil.
Bem, não dá para dizer que o SVF1 é um carro acessível, mas levando em conta que os carros de F1 dos anos 60 são verdadeiras preciosidades que precisam de cuidados especiais e, quando trocam de mãos, arrecadam cifras milionárias, imaginamos que existam entusiastas cheios da grana interessados no especial de track days da Scarbo. Não nos incomodaríamos com um test drive…