Aqui no Brasil a gente não anda podendo reclamar da falta de hot hatches no mercado. Temos uma boa seleção deles, para diversos gostos e bolsos — do brazuca Renault Sandero RS, com seu humilde, porém mais do que honesto motor 2.0 aspirado de 150 cv, ao estúpido A45 AMG com seu 2.0 turbo de inacreditáveis 381 cv. Claro, ainda nos faltam alguns caras que vem dando o que falar lá fora, como o Ford Focus RS e o VW Golf R, mas isto não nos impede de querer saber como eles andam, não é mesmo? Até porque, para quem quer e pode, as importações independentes estão aí…
O caso é que estes dois — o Focus RS e o Golf R — estão entre os melhores hot hatches da atualidade. Não somos nós quem estamos falando (porque, infelizmente, não andamos neles), e sim os caras da Evo — ambos os carros receberam a nota máxima nas avaliações dos caras. E também foram muito bem recebidos pela imprensa especializada lá fora.
Bom, não é para menos: ambos são as versões mais quentes de seus respectivos modelos. O Golf R já tem tradição — em 2002, ainda chamado R32 e baseado na quarta geração do hatch, deu início à linhagem dos Golf de tração nas quatro rodas. Agora, se o Golf R32 tinha um motor VR6 de 3,2 litros e 241 cv, o atual Golf R usa uma versão de 300 cv do motor 2.0 TSI — sinal dos tempos.
De qualquer forma, são 300 cv a 5.500 rpm, com 38,7 mkgf entre 1.800 e 5.500 rpm. O câmbio pode ser manual ou DSG de dupla embreagem, ambos de seis marchas.
O Ford Focus RS só adotou tração integral na geração mais recente — antes disso, a Ford garantia que seu hot hatch era capaz de lidar com 300 cv apenas com tração dianteira. Eles finalmente se renderam porque o modelo atual é mais potente, com 350 cv entre 2.000 e 4.500 rpm, além de 47,9 mkgf de torque a 2.000 rpm. O câmbio é manual de seis marchas.
A receita é parecida, mas fica claro que o Focus RS é um carro mais extremo que o Golf R. E ele também tem um truque: em vez de um diferencial traseiro convencional, como há no Volkswagen, o Ford é equipado com um engenhoso sistema que usa composto por um diferencial e duas embreagens, uma para cada roda traseira, arranjo batizado como Rear Drive Unit, ou RDU. Elas são ativadas eletronicamente e, na prática, permitem a vetorização do torque, ou seja, que a força seja distribuída individualmente entre as rodas conforme a necessidade.
A ficha técnica de ambos os modelos sugere uma boa vantagem para o Focus RS, é verdade — afinal, são 50 cv a mais. O Golf R, no entanto, é quase 50 kg mais leve: são 1.524 kg do Ford contra 1.476 kg. Mas como é que estas diferenças se traduzem na prática? Vejamos.
Como dá para ver, o Focus RS vence. Isto já era esperado, mas não com uma margem tão pequena, de apenas 0,2 segundos. A Evo reforça que as fabricantes não foram comunicadas a respeito do teste de arrancada, a fim de evitar que fossem feitas modificações nos carros, e que ambos estão exatamente como são vendidos ao público.
De acordo com os testes feitos pela Evo, o desempenho dos dois carros nem é tão distante assim. O 0-100 km/h é cumprido em 4,7 segundos pelo Focus RS, enquanto o Golf R leva 0,5 s a mais — 5,2 segundos. No quarto-de-milha, o Ford leva 13,5 segundos, enquanto o Volks leva 13,7 segundos. Já no 0-210 km/h, o Golf R leva a melhor, fazendo 23 segundos cravados enquanto o Focus RS precisa de 23,6 segundos. A velocidade máxima do Golf R é de 250 km/h, enquanto o Focus RS vai até os 265 km/h.
Mas agora, olha só esta arrancada entre o VW Golf R, o Focus RS e o Mercedes-Benz A45 AMG, feita pelos caras do Top Gear. O Focus RS é o último a cruzar a linha de chegada…
Isto só mostra que, com uma diferença tão pequena, talvez as condições em que foram realizadas as corridas tenham influenciado bastante o resultado. Além disso, na arrancada do Top Gear, o Focus RS é o único com câmbio manual. Na puxada da Evo, ambos têm câmbio manual de seis marchas.
Agora, estamos falando de hot hatches e, ainda que seja interessante saber qual deles é o mais veloz em linha reta, esta definitivamente não é a única coisa que importa — a experiência no geral conta muito.
Em comparativos realizados por outros veículos, como a Car and Driver gringa, pouca atenção foi dada aos números de aceleração e arrancada — ainda que, no comparativo (que também envolveu o Subaru WRX STi), o Focus RS também tenha levado a melhor, precisando de 4,6 segundos para chegar aos 100 km/h e cumprindo o quarto-de-milha em 13,4 segundos a 168 km/h, enquanto o Golf R levou 5,1 segundos para chegar aos 100 km/h e cumpriu o quarto-de-milha em 13,6 segundos aos mesmos 168 km/h. Viu só? É apenas um detalhe.
Eles também disseram que o Golf é o que tem o conjunto mais sofisticado. Enquanto o Focus RS exibe um comportamento mais selvagem — lembre-se, ele foi acertado com a ajuda de Ken Block e te até um “modo drift” —, o Golf é um carro mais maduro, que entrega seu desempenho de forma mais linear. E ainda o faz com mais eficiência que o Subaru WRX.
De acordo com eles, “a flexibilidade do 2.0 significa que ele passa a sensação de ser tão rápido quanto o Focus a velocidades do mundo real, sempre com fôlego e sem precisar de uma redução de marcha para voltar à vida”. Claro, o Focus RS venceu seu comparativo, mas eles foram bem claros em dizer que o desempenho do Golf R, somado à cabine de acabamento claramente superior e à discreta agressividade de suas linhas, tem muito para conquistar quem estiver em dúvida.
Já para o Top Gear, que comparou o Focus RS com o Honda Civic Type R, o Mercedes-Benz A45 AMG e o Golf R, o Volkswagen pode ter o conjunto mais equilibrado, mas é o Focus RS que consegue interagir melhor com o motorista — no fim, é ele que coloca o maior sorriso no seu rosto nas curvas. É uma impressão que acaba reproduzindo os números dos testes em linha reta: o Focus RS vence por pouco, mas todo mundo admite que, no fim do dia, talvez o Golf R seja o carro que você quer voltar dirigindo para casa depois de passar o dia brincando com o modo drift do Focus RS.
De qualquer forma, a gente quer saber qual deles você escolheria: o Ford Focus RS ou o VW Golf R? E por quê?